segunda-feira, 29 de maio de 2017

POPULARES DE BOÉ SENTEM-SE ‘TRAÍDOS’ PELO PAIGC E ‘PENHORADOS’ PELO ESTADO GUINEENSE À GUINÉ-CONACRI

[REPORTAGEM] Os populares do sector de Boé, região de Gabú, no leste da Guiné-Bissau, dizem sentir-se traídos pelo PAIGC e penhorados pelo Estado guineense à república vizinha da Guiné-Conacri. A indignação dos populares daquele sector, considerado o berço da independência do país, foi registada pelo repórter do semanário ‘O Democrata’ que visitou aquela zona nos dias 13 e 15 do mês em curso.

Madina do Boé era tida como a maior base (zona libertada) do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no período da luta armada, depois de ter sido conquistado do exército português no dia 06 de Fevereiro de 1969. A retirada do exército português em Boé ficou conhecida, na história da luta de libertação do país, por Desastre do Cheche – Tchetche” que provocou a morte de 47 militares portugueses, na travessia do rio Corubal.

A conquista de Madina do Boé, pelos guerrilheiros, permitiu o partido (PAIGC) lançar as bases para edificação de um Estado. Foi em Madina de Boé concretamente na aldeia de Lucadjol, que fora proclamada a independência unilateral da Guiné-Bissau, a 24 de Setembro de 1973, por lendário Comandante João Bernardo Vieira (Cabi Na Fantchamna).

Madina do Boé é um dos maiores sectores do país em termos da extensão do território, tem uma população estimada em 10 878 (dez mil oitocentos e setenta e oito) habitantes, segundo o censo do ano 2009, do Instituto Nacional de Estatística (INE). Todavia, Boé é, neste momento, o sector mais pobre do país e é possível constatar tudo aquilo a olhos nus que faltam tudo naquela localidade, desde as infraestruturas rodoviárias que na prática não existem, centros de saúde qualificados, infraestruturas escolares e as estruturas que poderiam representar condignamente o Estado da Guiné-Bissau estão totalmente degradadas.

BOÉ – UM SECTOR HISTÓRICO SEM ESTRADA E SEM ESTRUTURAS DO ESTADO 


Alcatrão é uma coisa que apenas um número insignificante da população do sector de Boé conhece e nem sequer sabe-se se a estrada é asfaltada. Desde a independência do país até a data presente a estrada daquele sector e o resto da região, em particular aquela que liga a cidade de Gabú a Beli (sede do sector – a mais praticada), com uma distância de 85 quilómetros, nunca foi reabilitada.

A degradação da estrada leva o percurso da viagem a durar cinco horas para quem viaja da cidade de Gabú para Beli, mas este tempo é reservada apenas aos motoristas que conhecem a zona e sabem onde colocar as rodas.

E para quem pretende viajar com maior segurança terá que viajar numa viatura ‘Landcruser – 4×4’ ou num carro com igual ou maior capacidade. Para quem não conhece aquela zona o tempo da viagem pode durar mais de cinco horas ou simplesmente ficar naquela floresta ou cair-se no rio ou escolher morar nas rochas até que consiga ajuda.

Outra situação que contribuiu ainda mais no isolamento daquela zona, atualmente, é a questão da Jangada do Rio Tchetche que deixou de funcionar há mais de dois meses, por causa de uma avaria técnica. A Jangada facilitava a passagem das viaturas e das pessoas, ou seja, é a via de acesso mais fácil que faz a ligação da cidade de Gabú ao sector. Outra via que serve de alternativa é a do sector de Quebo (região de Tombali) através da aldeia de Cuntabani, mas é mais longa e é quase que dar volta.

O sector, de momento, está totalmente isolado. A única alternativa que resta aos populares daquela zona é deslocar-se de motorizada ou bicicleta para percorrer uma distância de mais de 30 quilómetros até ao rio Tchetche e depois travessá-lo de piroga. Na outra margem, a pessoa aluga uma motorizada ou continua a viagem de bicicleta como alguns habitantes fazem quando estão em situação de aflição.

