segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Será que Domingos Simões Pereira é um líder?

 Fonte: Eng Santos Pereira

Verdadeiro DSP,  Será que Domingos Simões Pereira é um líder? Há razões de duvidar, perante as últimas decisões tomadas pelo presidente do PAIGC.

Pressionado pela ala radical de seus apoiantes, especialmente na diáspora que exige de seus chefe que mostre firmeza face ao Presidente, DSP convoca uma marcha de protesto para o dia 8 de janeiro. Bravo! Finalmente, o Grande Líder decide agir após semanas de indecisão e silêncio! Mas, curiosamente, ele anuncia em seguida,  que precisa ir a Portugal para participar do Congresso do Partido Socialista Português. Um partido que o convidou apenas por  uma questão de formalidade.

Consciente de que sua atitude pode dar de falar (peço que enfrentam a polícia guineense enquanto eu estarei a tomar café em Lisboa com meus camaradas socialistas), seus apoiantes se envolvem em explicações confusas. Ele faz circular um comunicado pelo secretário nacional do PAIGC, para justificar sua viagem a Portugal em nome da amizade com o PS Português. No entanto, a atitude pouco amistosa do governo socialista aguando da dissolução do parlamento da Guiné-Bissau (o PS apoiou DSP como a corda sustenta o enforcado!) merecia que DSP não fosse tão apressado a se deslocar à Lisboa para se curvar diante de seus "amigos".

Mas a atitude de DSP não pode ser resumida apenas à covardia que o faz fugir antes mesmo da batalha começar. Para conhecer a personagem, é preciso compreender sua dimensão essencial, uma mente pervertida e manipuladora. Pois DSP espera secretamente que a marcha de 8 de janeiro se transforme em carnificina e confronto.

 Ele espera por isso, porque precisa desacreditar o Presidente Embalo. Senão, como entender o fato de, logo antes do anúncio da marcha de 8 de janeiro, ele ter pronunciado um discurso de firmeza, quase uma declaração de guerra, contra o regime de Embalo? Na verdade, ele deseja impor a violência no debate político, para depois criticar uma suposta violência de Estado que ele próprio teria incitada. Trate-se de por em marcha a sua estratégia pessoal e presidencial.

DSP não estará à frente  da marcha do dia 8 de janeiro. Para isso, precisaria de coragem, que ele não tem. No entanto, seus apoiantes  são chamados a levar com o bastão em seu lugar. Isso é Domingos Simões Pereira.

Olhando um pouco para trás, nada nos surpreende realmente nessa atitude. DSP sempre agiu assim. De maneira covarde e tortuosa ao mesmo tempo.

Em dezembro de 2019, perdeu a segunda volta  das eleições presidenciais. Começa parabenizando o vencedor por telefone na presença de representantes da comunidade internacional: Nações Unidas, CEDEAO, CPLP, União Africana. Mas nos bastidores, ele tenta uma batalha legal junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ) para fazer anular os resultados, o que ele sabe ser impossível. O essencial para ele era ganhar tempo e sabotar a instalação no poder do vencedor das eleições. Essa estratégia de sabotagem, pouco brilhante  e totalmente cínica, já vinha acompanhada de uma fuga para Portugal, onde ele pode agir sem temer que a justiça o responsabilize.

Na época, DSP esperava um duplo golpe. Além de embaraçar o vencedor das eleições, ele também queria neutralizar todos aqueles dentro do PAIGC que desejavam uma avaliação de sua gestão à frente do partido e dos resultados desastrosos das eleições legislativas e presidenciais. Ele cria nas redes sociais uma horda de apoiantes, em sua maioria na diáspora, que passam seus dias insultando todos aqueles que questionam sua gestão e contestam suas habilidades de líder "Sol Maior".

Há  três anos que esse exército das sombras mantém o país num clima semi-insurrecional. Domingos Simões Pereira não recua diante de nada. Para destruir Umaro Sissoko Embalo, ele decide estigmatizar o grupo étnico do qual este é originário. Durante uma entrevista na rádio Vaticano, ele teoriza abertamente sobre a ameaça que o grupo Fula/Fulani representa para a Guiné-Bissau e a sub-região. Ele esquece rapidamente que dezenas de milhares de Guineenses do grupo Fula votaram nele. DSP arrisca enfraquecer ainda mais o PAIGC, ao qual já fez perder as eleições. O pior é que essa estratégia contém os germes de uma divisão que pode levar à guerra civil, como já aconteceu em outros países. DSP não se importa. Tudo o que importa para ele é a sua insaciável ambição do poder que deseja satisfazer.

