Até agora, 65 pessoas morreram em confrontos com a polícia no Quénia
A tensão aumenta no Quénia, um dia antes das eleições presidenciais. A população teme uma guerra civil se o escrutínio não for adiado.
"Não estamos preparados para isso. Recomendo que as eleições sejam adiadas. Quando chegar o dia da votação, muitas pessoas vão morrer. E quem lhes disse para protestar foram os seus líderes", afirmou um queniano ouvido pela DW.
Boicote
O ex-primeiro-ministro e líder da oposição, Raila Odinga, o maior rival do Presidente Uhuru Kenyatta, está fora da corrida eleitoral por considerar que estas eleições estão comprometidas, e pede aos seus apoiantes para boicotarem o escrutínio de quinta-feira (26.10).
Já o Presidente Kenyatta está preparado para uma vitória esmagadora, depois do afastamento do seu principal concorrente, e quer que as eleições prossigam conforme o calendário.
Na terça-feira, a polícia queniana disparou gás lacrimogéneo e tiros de aviso para dissolver um protesto na capital, Nairobi, de manifestantes da oposição. Ativistas dos direitos humanos dizem que, até agora, pelo menos 65 pessoas morreram em confrontos com a polícia no Quénia.
Nas ruas de Nairobi, um residente afirmou que viu "pessoas a lutar à esquerda e à direita". Apelou, por isso, à paz no país: "Os manifestantes e a polícia são filhos e filhas dos quenianos. Não queremos ver ninguém ferido. Questionamo-nos por que voam balas por toda a nação."
Durante a manhã desta quarta-feira, o Supremo Tribunal do Quénia deveria ter ouvido as vozes que pedem o adiamento das eleições, alegando que a Comissão Eleitoral não está em condições de garantir uma votação credível, mas faltou o quórum de juízes necessário para tomar uma decisão. Só dois juízes compareceram no tribunal.
Opositor, Raila Odinga, pediu boicote ao escrutínio de 26 de outubro
Intervenção da União Africana?
O analista político George Musamali sublinha que a democracia está em jogo no Quénia. Musamali receia igualmente uma guerra civil - no entanto, tudo dependerá da reação das autoridades.
"Estamos a andar para trás. Vemos pessoas que vão ao Parlamento e mudam as leis de acordo com os seus caprichos. Estamos a voltar à ditadura. É agora que a União Africana precisa de vir. Não estou a dizer que a razão está do lado da NASA [coligação da oposição] ou do Jubileu [a coligação do Presidente Uhuru Kenyatta]. Olho para a perspectiva de que estamos a falar de um processo democrático. A minha preocupação é que, se a polícia se desintegrar, não falaremos apenas de violência, mas de uma guerra civil", afirma o especialista.
Nestas segundas eleições no Quénia, sete candidatos disputam a Presidência. Entre eles, o advogado Ekuru Aukot, que se define como uma alternativa "neutra".
"Não sou um tribalista, nunca confiei em números tribais ou hegemonia regional para subir na política. Sou apenas um queniano comum que realmente está interessado em questões políticas. Nós devemos mudar o nosso país", afirmou Ekuru Aukot à DW.
DW.COM
*Artigo atualizado às 11:17 de 25 de outubro de 2017, acrescentando a informação sobre a falta de quórum no Supremo Tribunal.