Por DW.COM 06/06/23
No Senegal, após as violentas manifestações que abalaram o país nos últimos dias, a situação acalmou. Há pelo menos 500 detidos e 16 mortos. E o Governo tenta o diálogo para manter a ordem.
Nesta segunda-feira (05.06), a polícia senegalesa informou que pelo menos 16 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas nos confrontos entre as forças policiais e apoiantes do líder da oposição Ousmane Sonko.
Sonko, que ficou em terceiro lugar nas presidenciais de 2019, foi condenado há dias a dois anos de prisão, acusado por corrupção de menores. Mas os seus apoiantes, na sua maioria jovens, acusam o Governo de manobras para tentar impedir a sua candidatura às eleições presidenciais de 2024.
Em protesto, saíram às ruas na última quinta-feira envolvendo-se em confrontos violentos com as autoridades policiais.
Polícia e manifestantes entraram em confronto em Dakar nos últimos diasFoto: ZOHRA BENSEMRA/REUTERS
Pelo menos 500 detidos
Cerca de 500 pessoas estão detidas e a polícia denuncia a presença de forças ocultas entre os manifestantes.
"As pessoas detidas durante estes acontecimentos são sobretudo indivíduos armados e perigosos. Entre elas, identificámos também menores e pessoas de nacionalidade estrangeira. A maioria das pessoas detidas estava na posse de cocktails Molotov e de armas brancas, bem como de armas de fogo de grande calibre", de acordo com Ibrahima Diop, Diretor da Segurança Pública.
Num comunicado de imprensa, o principal movimento da sociedade civil do Senegal, 'Y'en a marre', disse que a polícia não se pronunciou sobre o que mais preocupa os senegaleses.
Entretanto, várias organizações nacionais e internacionais pedem o fim das tensões. Biram Bass é membro da sociedade civil baseada em Dakar e diz que a situação não é boa "para o futuro dos nossos filhos e dos nossos irmãos".
"É lamentável. Isso poderia ter sido evitado", afirma Bass.
Além dos protestos, houve pilhagens e depredação de infraestruturas públicas e privadasFoto: ZOHRA BENSEMRA/REUTERS
Diálogo contra a crise
O Presidente Macky Sall convocou uma reunião de emergência do seu partido. O Secretariado-Executivo Nacional e a Aliança para a República, o partido presidencial, deveriam reunir-se ontem, segundo a imprensa senegalesa.
O diálogo para resolver crise no país estava no topo da agenda do encontro.
A polícia nacional considera que as manifestações registadas no Senegal são subversivas à ordem pública e não uma forma de expressão de opinião.
Segundo Ibrahima Diop, "os ataques visam as infraestruturas essenciais do Estado, como as centrais de produção de água e eletricidade, os transportes públicos, bem como as empresas e os bancos".
Polícia diz que pelo menos 500 pessoas foram detidas nos últimos diasFoto: JOHN WESSELS/AFP
"O objetivo destes ataques é perturbar a atividade económica do país e criar um clima de terror entre os nossos cidadãos", reforçou.
Falta de oportunidades
Mas, para o cientista político senegalês Moussa Diau, a falta de oportunidades para os jovens pode ter atiçado os ânimos.
"Muitos jovens que estão desempregados. Por isso, à mínima oportunidade, atacam o património público e invadem lojas porque têm fome. É uma forma de vingança da sociedade contra a forma como o poder político governa", avalia.
Apesar de uma relativa calmaria, vários manifestantes reunidos na Praça da Independência, em Dakar, gritavam esta segunda-feira que a resistência à opressão é um "dever moral e cívico".
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