quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Cientistas medem pela primeira vez ‘velocidade da morte’ numa célula

O fim chega em ondas.


Um grupo de cientistas norte-americanos, da Universidade de Stanford, observou pela primeira vez como a morte se movimenta por uma célula, e mediu o velocidade a que o ‘fim’ viaja.

Os sinais que despoletam a apoptose – um tipo de suicídio celular, conhecido também por processo programado de destruição celular (PDC) – consistem num movimento em cascata, que funciona como uma onda a atravessar a dita célula, a uma velocidade de três micrómetros (0,003 milimetros) por minuto.

O processo de sinalização em onda é chamado de ‘onda desencadeadora’. Para ter uma ideia, imagine o começo de um fogo numa floresta, espalhando-se de um ponto para outro, ou um circulo de dominós a cair uns por cima dos outros.

A apoptose é o processo durante o qual o corpo se liberta das células velhas e desnecessárias (tais como aquelas que contém mutações capazes de se transformarem em algum tipo de cancro ou numa infeção), sem danificar o tecido circundante.

Para assistirem ao processo de apoptose numa célula, os cientistas utilizaram os ovos mortos provenientes de sapos, nos quais encontraram caspases ativas – tipos de enzimas que desempenham um papel crucial no processo da morte celular.

Os cientistas aperceberam-se que assim que se inicia o processo de morte, esses caspases ficam ativos. Espalhando-se por sua vez para outros caspases nas redondezas, e daí em diante (como se se tratasse de um castelo de cartas derrubado ou dos tais dominós), até que a célula se auto aniquile por inteiro.

"Este trabalho é mais um exemplo de como a natureza usa 'ondas desencadeadoras - vezes e vezes sem conta. Neste caso o movimento em cascata apresenta uma beleza ímpar para retratar um processo tão avassalador como a morte", referiu o bioquímico James Ferrel, um dos investigadores envolvidos na experiência inédita. 

Os cientistas esperam ainda entender, por meio de pesquisas subsequentes, como é que essas ‘ondas desencadeadoras’ operam no sistema imunitário humano, de modo a determinarem se o mecanismo tem igualmente um papel significativo no alastramento da apoptose no corpo em geral.

A pesquisa foi publicada no periódico Science

NAOM

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