terça-feira, 27 de maio de 2025

Não, Trump, o "louco" Putin não mudou. A questão é: mudaste?

Por  cnnportugal.iol.pt, Análise de Matthew Chance, Correspondente Chefe de Assuntos Globais da CNN

“Sempre tive uma relação muito boa com Vladimir Putin, da Rússia, mas algo lhe aconteceu”, observou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, numa reação aos intensos ataques com drones e mísseis russos contra a Ucrânia durante o fim de semana.

Na verdade, o líder do Kremlin parece praticamente inalterado, apesar dos apelos da Casa Branca, continuando simplesmente a sua política de guerra de desgaste na Ucrânia, onde os ataques aéreos se tornaram uma ocorrência demasiado frequente.

A verdadeira questão é se Trump mudou — ou, pelo menos, se a sua atitude em relação a Putin começou a alterar-se — perante aquilo que parece ser um esforço cada vez mais infrutífero por parte dos EUA para alcançar a paz na Ucrânia, algo que Trump gabou-se de conseguir — não nos esqueçamos — em pouco tempo.

Emmanuel Macron, o presidente francês, acredita claramente que houve uma mudança de atitude, dizendo aos jornalistas no Vietname que a mais recente crítica de Trump ao seu homólogo russo, chamando-o de “completamente LOUCO”, significa que o presidente dos EUA “percebeu” que Putin “mentiu” sobre a guerra na Ucrânia, acrescentando que espera que as palavras de Trump se “traduzam em ações”.

Mas o histórico aponta noutra direção.

Esta é a sexta vez, durante o atual mandato, que Trump — que afirma constantemente manter uma relação sólida com Putin — manifesta publicamente impaciência ou mesmo irritação com o líder do Kremlin.

Em março, Trump revelou estar “furioso” com Putin por este se recusar a aceitar um cessar-fogo de 30 dias.

Em abril, exigiu: “Vladimir, PÁRA”, depois de um ataque com mísseis russos em Kiev ter causado a morte de uma dúzia de pessoas.

“Talvez ele não queira realmente parar a guerra e esteja apenas a enrolar-me”, refletiu Trump mais tarde.

As reprimendas de Trump têm sido rotineiramente acompanhadas de expressões de desilusão pessoal e ameaças de retaliação, como tarifas secundárias sobre “todo o petróleo que venha da Rússia” ou “mais sanções” não especificadas.

Questionado novamente, após a mais recente crítica a Putin, sobre se consideraria impor mais sanções à Rússia, Trump respondeu: “Absolutamente.”

Até agora, porém, não há sinais reais de que Trump esteja preparado para usar o substancial poder económico ao seu dispor para forçar o Kremlin a repensar a sua posição intransigente.

O mesmo não se pode dizer do Senado dos EUA, onde foi apresentado um projeto de lei bipartidário para dificultar o financiamento da guerra por parte da Rússia.

O projeto, agora apoiado por 81 senadores, propõe não apenas sanções mais diretas à Rússia, mas também sanções secundárias, como uma tarifa massiva de 500% sobre países que comprem energia russa.

Contudo, estas medidas — que afetariam seriamente uma economia russa já frágil e dependente do petróleo — são altamente controversas, pois puniriam igualmente a China, a Índia e a União Europeia, todos ainda grandes consumidores de energia russa.

É claro que é possível que Trump decida agora apoiar o projeto de lei — ou talvez uma versão suavizada do mesmo. Mas isso representaria uma mudança drástica de rumo, tendo em conta a sua relutância persistente em confrontar e punir o Kremlin até agora.

Mais provável, no entanto, é que a recente escalada da violência na Ucrânia venha apenas reforçar, para um presidente norte-americano já frustrado, a ideia de que é simplesmente incapaz de aproximar as partes beligerantes num futuro próximo.

E, no meio de toda a sua indignação e retórica agressiva contra Putin, Trump pode simplesmente optar por se afastar.

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