Neste quadro de transições inacabadas, surge a figura de Domingos Simões Pereira, um tecnocrata formado no estrangeiro que regressa ao país nos anos 2000 com a promessa de modernização e eficiência. A sua ascensão dentro do PAIGC não foi fruto do acaso, mas de uma estratégia cuidadosamente delineada desde o VIII Congresso do partido em Cacheu, onde ele e o seu círculo mais próximo começaram a preparar o que viria a ser um autêntico projeto de apropriação pessoal de uma estrutura histórica.
Desde então, tornou-se evidente que Domingos Simões Pereira sacrificou os interesses políticos e estratégicos do PAIGC para salvaguardar os seus próprios interesses pessoais. O partido libertador foi transformado num trampolim para ambições individuais de poder e fortuna, numa lógica de instrumentalização das estruturas internas e de desvirtuamento do seu património político e moral.
O seu alegado apoio e escolha de Fernando Dias como candidato presidencial apoiado pelo PAIGC, longe de traduzir um gesto de humildade ou de compromisso com o partido, revelou-se, na realidade, uma tentativa de manter o controlo do PAIGC a favor dos seus interesses pessoais. Domingos Simões Pereira não abriu mão do poder; apenas adotou uma nova tática para preservar influência, garantindo que as estruturas do partido continuassem a servir objetivos que nada têm a ver com a unidade ou o legado libertador.
Mais grave ainda, é que Domingos Simões Pereira e o seu círculo nunca mostraram solidariedade institucional para com o candidato independente João Bernardo Vieira, membro do actual Bureau Político do PAIGC, nem coerência histórica com o grandioso legado libertador. Optaram, desde cedo, por uma via tribalizada e calculista, orientada por redes de interesse étnico e económico, em detrimento da unidade nacional.
O resultado é a transformação do PAIGC num corpo sem alma, incapaz de representar a diversidade e o espírito de sacrifício que um dia o definiram — e sem essa alma, o seu fim é apenas uma questão de tempo.
Hoje, é evidente que o projeto pessoal de Domingos Simões Pereira e da sua equipa, que assaltou e desvirtuou o PAIGC, terminou. O ciclo de manipulação interna, de instrumentalização das estruturas partidárias e de afastamento dos verdadeiros militantes históricos chegou ao seu limite. O partido encontra-se moral e politicamente exaurido por dentro, reduzido a um instrumento de promoção pessoal e de sobrevivência de um pequeno grupo.
A única solução digna, se ainda resta um mínimo de respeito e dignidade em Domingos Simões Pereira e nos seus aliados, é a demissão imediata e definitiva de toda a actual direcção, abrindo espaço a uma regeneração profunda que devolva ao PAIGC a sua essência libertadora e o seu papel histórico na construção da Nação guineense.
O tempo político de Domingos Simões Pereira chegou ao fim. E com ele, termina também a ilusão de que o PAIGC poderia renascer sob a tutela de um projeto pessoal, fechado e tribalizado.
A reconstrução da esperança guineense exige, mais do que nunca, a coragem de romper com o passado recente e restaurar o verdadeiro espírito de unidade nacional que Amílcar Cabral sonhou e legou às futuras gerações.

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