O problema da exploração sexual é "endémico" do setor da ajuda humanitária, que não fez o suficiente para tentar eliminá-lo e teve uma atitude próxima da "cumplicidade", acusa um relatório parlamentar britânico hoje divulgado.
O relatório da Comissão de Desenvolvimento Internacional da Câmara dos Comuns segue-se ao escândalo provocado pelas revelações, em fevereiro, que implicavam vários funcionários da organização não-governamental (ONG) britânica Oxfam em situações de abuso sexual.
Os casos, que remontam à missão de apoio às vítimas do terramoto de 2010, no Haiti, deram origem a uma torrente de reclamações e envolveram o setor num estado de suspeição.
A Comissão considera que é impossível determinar a extensão do problema, mas acredita que os casos conhecidos correspondem apenas a uma fração da realidade.
"Há casos de exploração e abuso sexual, e ocorrem em organizações, países e instituições. São endémicos, e há muito tempo", apontou a Comissão.
"O fornecimento de ajuda a pessoas e comunidades afetadas foi prejudicado por predadores sexuais que exploraram sistemas de organização enfraquecidos", acrescentou.
De acordo com os deputados, o setor humanitário sobrestimou os esforços para resolver o problema, salientando que a autorregulação posta em prática é inadequada.
Os membros da comissão pedem a implementação de um registo global de trabalhadores para impedir que predadores sexuais integrem ONG.
"Coletivamente, o setor humanitário conhece casos de exploração sexual e abuso por parte do próprio pessoal, mas a atenção dada ao problema não está à altura do desafio", lamentou, denunciando uma "cultura de negação" nas ONG e nas Nações Unidas.
A resposta "suave" do setor levou a "uma impressão global de complacência, próxima da cumplicidade", acrescentou a Comissão, dizendo que as ONG estavam mais preocupadas em proteger a sua "reputação" do que as vítimas.
Em outubro, o Reino Unido acolherá uma conferência internacional para definir uma abordagem comum ao problema.
Judith Brodie, que supervisiona a rede de ONG de desenvolvimento internacional do Reino Unido, anunciou que está a ser feito trabalho para acabar com o abuso sexual e que "a mudança começou".
No início do ano, sete funcionários da ONG Oxfam foram despedidos ou demitiram-se após a denúncia de má conduta de vários trabalhadores no Haiti, em 2010.
NAOM
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