Por cnnportugal.iol.pt 10/04/23
Comunicações são diárias há vários anos, mas decisão "unilateral" terá interrompido os canais. Exercícios com envolvimento dos Estados Unidos ou um relatório inédito podem ser a causa da interrupção
Já são quatro os dias de total isolamento da Coreia do Norte, que continua sem responder às chamadas de rotina da Coreia do Sul. O governo de Seul afirma que Pyongyang não responde às tentativas de comunicação habitualmente feitas por um canal criado para o efeito.
O Ministério da Unificação da Coreia do Sul afirma que esta decisão “unilateral” cortou todas as linhas de comunicação desde quinta-feira, suspendendo uma tradição que pressupõe chamadas diárias entre os dois países às 09:00 e às 17:00, incluindo aos fins de semana.
“Enquanto monitoriza a situação, o governo está a analisar como responder [à decisão da Coreia do Norte]. Não vamos demorar muito a tomar uma posição oficial”, afirmou o porta-voz do Ministério da Unificação da Coreia do Sul, Koo Byoung-sam, citado pela agência de notícias Yonhap, acrescentando que esta é a primeira vez que todos os canais de comunicação são cortados desde outubro de 2021.
Um relatório inédito
As autoridades sul-coreanas continuam sem perceber as razões para a falta de resposta por parte de Pyongyang, mas acredita-se que será uma forma de protesto contra os exercícios militares que têm sido conduzidos pela Coreia do Sul e pelos Estados Unidos. Outra hipótese é o silêncio norte-coreano ser uma resposta ao apoio sul-coreano a uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que condenou as violações de Direitos Humanos na vizinha do Norte.
Depois de cinco anos a ficar à margem desta condenação, Seul voltou a assinar um documento que é renovado anualmente desde 2003, com críticas a Pyongyang.
Em paralelo, o próprio Ministério da Unificação da Coreia do Sul publicou um relatório com 450 páginas em que critica a postura do país nos cinco anos anteriores. O regresso a uma lei de 2016 que previa a publicação de um documento deste género todos os anos, mas que o então primeiro-ministro sul-coreano, Moon Jae-in, decidiu nunca tornar público, alegando a proteção de testemunhos vindos do outro lado da fronteira.
"O objetivo desta lei é contribuir para a proteção e a melhoria dos Direitos Humanos dos norte-coreanos através da procura pelo direito à liberdade e o direito à vida como dito na Declaração Universal dos Direitos Humanos e outras convenções de Direitos Humanos", pode ler-se no primeiro artigo da referida lei.
Esse mesmo documento refere que a Coreia do Norte nega direitos básicos como as liberdades de expressão, reunião ou movimento, entre outros. É sublinhado ainda que Pyongyang desrespeita o valor da vida humana ao conduzir execuções públicas de menores e de adultos, além de utilizar pessoas para testes médicos.
No início do relatório, a própria Coreia do Sul reforça que esta publicação "é significativa porque é o primeiro relatório publicado de acordo com o Ato de Direitos Humanos dos Norte-coreanos", naquilo que o governo de Seul garante ser uma "demonstração da determinação para fazer esforços e melhorar substancialmente os Direitos Humanos dos norte-coreanos".
Já a ONU, num documento que também visa o Irão, a Bielorrússia e a Síria, afirma que "adotou uma resolução que decidiu continuar a fortalecer, por um período de dois anos, a capacidade do Alto-comissariado para permitir a implementação de recomendações relevantes na sequência do relatório".
A hipótese militar
A outra hipótese, de uma resposta militar, ganha força por causa dos exercícios realizados pela Coreia do Sul e pelos Estados Unidos nas águas de Jeju, e que levaram a Coreia do Norte a avisar Washington e o seu "Estado-fantoche" de que o perigo aumentava, afirmando mesmo que o arsenal nuclear estava pronto para ser utilizado e deter "movimentos de guerra maníacos e imprudentes".
As manobras, que incluíram operações anti-submarino e de busca e salvamento com um porta-aviões norte-americano, decorreram ao largo da costa sudoeste da Coreia do Sul.
Além do porta-aviões nuclear USS Nimitz, participaram nos exercícios dois contratorpedeiros norte-americanos (USS Wayne E. Meyer e USS Decatur), três sul-coreanos (ROKS Yulgok YiYi, ROKS Choe Yeong e ROKS Daejoyeong) e um japonês (JS Umigiri).
Os exercícios "foram organizados para melhorar as capacidades de resposta da República da Coreia [nome oficial do Sul], dos EUA e do Japão contra as ameaças submarinas cada vez mais avançadas da Coreia do Norte, incluindo mísseis balísticos submarinos [SLBM]", de acordo com uma declaração do ministério sul-coreano da Defesa.
Estas manobras surgiram pouco depois de Pyongyang ter anunciado dois testes de um drone submarino nuclear que pode alegadamente gerar tsunamis radioativos para atingir frotas e portos.
Estabelecidos para tentar evitar um escalar da situação na península coreana, os canais de comunicação foram interrompidos pela Coreia do Norte entre 2020 e 2021, depois de ativistas sul-coreanos terem enviado, através de balões, folhetos críticos do presidente norte-coreano, Kim Jong-un.
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