Os responsáveis da referida Jangada prometeram trabalhar no sentido de ultrapassar o problema, mas de acordo com as informações apuradas momentos antes do fecho da edição, a situação continuava na mesma. Ou seja, a Jangada continuava ainda com a avaria e sem nenhuma solução a vista.

Atualmente para viajar até a Madina do Boé, já que a jangada que faz travessia no rio Tchetche não funciona, algumas pessoas optam pela via da Guiné-Conacri e particularmente a rota de ‘Porto Quatchi’. O referido porto é um rio que divide a Guiné-Bissau e a república vizinha da Guiné-Conacri, portanto ali há uma jangada colocada pelas autoridades Conacri-guineenses há muitos anos para facilitar travessia das viaturas e das pessoas. Por mais incrível que pareça a Jangada que faz travessia no ‘Porto Quatchi’ é puxada à mão para atravessar o rio.

Quatchi é uma aldeia do Sector de Pitche e encontra-se a 11 quilómetros da cidade de Pitche. Agora é a rota usada por alguns habitantes de Madina do Boé e responsáveis das Organizações Não Governamentais que operam naquela zona. Uma missão que deslocava para a Madina do Boé e na qual integrava o repórter saiu direto da cidade de Gabú, passa pelo sector de Pitche (30 quilómetros) e depois atravessa Porto Quatchi.

Após travessar o rio (Porto Quatchi), a missão seguiu até à aldeia de Fulamory (Guiné-Conacri), numa distância de sete quilómetros e a partir dali o motorista era obrigado a seguir a viagem pela antiga estrada usada na época colonial, bem como as antigas estradas movimentadas pelos guerrilheiros do partido, e que hoje servem de circulação para as motorizadas.

Em certas localidades, o motorista era condicionado a parar e ficar cerca de 30 minutos ou mais a espera de uma guia, porque é um terreno desconhecido, aliás, na prática não há estradas, são apenas rotas movimentadas atualmente pelas motorizadas. Em outras situações, quer motorista quer os passageiros descem, com catanas na mão, para ver se o terreno é transitável ou não.

Naquela zona não se consegue distinguir se é a Guiné-Bissau ou a Guiné-Conacri, porque não há nenhum vestígio de sinalização da linha fronteiriça e muito menos a presença de postos de controlo da fronteira. Uma das facilidades é que o terreno é totalmente dominado pela pedra, como também é o período da seca e os rios são todos secos. A viagem durou seis horas e meia naquela rota alternativa, numa viatura “Landcruser”.

Alguns motoristas preferem ir até a secção de Cumbidia (Cumbidja), sector de Koundara, região de Boké e a partir dali os passageiros podem alugar motorizadas e andar por vias das matas até chegarem aos seus destinos.

Relativamente à presença das estruturas do Estado, nota-se que, em todo o sector, apenas em Beli (sede do sector) vê-se a presença do Estado que também tem uma aparência de uma secção, aliás, nessa localidade as pessoas começam a perceber o nível de subdesenvolvimento a que foram submetidos num sector ignorado, completamente, pelos sucessivos governos que passaram pela governação desde a independência do país. As forças de seguranças colocadas em Beli são elementos da Guarda Nacional que, igualmente, enfrentam grandes dificuldades, em termos de condições logísticas e de meios de transporte.

Em Beli há sinais da presença do poder de Estado guineense. Um número insignificante de elementos da Guarda Nacional, alguns edifícios da então ONG ‘PADIP’, já em estado avançado de degradação, a residência do administrador do sector de Boé e o edifício do centro de saúde.

São apenas alguns dos sinais que se pode registar como presença das autoridades guineenses em Beli, tido como símbolo da liberdade e da edificação do Estado da Guiné-Bissau. Do resto não se consegue distinguir se é território nacional ou nas matas da Guiné-Conacri, aliás, uma situação confirmada pelos populares que dizem, em entrevista a ‘O Democrata’, sentirem-se mais cidadãos conacri-guineenses do que guineenses, porque é naquele território vizinho que resolvem os seus problemas básicos, tal como saúde e educação.

