Por LUSA 02/11/20
A missão de observação eleitoral conjunta do centro Carter e do instituto EISA disseram hoje, em Abidjan, que as eleições presidenciais de sábado na Costa do Marfim "não foram credíveis" devido a numerosos incidentes e ao boicote da oposição.
"O contexto político e de segurança não permitiu a organização de uma eleição presidencial competitiva e credível", de acordo com a missão de observação conjunta do Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África (EISA) e do Centro Carter, uma organização não-governamental (ONG) que trabalha na promoção da democracia e dos direitos humanos e na resolução pacífica de conflitos.
As duas organizações divulgaram hoje um relatório sobre o escrutínio, quando se aguarda ainda a divulgação dos resultados globais e numa altura em que os dados parciais divulgados pela Comissão Eleitoral Independente (CEI) dão a liderança ao Presidente cessante, Alassane Ouattara, cuja candidatura é considerada inconstitucional pela oposição.
"O processo eleitoral excluiu um grande número de forças políticas da Costa do Marfim e foi boicotado por parte da população num ambiente de segurança volátil", de acordo com o mesmo relatório.
Quarenta das 44 candidaturas presidenciais foram invalidadas pelo Conselho Constitucional, e a oposição tinha apelado à "desobediência civil" e ao boicote, denunciando a candidatura do Presidente Ouattara a um controverso terceiro mandato.
"A votação foi marcada por um grande número de incidentes. Em seis das 17 regiões observadas (a Costa do Marfim tem 31 regiões) a organização do escrutínio foi gravemente afetada, com pelo menos 1.052 mesas de voto que não puderam abrir", aponta-se no relatório.
Foram criadas cerca de 22.000 mesas de voto em todo o país, de acordo com a Comissão Eleitoral.
No dia da votação, registaram-se pelo menos cinco mortes em numerosos incidentes e confrontos que afetaram principalmente a metade sul do país, de acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP).
No domingo, ainda segundo a AFP, quatro pessoas da mesma família morreram em consequência de um incêndio na sua casa e na sequência de tumultos em Toumodi, a cerca de 40 quilómetros de Yamoussoukro (centro), segundo o testemunho de habitantes locais.
Os observadores disseram ainda que "a taxa de participação observada é mista e mostra fortes disparidades, com uma taxa elevada no norte, baixa no centro e oeste e muito variável no sul do país".
"Estes problemas ameaçam a aceitação dos resultados pela população e a coesão do país", adverte a missão de observação.
Cerca de 30 pessoas tinham morrido em incidentes violentos desde o anúncio, em agosto, da candidatura do Presidente Ouattara.
O ambiente continua tenso na Costa do Marfim, onde se receia uma nova crise pós-eleitoral, dez anos após as eleições presidenciais de 2010, em que 3.000 pessoas morreram, na sequência da recusa do então presidente Laurent Gbagbo em admitir a derrota para Ouattara.
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