© Mohammed Hamoud/Getty ImagesPOR LUSA 04/03/24
Três cabos submarinos do Mar Vermelho, que fornecem Internet e telecomunicações a todo o mundo, foram cortados naquela via marítima que continua a ser um alvo dos rebeldes Hutis do Iémen, indicou hoje a empresa responsável.
Numa declaração, a HGC Global Communications, com sede em Hong Kong, reconheceu os cortes, mas não disse os que causou.
O facto de os cabos serem alvo da campanha dos Hutis, que os rebeldes descrevem como um esforço para pressionar Israel a pôr fim à guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, tem gerado preocupações. No entanto, os Hutis negam ter atacado os cabos.
Embora o transporte marítimo mundial já tenha sido perturbado através do Mar Vermelho, uma rota crucial para o transporte de carga e de energia da Ásia e do Médio Oriente para a Europa, a sabotagem das linhas de telecomunicações poderá agravar ainda mais a crise que dura há meses.
As linhas cortadas incluem a Ásia-África-Europa 1, a Europe India Gateway, a Seacom e a TGN-Gulf, indicou a HGC Global Communications.
A empresa indicou que os cortes afetaram 25% do tráfego que atravessa o Mar Vermelho, rota que, descreveu, é também "crucial" para a transferência de dados da Ásia para a Europa.
A HGC Global Communications, que indicou ter recomeçado já a reencaminhar o tráfego, descreveu a linha Seacom-TGN-Gulf como sendo dois cabos separados, quando na realidade é um só na zona do corte, de acordo com Tim Stronge, um especialista em cabos submarinos da TeleGeography, uma empresa de investigação do mercado das telecomunicações, com sede em Washington.
Em resposta a perguntas da agência noticiosa Associated Press (AP), a Seacom disse que os testes iniciais indicam que o segmento afetado se encontra dentro das jurisdições marítimas do Iémen, no sul do Mar Vermelho" e que estava a reencaminhar o tráfego que conseguiu alterar, embora alguns serviços continuassem inativos.
A Tata Communications, parte do conglomerado indiano e responsável pela linha Seacom-TGN-Gulf, disse à AP que "iniciou ações corretivas imediatas e adequadas" após o corte da linha, investindo em vários consórcios de cabos para reencaminhar os serviços.
No início de fevereiro, o governo internacionalmente reconhecido do Iémen no exílio avisou que os Hutis planeavam atacar os cabos. As linhas pareciam ter sido cortadas a 24 de fevereiro, com a organização NetBlocks a constatar que o acesso à Internet no Djibuti, país da África Oriental, sofreu interrupções dois dias depois. A Seacom serve o Djibuti.
Mas, por seu lado, os Hutis negaram ter visado os cabos e culparam as operações militares britânicas e norte-americanas pelas interrupções, não apresentando, contudo, provas para apoiar a alegação, tal como já fizeram no passado.
"As hostilidades no Iémen por parte das unidades militares navais britânicas e norte-americanas causaram uma interrupção nos cabos submarinos no Mar Vermelho, o que pôs em risco a segurança das comunicações internacionais e o fluxo normal de informações", alegou o Ministério dos Transportes controlado pelos Huthis em Saná, a capital do Iémen controlada pelos rebeldes.
Desde novembro, os rebeldes têm atacado repetidamente navios no Mar Vermelho e nas águas circundantes por causa da guerra entre Israel e o Hamas. Esses navios incluíam pelo menos um com carga destinada ao Irão, o principal apoiante dos Hutis, e um navio de ajuda que mais tarde se dirigiu ao Iémen.
Apesar de mais de mês e meio de ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos, os Hutis continuam a ser capazes de lançar ataques significativos, que incluem o perpetrado em fevereiro a um cargueiro que transportava fertilizantes, o Rubymar, que se afundou no sábado depois de ter andado à deriva durante vários dias, e o abate de um 'drone' (aeronave não tripulada) norte-americano no valor de dezenas de milhões de dólares.
Os Hutis insistem que os seus ataques vão continuar até que Israel pare as suas operações de combate na Faixa de Gaza, que enfureceram o mundo árabe em geral e fizeram com que os rebeldes ganhassem reconhecimento internacional.