sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Cientistas mantêm Relógio do Juízo Final em 100 segundos para a 00h00

© Getty Images

Notícias ao Minuto  21/01/22 

Os cientistas que gerem o designado Relógio do Juízo Final ('Doomsday Clock') decidiram mantê-lo a cem segundos da meia-noite para salientar a gravidade da situação internacional, em função de várias crises existenciais.

Este indicador é usado para ilustrar a vulnerabilidade do mundo a uma catástrofe oriunda das armas nucleares, alterações climáticas e tecnologias disruptivas em outros domínios.

Os autores do documento, publicado pelo Boletim dos Cientistas Atómicos (BCA), salientaram que a alteração da liderança política nos EUA em 2021 alimentou esperanças de que a corrida para a catástrofe pudesse ser interrompida.

Porém, esta mudança, só por si, foi "insuficiente para reverter as tendências negativas na segurança internacional", que se alongaram e continuaram através do horizonte de ameaças em 2021.

Assim, as relações tensas dos EUA com a Rússia e a China estão a ter desenvolvimentos, designadamente, no domínio das armas, que "podem marcar o início de uma nova corrida às armas nucleares".

Acresce "a imensa distância entre os compromissos para a redução a longo prazo das emissões de gases com efeito de estufa e as ações que estão a ser tomadas no curto e médio prazo.

Depois, a resposta mundial à pandemia do novo coronavirus permanece "inteiramente insuficiente".

A este propósito, no documento apontou-se: "Os planos para uma rápida distribuição global de vacinas colapsaram, o que deixou os países pobres largamente por vacinar e permitiu que novas variantes do coronavirus ganhassem terreno".

E, para mais, "além da pandemia, preocupantes lapsos na biossegurança e tornaram claro que a comunidade internacional precisa de dar uma atenção séria à gestão da investigação biológica à escala global".

Ainda a este propósito, os autores realçam que "o estabelecimento e desenvolvimento de programas de armas biológicas marca o início de uma nova corrida às armas biológicas".

Por outro lado, "apesar do novo governo do EUA ter restabelecido o papel da ciência e das provas na política pública, a corrupção do ecossistema de informação manteve-se em 2021".

Considerando este ambiente de ameaças diversificado, em que alguns desenvolvimentos positivos tiveram por contrapartida tendências negativas, preocupantes e em intensificação, o BCA considerou que o mundo não está mais seguro do que em 2020, o que os levou a manter o 'Doomsday Clock' nos 100 segundo ara a a meia-noite.

Esta decisão, porém, não sugere, "de forma alguma" que a situação na segurança internacional estabilizou. "Pelo contrário", afirmaram, de forma explícita.

"O Relógio permanece o mais próximo eu alguma esteve do apocalipse terminal da civilização, porque o mundo permanece em um momento extremamente perigoso. Em 2019, designámos esta situação como 'o novo anormal', o que infelizmente persiste", alertaram.

Em termos gerais, descreveram a situação da seguinte forma: "No ano passado, apesar de esforços louváveis de alguns líderes e do público, as tendências negativas nas armas nucleares e biológicas, nas alterações climáticas e uma variedade de tecnologias disruptivas -- exacerbadas por uma eco esfera de informação corrompida, que mina processos racionais de tomada de decisão -- mantiveram o mundo à beira do apocalipse".

Recuar deste abismo, na sua opinião, requer várias medidas, como que EUA e Federação Russa limitem as armas nucleares, que EUA e outros acelerem a descarbonização, que EUA e outros trabalhem na Organização Mundial de Saúde para reduzir os riscos biológicos de todo os tipos, que os EUA persuadam aliados e rivais assumirem o princípio de não serem os primeiros a usar a arma nuclear, que a Federação Russa regresse ao Conselho NATO-Rúsia, que os investidores troquem as aplicações em projetos de combustíveis fósseis por outros amigos do ambiente, que os cidadãos de todo o mundo questionem os seus políticos, a todos os níveis, sobre o que vão fazer para resolver as alterações climáticas.

O BCA foi fundado em 1945 por Albert Einstein e cientistas da Universidade de Chicago que ajudaram a desenvolver as primeiras armas atómicas, no Projeto Manhattan, e criou o 'Doomsday Clock' dois anos depois, usando a imagem do apocalipse (meia-noite) e o idioma contemporâneo da explosão nuclear (contagem para zero), para ilustrar a gravidade das ameaças para a humanidade e o planeta.

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