O erro do regime foi não denunciar essa estratégia e se deixar levar por uma escalada de violência e uma guerrilha política, mesmo quando o país precisava de serenidade para superar a crise econômica decorrente da pandemia de Covid. Crise cujos efeitos desastrosos sobre o preço do caju e o bolso dos Guineenses causaram  uma desafeição dos eleitores pelo campo presidencial e, portanto, a vitória da coligação Pai Terra Ranka liderada pelo PAIGC nas últimas eleições legislativas.

DSP alcançou seus objetivos por meios poucos nobres, mas conseguiu. Podemos dizer: "tudo isso é política". Talvez, mas a política também é a arte de liderar, a coragem de enfrentar a gestão de um país em dificuldades, a vontade de endireitar esse país. No entanto, DSP, em vez de agarrar o touro pelos chifres, prefere fugir como uma égua diante do obstáculo. Ele se recusa a liderar o governo, ao contrário de sua promessa de campanha. atribui-se  a direção do parlamento, transformando-o em uma máquina de guerra contra o Presidente, e prepara ativamente sua próxima eleição presidencial.

Tal é Domingos Simões Pereira.

O que sobre para ele apresentar aos eleitores que enganou tantas vezes? A moral, é claro! DSP seria um homem honesto! Infelizmente para ele, o caso dos 6 bilhões roubados do Tesouro destaca sua alma corrompida. Os fatos aqui também são límpidos. O ministro das Finanças do governo que ele instalou decide pagar empresas e indivíduos dívidas que o estado lhes devia. Os critérios de seleção dos beneficiários são totalmente arbitrários. Mas, mais grave, dois milhões e meio de euros foram pagos ao Senhor Armando Correia Dias (Ndinho), um empresário duvidoso, deputado do PAIGC, primo de DSP. Homem de confiança deste, esse indivíduo está envolvido em todas as transações ilegais do PAIGC sob sua liderança. O estado não lhe devia nada. São apenas faturas falsas permitindo que ele receba bilhões de francos CFA do Tesouro público. Já em 2019, o governo do PAIGC liderado por Aristides Gomes havia pago indevidamente a esse indivíduo um bilhão e duzentos milhões de francos CFA em três prestações. Uma de oitocentos milhões e duas de duzentos milhões cada. Hoje, o primeiro-ministro Geraldo Martins diz ignorar tudo sobre essas artimanhas. É difícil imaginar Suleimane Seidy, ministro das Finanças, tomando sozinho uma decisão tão grave num momento em que as contas públicas estão num estado catastrófico. 

Quanto ao DSP, ele se atrapalha em suas explicações. Começa justificando a operação, dizendo que é uma prática normal e que o governo anterior fez o mesmo. Ele até tem a audácia de se tornar advogado do ministro das Finanças. Na Assembleia Nacional Popular, onde este é convocado perante a representação popular, DSP surpreende a todos. Todo o país espera que a instituição de fiscalização que dirige faça seu trabalho e exponha o uso indevido dos fundos. DSP transforma-se num defensor inabalável do ministro. Ele faz declarações de extrema gravidade, cito suas palavras: "o ministro das Finanças não está acostumado a essas manobras, vou explicar em seu lugar a montagem dessa operação." DSP, advogado de defesa dos ladrões. Quem duvida, então, que o verdadeiro mandante desse ato criminoso e o principal beneficiário da operação seja Domingos Simões Pereira em pessoa.

Valores e princípios. Após esse escândalo, o Presidente Sissoko Embalo dissolve o parlamento em condições questionáveis que vão contra os dispositivos jurídico-constitucionais. Os apoiantes  de DSP esperam dele uma firmeza à altura dos eventos. No entanto, DSP tentará mais uma vez manobrar para salvar sua influência no governo. Ele dá sua aprovação para que Geraldo Martins seja mantido no seu cargo num governo de iniciativa presidencial. Ele fala de missão e sacrifício. A divisão das pastas entre as partes gera debate e se arrasta. A operação falha, e muitos líderes do PAIGC abandonam DSP e se alinham com o Presidente. Provavelmente, estão cansados de ver seu líder defender apenas o seu próprio interesse, seja financeiro ou político.

Aqui está esse péssimo estrategista, incapaz de assumir suas derrotas assim como suas vitórias, sozinho em sua mansão em Lisboa, bebendo vinho do Porto enquanto nós, Guineenses, pagamos a conta.

Por todas essas razões, DSP não é um líder. Ele carece das qualidades de um estadista, ou seja, convicções, coragem, honestidade. Ele também carece de qualidades de estrategista e visionário. Nunca se deve esperar muito de um homem confortavelmente instalado na sala de seu luxuoso apartamento lisboeta, enquanto seus apoiantes lutam por ele nas trincheiras insalubres da política-politiquice.

Carlos Pinto Lopes

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