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POR LUSA 19/10/23
O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, defendeu hoje que o português já devia ser língua de trabalho nas Nações Unidas, considerando que se trata de "um grande desafio" que todos os países lusófonos devem vencer.
Em declarações à agência Lusa à margem da sessão de abertura do XI Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, na cidade da Praia, capital cabo-verdiana, o chefe do Governo considerou que "é o tempo de fazer com que os custos de implementação não sejam um obstáculo à língua portuguesa na comunidade das Nações".
"Eu creio que um dia chegaremos lá porque as justificações têm sido sempre financeiras, económicas, mas há de se ultrapassar", disse, admitindo que se trata de "um grande debate e um grande desafio".
Ulisses Correia e Silva lembrou o repto que foi lançado no discurso do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na Assembleia-geral da ONU, em setembro último, referindo que é uma ambição justa porque "há milhões de falantes com muita diversidade".
Questionado sobre o papel da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) neste objetivo, o primeiro-ministro de Cabo Verde considerou que, como representante dos diferentes países lusófonos, a organização "também deve fazer esta luta conjunta".
Na sessão de abertura do encontro de escritores, que tem como tema nesta edição "A língua portuguesa, expressão de liberdade, democracia e desenvolvimento municipal", o presidente do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), João Neves, referiu que a criação literária contribui para que o português "ganhe significado".
O responsável considerou que "a literatura contribui para a formação humana" porque a sua ligação à língua promove "a formação de cidadãos críticos", permitindo assim "um exercício de cidadania mais plena".
Discursando também na sessão de abertura do evento, o secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Vítor Ramalho, justificou a realização dos últimos encontros em Cabo Verde pelo seu património cultural e elogiou a "determinação terrível" dos cabo-verdianos "para ser o que são".
Após a sessão de abertura, foi feita uma homenagem ao escritor cabo-verdiano David Hopffer Almada.
Durante o evento foram ainda apresentados os vencedores da 8.ª edição do Prémio de Revelação Literária UCCLA-CMLisboa - Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa, atribuído 'ex aequo' a André Bazzoni Bueno (Brasil) e a Leonel Barbosa (Portugal).
A XI edição dos Encontros de Escritores de Língua Portuguesa, que termina na sexta-feira, conta com uma homenagem a Amílcar Cabral, que liderou as independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Nesta edição será debatida a "atualidade do pensamento" de Cabral, no âmbito dos 100 anos do seu nascimento, que se assinalam em 2024, e, na sexta-feira, o presidente da Fundação Amílcar Cabral, o ex-chefe de Estado cabo-verdiano Pedro Pires, fará uma intervenção sobre o legado do líder histórico.
Os Encontros de Escritores de Língua Portuguesa foram iniciados pela UCCLA em 2010, para a valorização da cultura, a difusão e promoção das literaturas dos países lusófonos e a troca de experiências entre escritores.
Na XI edição, participam os escritores Jacques dos Santos (Angola), António Baptista, Fátima Fernandes, Felisberto Vieira, José António dos Reis, José Maria Semedo, Lúcia Cardoso, Madalena Neves, Odair Varela, Vera Duarte e Vlademiro Furtado (Cabo Verde), Amadú Dafé (Guiné-Bissau), Sheila Khan (Moçambique) José Pedro Castanheira, José Pires Laranjeira e Leonel Barbosa (Portugal), Olinda Beja (São Tomé e Príncipe) e Pedro Casteleiro (Galiza).
Os encontros contarão com a presença do Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, no encerramento.
A UCCLA organiza os encontros juntamente com a Câmara Municipal da Praia, com o apoio da Academia Cabo-verdiana de Letras e da Sociedade Cabo-Verdiana de Autores e da SPA - Sociedade Portuguesa de Autores.
*** A Lusa viajou para a Praia a convite da UCCLA ***