MULHERES GRÁVIDAS TRANSPORTADAS DE MOTORIZADAS PARA CENTRO DE SAÚDE DE CUMBIDJA 


A maioria da população do sector de Boé, em particular aquelas que fazem parte da secção de Vanduleide (uma secção constituída por cerca de 20 aldeias) e outras aldeias mais próximas da linha da fronteira, evacua os seus familiares doentes e as mulheres grávidas para o centro de saúde da secção de Cumbidia.

A secção de Cumbidia dista a 32 quilómetros da aldeia de Vanduleide e os habitantes usam os caminhos (estradas) nas matas para transportar doentes e mulheres grávidas. Algumas pessoas preferem evacuar os seus familiares doentes e mulheres grávidas para o centro de saúde de Beli, a 42 quilómetros daquela secção.

No período da seca a evacuação dos doentes para Beli é mais fácil, mas, mesmo assim, algumas pessoas preferem serviços sanitários do país vizinho, que segundo as informações apuradas, sentem-se mais à vontade. As despesas feitas, em termos de pagamento das consultas e na compra de medicamentos são feitas todas em Francos da Guiné.

Já no período das chuvas a evacuação para Beli torna-se bem mais complicada do que na época da seca, sobretudo no mês de Julho a Outubro, em que todas as travessias que ligam a secção de Vanduleide a Beli (sede do sector) são cortadas pela água e a maioria das tabancas ficam no isolamento total. Por isso, os populares são obrigados a evacuar os seus familiares doentes para a secção de Cumbidia.

A aldeia de Vanduleide tem uma população estimada em cerca de 500 habitantes e tem uma pequena casa de três quartos que se chamam de ‘Posto de Saúde’, mas ali não há nenhum enfermeiro e muito menos medicamentos. Os habitantes apresentaram uma pessoa que, de acordo com as suas explicações, é um agente da saúde comunitária formado apenas para dar os primeiros socorros e ajudar no seguimento das mulheres grávidas e acompanhar os agentes de saúde no caso da campanha de vacinação das populações sobre determinadas doenças.

Esses Agentes de Saúde Comunitária (ASC) apenas dão orientações às populações sobre a prevenção das doenças bem como orientam as mulheres grávidas no controlo médico. E não são admitidos a fazerem nenhum tratamento médico ou consultas.

Suleimane Camará, Agente de Saúde Comunitária de Secção de Vanduleide, explicou que no período da época das chuvas a sua tarefa torna-se mais difícil, porque conforme disse “somos obrigados a deslocarmo-nos para um determinado lugar ou aldeia que facilite a deslocação do enfermeiro a partir de Beli e convencer, ao mesmo tempo, os maridos a deixarem as mulheres grávidas serem consultadas no lugar escolhido, mas é um trabalho que conta com a ajuda de ‘matronas’ preparadas para assistir às grávidas no momento parto. Contudo, adiantou que as mulheres grávidas enfrentam situações de altos riscos de vida, decorrentes da falta de cuidados médicos adequados para fazer um parto seguro, pelo que as mulheres nestas circunstâncias são evacuadas imediatamente para o centro de saúde de Cumbidia ou da Fulamory, ambas aldeias da Guiné-Conacri.

“A evacuação é feita através de uma motorizada alugada pelo marido da grávida ou dos membros da família, em caso de o marido ou a família não disporem da motorizada. Antigamente, os doentes e grávidas eram carregados e transportados de uma maca até Cumbidia, mas atualmente usamos as motorizadas para evacuação das pessoas”, contou.

Camará disse que para transportar as mulheres grávidas que se encontram no trabalho do parto é preciso confeccionar uma espécie de balaio, que depois leva uma manta (cobertor) bem seguro para acomodar a grávida e acompanhante.

“A estrada não é boa, mas arriscamos a usar as vias das matas para que possamos chegar mais cedo. Imagina uma mulher grávida que está a sentir dores a viajar de motorizada numa distância de 32 quilómetros a procura do centro de saúde”, precisou.

Assegurou ainda que a criação da equipa dos agentes da saúde comunitária ajudou muito na redução das mortes de mulheres no parto, como também contribuiu na sensibilização das pessoas sobre a boa nutrição. Afiançou que já não se regista casos de mortes das mulheres no trabalho do parto, bem como grandes problemas da nutrição.

