A maioria dos medicamentos vem da China e da Índia
Entre dezembro de 2014 e agosto de 2015, mais de mil pessoas chegaram com uma doença desconhecida aos centros de saúde da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras na província de Ituri, no nordeste da República Democrática do Congo.
Os médicos suspeitaram que se tratava de uma epidemia de meningite, face aos sintomas. Só depois de semanas de análises é que se chegou à conclusão que os sintomas eram causados por uma versão falsificada do calmante Diazepam. 11 pessoas morreram, incluindo cinco crianças com menos de cinco anos.
O caso, um dos mais graves dos últimos anos, é apenas um dos muitos que estão no arquivo da Organização Mundial de Saúde (OMS). Desde 2013, a OMS compila casos de medicamentos de má qualidade ou falsificados e emite alertas sempre que necessário.
Venda de medicamentos num mercado em Abidjan, na Costa do Marfim |
Pernette Bourdillon Esteve, encarregada da análise de dados na OMS, diz conhecer as razões que explicam essa situação. "Os medicamentos de qualidade inferior ou falsificados aparecem sobretudo em locais onde há má governação ou falta de capacidade técnica", explica. Esses fatores afetam principalmente os países de baixo e médio rendimento, que incluem muitos países africanos.
Um em cada dez medicamentos é falso
Para descobrir a magnitude e as consequências da distribuição de medicamentos de baixa qualidade, a OMS analisou mais de 100 casos e bancos de dados. Os resultados da investigação são alarmantes: em média, 10,5% dos medicamentos em países de baixo e médio rendimento são de qualidade inferior ou falsificados.
Uso de medicamentos falsos para tratar infeções pulmonares em crianças causa mais de 20 mil mortes por ano
Os medicamentos mais falsificados são tratamentos anti-malária e antibióticos. E isso tem consequências graves. A malária e infeções bacterianas, como a pneumonia infantil, já são curáveis há muito tempo, desde que seja usado o medicamento correto.
Mas todos os anos, os medicamentos falsos ou de má qualidade levam à morte de até 267 mil pessoas por malária e cerca de 20 mil mortes por infeções pulmonares em crianças na África subsaariana, revela o estudo da OMS.
Lucros à custa de vidas
Wiltshire Johnson, chefe da Agência de Medicamentos da Serra Leoa, conhece há muito tempo a dimensão do problema. "Quando a pobreza domina, como na África subsaariana, as pessoas tendem a escolher aquilo que é mais barato", explica. Comerciantes sem escrúpulos tiram proveito da situação, obtendo produtos de má qualidade ou falsificados de fontes ilegais e vendendo-os a consumidores menos atentos.
Para combater este fenónomeno, a agência da c, diz Johnson em entrevista à DW. Mas é difícil lutar contra o tráfico de medicamentos vindos do exterior, ressalta. "Os controlos fronteiriços não são suficientemente fortes para monitorizar todas as transações", explica.
Laboratórios controlam a
qualidade dos medicamentos
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No combate imediato aos medicamentos falsos, é necessário, antes de mais nada, educar a população local. "Primeiro que tudo, é preciso que as pessoas estejam informadas sobre os riscos de usar estes medicamentos", afirma. Além disso, os casos devem ser reportados às autoridades nacionais.
Solução criativa no Gana
Resta, no entanto, outro problema. "Acho que não sei distinguir um medicamento falso de um verdadeiro", diz um residente na capital do Gana, Accra. "Isso é preocupante, porque poderia comprar uma falsificação que prejudicaria a minha saúde", acrescenta.
Uma nova empresa ganesa está a tentar resolver esta questão. Com sede em Accra, a empresa de tecnologia mPedigree ajuda as farmacêuticas a fabricar produtos à prova de falsificação, de modo a que os pacientes consigam distinguir os medicamentos falsos dos verdadeiros. Basta ter um celular, explica o estratega da mPedigree, Selorm Branttie, em entrevista à DW.
"As pessoas compram um remédio, raspam um código na caixa, enviam-no para um número específico via SMS e, em cinco a sete segundos, recebem a confirmação se o produto é falsificado ou verdadeiro", afirma.
A operar em 12 países africanos, a empresa diz que 75 milhões de pessoas já beneficiaram, direta ou indiretamente, desta tecnologia. Mas o caminho para uma maior segurança no fornecimento de medicamentos em África ainda é longo.
Fonte: DW
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