Assimi Goïta (à esquerda) que vai tomar posse como vice-presidente, e Bah N’Daw (à direita) que vai tomar posse como Presidente interino de transição esta sexta-feira, no Mali. REUTERS/Amadou Keita
Texto por: Carina Branco RFI 25/09/2020
Esta sexta-feira, no Mali, vão tomar posse o novo presidente de transição, o general na reserva Bah N’Daw, e o novo-vice-presidente, o coronel Assimi Goïta, chefe da junta que depôs o ex-chefe de Estado Ibrahim Boubacar Keïta a 18 de Agosto. A cerimónia acontece perante a expectativa do levantamento das sanções da CEDEAO.
É uma tomada de posse que abre uma nova etapa no Mali, depois do golpe de Estado de 18 de Agosto. O novo Presidente interino, o general na reserva Bah N’Daw, e o novo-vice-presidente, o coronel Assimi Goïta, chefe da junta militar que depôs o ex-chefe de Estado, iniciam um período de transição que deve durar 18 meses e culminar com novas eleições. Para já, vai permitir a nomeação do primeiro-ministro pelo novo chefe de Estado, algo que pode levar ao levantamento das sanções da CEDEAO, visto que a organização reclama um chefe do executivo civil.
A nomeação pode acontecer ainda durante esta sexta-feira e assim permitir o levantamento do embargo, até porque o mediador da CEDEAO, Goodluck Jonathan, está há dois dias em Bamako e confirmou que vai participar na tomada de posse, antes de deixar o país esta tarde. Porém, na véspera, várias fontes não excluíam que sejam necessários ainda alguns dias para conhecer o nome do novo chefe do governo de transição.
Outro ponto sensível é a versão definitiva da carta de transição, já que a CEDEAO considerou, inicialmente, que esta conferia poderes presidenciais ao vice-presidente, o que significaria, na prática, manter o país nas mãos da junta militar. Por outro lado, o Presidente é um general na reserva, considerado legalmente como civil.
Esta quinta-feira, o mediador da CEDEAO e antigo Presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, reuniu-se com o chefe da junta militar, o coronel Assimi Goïta, e com o novo presidente Bah Ndaw. Na semana passada, a CEDEAO voltou a exigir a nomeação imediata de um Presidente e de um primeiro-ministro de transição civis.
Bah Ndaw, de 70 anos, é um coronel na reserva, foi ministro da Defesa alguns meses em 2014 e vai ser ele a nomear o novo chefe de governo, de acordo com o plano de transição da junta militar. Com a nomeação de um antigo militar para a presidência e do chefe da junta para a vice-presidência, os militares asseguram um importante peso no período de transição, apesar de a CEDEAO insistir na necessidade de civis no poder.
A junta considera que com um coronel na reserva e com a nomeação de um primeiro-ministro- que os observadores apontam como devendo ser civil - estão preenchidas as exigências da CEDEAO. Nesse sentido, pedem o levantamento das sanções, nomeadamente o fim do embargo sobre as trocas comerciais e financeiras que abalam uma economia frágil. A presença do mediador da CEDEAO na cerimónia da tomada de posse é vista como um sinal favorável.
A CEDEAO conseguiu que os militares deixassem o ex-Presidente deposto sair do país para seguir um tratamento hospitalar no estrangeiro, mas pede, também, a libertação de todos os governantes detidos pelos militares durante o golpe, como, por exemplo, o ex-primeiro-ministro Boubou Cissé.
O investigador moçambicano Régio Conrado considera que o presidente nomeado é a figura consensual porque "do ponto de vista legal, é de facto uma figura civil, mesmo que do ponto de trajectória profissional seja um coronel na reserva". O que se vê é que "o Mali está neste momento sob o controlo profundamente cerrado das Forças Armadas".
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