Sobre as doenças mais frequentes na secção de Vanduleide, Camará explicou que o paludismo é a doença mais frequente na época da chuva. No entanto, recordou que a campanha de distribuição de medicamentos de tratamento do paludismo que ocorreu, recentemente no país, ajudou na redução da doença de paludismo naquela secção.

Uma mulher que falou em nome de uma organização feminina de Vanduleide confirmou ao repórter as dificuldades enfrentadas pelas mulheres e, sobretudo no momento de trabalho do parto. Acrescenta ainda que “se uma mulher não consegue dar à luz em casa é transportada de motorizada num balaio para percorrer 32 quilómetros até a secção de Cumbidia”.

“Uma pessoa que está de parto para ser transportada em motorizada e percorrer o caminho das matas, muitas vezes altas horas até a Guiné-Conacri!…acho que ninguém consegue descrever a dor que a pessoa sente nessas circunstâncias. Já que não podemos ou não merecemos ter uma boa estrada, mas pelo menos seria digno que o governo nos ajudasse com um bom centro de saúde. Vanduleide é uma secção como a Cumbidia, mas não se pode comparar as duas. Aliás, é impossível, ou seja, nenhuma secção da Guiné-Conacri é comprável a da Guiné-Bissau, sobretudo nessa zona”, lamentou Cumba Djaló cheia de emoção.

No que concerne à falta da água potável, Djaló explicou que deparam-se com problemas de água potável (líquido precioso) e a maior parte dos poços tradicionais da aldeia está seca, porque foi construída há mais de 20 anos, por uma organização estrangeira, cujo nome não conseguiu recordar. Frisou que querem água potável, mas de momento a prioridade para as mulheres é a construção de um centro de saúde de referência para aliviar o sofrimento das mulheres, como também salvar a vida das pessoas.

Um professor da escola primária de Vanduleide confidenciou ao repórter que a população da Madina de Boé sente-se abandonada pelas autoridades guineenses, que nem sequer se dignaram resolver o problema das infraestruturas rodoviárias que facilitariam a deslocação das populações e vias de comunicação.

“O Estado abandonou-nos aqui e até os filhos deste sector que se destacaram, em Bissau, esqueceram também das suas raízes. A nossa subsistência diária resulta da lavoura que praticamos e das pequenas atividades comerciais exercidas por certas pessoas, que levam produtos de motorizadas para serem comercializados nas aldeias da Guiné-Conacri. Esforçamos aqui, porque na perspectiva autoridades guineenses não existimos, ou seja, não contam conosco”, precisou.

Mamadu Iaia Djaló recordou, neste particular, que antigamente apenas se via as casas cobertas de palhas, mas agora em cada aldeia da secção de Vanduleide é possível encontrar quatro ou mais casas cobertas do zinco.

“Isto é sinal que não estamos aqui sentados à espera das autoridades da Guiné-Bissau que nos venham socorrer em tudo. Os nossos produtos são vendidos em Francos da Guiné, até a nossa castanha de caju, porque os nossos produtos são vendidos aos comerciantes da Guiné-Conacri”, justifica o docente.

Quanto à situação do ensino, revela que a única escola que existe naquela aldeia é do ensino primário. Frisou que a escola é um pavilhão dividido em duas salas, mas com limitações de albergar grande quantidade de alunos.

Neste sentido, exortou às autoridades a preocuparem-se com o sector e ver a possibilidade de ampliar a capacidade da escola, como também criar condições que permitam os pais e encarregados da educação mandarem as suas crianças para a escola, por forma a estancar a ameaça da influência da cultura dos guineenses de Conacri naquela zona.

POPULAÇÃO DE BOÉ NÃO PERDOA PAIGC E O ESTADO GUINEENSE PELA TRAÍÇÃO

O Chefe de Secção de Vanduleide e antigo guerrilheiro do PAIGC, Safula Camará, explicou durante a entrevista que a população do sector de Boé em geral sente-se traída pelas autoridades guineenses, mas particularmente pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo-verde (PAIGC) que teve oportunidade de dirigir o país há muitos anos, e que simplesmente ignorou os sacrifícios daquele povo durante a guerra de libertação nacional.

