Estão cada vez mais a aparecer novas infeções de cariz sexual, também conhecidas por infeções sexualmente transmissíveis (ISTs).
A BBC News apresentou num extensa reportagem quatro bactérias que podem em breve tornar-se ameaças sérias para a saúde pública.
1. Neisseria meningitidis
A Neisseria meningitidis (também chamada meningococo) pode causar meningite invasiva, uma infeção potencialmente mortal para o cérebro e membranas protetoras da medula espinhal.
Mas cada vez mais ela também é apontada como causadora de infeções urogenitais.
Um impressionante estudo realizado nos anos 70, descreveu como um chimpanzé macho contraiu uma infeção na uretra após passar a bactéria do nariz e da garganta para o próprio pénis, através de autofelação, ou seja, da prática de sexo oral em si mesmo (um comportamento comum nesses animais, segundo esclareceram os autores do estudo).
Aproximadamente entre 5% e 10% dos humanos adultos também carregam a N. meningitidis na parte de trás do nariz e da garganta.
Estudos sugerem ser possível potencialmente transmitir a bactéria para os parceiros através de sexo oral, beijos profundos ou outros tipos de contacto íntimo.
Os investigadores ainda não estão seguros sobre qual dessas vias de transmissão tem causado surtos de formas invasivas da doença entre homens gays e bissexuais sobretudo na Europa, Canadá e Estados Unidos.
2. Mycoplasma genitalium
A Mycoplasma genitalium, uma das menores bactérias conhecidas, está cada vez mais a tornar-se uma IST alarmante.
Identificada nos anos 80, a bactéria infecta atualmente cerca de 1% a 2% das pessoas e é especialmente comum em adolescentes e adultos jovens.
A infeção por M. genitalium, embora muitas vezes assintomática, pode ser confundida com outras infeções sexualmente transmissíveis, como clamídia ou gonorreia, com irritação persistente da uretra e do colo do útero.
Devido ao poder de desencadear uma doença inflamatória pélvica no sistema reprodutor feminino, a infeção tem sido associada a infertilidade, aborto espontâneo, parto prematuro e até à morte do feto.
O uso de preservativo pode ajudar a prevenir a infeção.
Entretanto, investigadores têm alertado sobre a crescente resistência do M. genitalium ao tratamento com os antibióticos azitromicina e doxiciclina.
"A minha preocupação com esse micro-organismo é que, à medida que este se torne mais resistente, tornar-se-à igualmente mais prevalecente", diz Matthew Golden, diretor do Programa de HIV/DST de Saúde Pública de Seattle e King County, nos Estados Unidos.
3. Shigella flexneri
A shigelose (ou disenteria de Shigella) é transmitida pelo contacto direto ou indireto com fezes humanas.
A infeção causa fortes dores estomacais e diarreia com sangue e muco, que ajudam a perpetuar a transmissão das bactérias.
Embora a doença seja mais comummente associada a crianças pequenas e a pessoas que viajam por países em vias de desenvolvimento, os cientistas começaram a documentar casos de shigelose em homens homossexuais e bissexuais nos anos 70.
Os cientistas acreditam que basicamente a S. flexneri aproveitou-se de um novo nicho para a transmissão através do sexo anal e, desde então, provocou vários surtos em todo o mundo.
Demetre Daskalakis, vice-comissário do Departamento de Saúde e Higiene Mental da cidade de Nova Iorque, diz que esta doença sexualmente transmissível está rapidamente a tornar-se resistente à azitromicina, que também é usada para tratar a gonorreia.
Ele ressalta que, preocupadas com o potencial da disenteria de Shigella para impulsionar o surgimento de uma superbactéria de gonorreia, muitas agências de saúde pública adotaram uma estratégia de tratamento flexível.
Para os adultos que não têm outros problemas de saúde, os especialistas agora recomendam não tomar antibióticos e deixar a shigelose seguir seu o curso desagradável, mas geralmente limitado.
4. Linfogranuloma venéreo (LGV)
O linfogranuloma venéreo (LGV) – popularmente conhecido como ‘mula’ – é causado por cepas incomuns da bactéria Chlamydia trachomatis e pode causar uma "infecção terrível", diz Christopher Schiessl, médico da clínica One Medical, de San Francisco.
Este atinge os órgãos genitais e os gânglios da virilha.
O LGV pode começar por produzir um caroço, uma bolha ou úlcera genital temporária e depois invadir o sistema linfático do corpo.
A infeção retal pode ter sinais parecidos aos de uma doença inflamatória intestinal e causar anomalias crónicas e graves do cólon e do reto, como fístulas e contrações.
Na última década, o LGV tornou-se cada vez mais comum na Europa e na América do Norte e tem sido associado a múltiplos surtos de doenças, especialmente entre pessoas homossexuais e bissexuais do sexo masculino.
Tal como acontece com a clamídia, o LGV pode aumentar o risco de contração de VIH.
O uso de preservativos durante o sexo vaginal ou anal pode reduzir o risco de infeção, enquanto o tratamento do LGV pode exigir um ciclo de antibióticos, como a doxiciclina, durante três semanas.
NAOM
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