Lembrou ainda que no período da luta tiveram a oportunidade de reunir-se muitas vezes com o líder da guerra, Amílcar Cabral e este não só pedia o apoio do povo de Boé na luta como também aconselhava-os a albergarem, com todo o sacrifício, os combatentes do partido que usavam Boé, como a zona libertada.

“Ainda lembro-me que numa das reuniões [Amílcar Cabral] nos aconselhou que depois da independência deixássemos que os nossos filhos frequentassem a escola, porque seria o futuro deles. E nós os adultos deveríamos apostar na produção agrícola, porque o Estado criaria as condições para a evacuação dos nossos produtos para o mercado. Também nos falara do projeto de transformar a Madina de Boé numa cidade de referência, depois da luta e que seria uma das prioridades do Estado da Guiné-Bissau”, recorda o antigo guerrilheiro, emocionado não conseguiu conter as lágrimas diante do repórter de O Democrata.

Sublinhou ainda que depois da independência, Estado guineense não conseguiu construir nenhuma escola na secção de Vanduleide e muito menos a estrada, portanto a escola primária que existe na aldeia foi construída pela comunidade local e o Estado ofereceu apenas zincos para sua cobertura.

Solicitado a pronunciar-se sobre a ausência das forças de segurança naquela zona que podia ajudar na garantia de segurança das pessoas e dos seus bens, informou que sobre o assunto de segurança, apenas contam com o apoio de Deus e das autoridades conacri-guineenses.

“Estamos numa zona de difícil acesso e talvez isso seja a razão dos ladrões de gados terem dificuldades de virem a essa zona. Também as autoridades da Guiné-Conacri ajudam-nos neste sentido, porque conseguimos firmar uma espécie de acordo simples. No fundo do acordo consta que ninguém deve vender gados bovinos ou suínos na Guiné-Conacri, sem documento ou declaração assinado pelo chefe de tabanca que declare e autorize a sua venda”, realça.

Informa, neste sentido, que a maioria dos elementos da Guarda Nacional colocados no sector se encontra em Beli e alguns estão no posto do controlo de Tchetche, junto ao rio.

Safula Camará disse que a população sente-se muito isolada, ou melhor, abandonada pelas autoridades, que no seu entender, não contam com a população de Madina de Boé como cidadãos da Guiné-Bissau. Acrescentou ainda que o isolamento levou-lhes a refugiarem para a Guiné-Conacri, onde conseguem fazer tudo como cidadãos daquele país vizinho.

“Imagina até aqui fazemos os negócios em Francos da Guiné, porque é a moeda que conhecemos. E também é para lá que levamos os nossos produtos para serem comercializados. Às vezes a situação que vivemos aqui leva-nos a questionar, será que somos abandonados ou mesmo penhorados para o governo da Guiné-Conacri, que nos acolhe muito bem”, lamentou o chefe da secção, para de seguida, criticar o PAIGC que, diz, não se lembra das promessas que tinha feito para com o povo de Boé.

“Se o PAIGC não se lembra do acordo tido com o povo de Boé, então deixemos o PAIGC com Deus!…” advertiu o chefe de Secção de Vanduleide, com lágrimas nos olhos.

Indagado sobre o acordo que o partido (PAIGC) tinha com os populares de Madina Boé, respondeu que não pode falar tudo sobre o acordo para além daquilo que mencionou no início da entrevista. Remete, no entanto, ao PAIGC e diz que alguns dirigentes do partido sabem e podem até lembrar daquilo que fora o acordo chegado entre as partes e que não cumpriu até agora.

“Desde a independência estamos nesta situação de abandono total e nenhum governo se lembrou de Boé, onde nasceu o Estado da Guiné-Bissau! Ouvimos que querem transformar Boé no parque natural, zona da proteção dos animais. É bom que saibam agora que, nós não somos animais! Somos pessoas como qualquer um que se sente pessoa, portanto queremos que a Madina de Boé seja construída, desenvolvida e transformada numa grande cidade e não transformá-la num parque de conservação dos animais”, aconselhou.

Por: Assana Sambú
Foto: AS
odemocratagb.com
Publicada por Bambaram di Padida 

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