Num artigo publicado na revista científica“ Mandinga - Revista de Estudos Linguísticos”, Doutorando Dabana Namone, fez as seguintes considerações conceituais, apontando não apenas as consequências, mas também levanta as causas e as possíveis saídas para uma educação virada para a realidade sociolinguística guineense. “ É necessário que reinventemos uma Guiné-Bissau nossa que possa responder as nossas próprias necessidades e não satisfazer uma elite que sempre deseja enriquecer pela desgraça e fracasso dos outros”, citando Ki-Zerbo.
Nas suas considerações iniciais, fez enquadrar os seguintes conceitos:
A língua é uma ferramenta importante para desenvolvimento quantitativo e qualitativo na educação, seja ela tradicional ou moderna. Nos países multilingues, com características culturais diversas, como é o caso da Guiné-Bissau, tanto as línguas africanas antigas, quanto as recentes, como é o caso de Crioulo, exercem um papel fundamental na vida do povo. O povo da Guiné-Bissau é na sua maioria de origem bantu e, é de tradição oral, uma vez que as regras de ser e de estar na sociedade são transmitidas através da oralidade. A língua oral tem servido de forma plena na transmissão da cultura e dos hábitos tradicionais que são marcas de identidade, tanto no continente africano como em outras partes do planeta, dissertou Namone no seu artigo.
A educação na língua do educando facilita o desenvolvimento cognitivo, sobretudo nas primeiras fases da educação básica, para além de constituir bases da referência cultural. É assim na Africa do Sul, na Tanzânia, na Namíbia e em muitos outros países que adotaram as línguas locais como línguas de ensino. Queiramos ou não, a língua e a cultura e, os dois são indissociáveis. Por isso que os estudos sobre a língua em contexto social tiveram seu sucesso desde que o linguista americano Willliam Labov e outros aprofundaram estudos sobre esse assunto na década 60.
Neste sentido, a escolha da língua para ensino deveria exigir um esforço redobrado dos governantes e dos especialista em educação, na busca de uma planificação coerente e coesa da política linguística, que deve ter, como objetivo geral, promover o desenvolvimento qualitativo da educação do país, a partir da inclusão sociocultural de todas as populações, especialmente, as mais necessitadas.
Sendo assim, a língua Crioula, a mais falada pela maioria da população guineense, deveria ser priorizada na educação, para que toda, ou a maioria da população, se sinta incluída no sistema escolar. São estes aspetos que a presente pesquisa procura discutir, apontando algumas alternativas que possam contribuir para o desenvolvimento qualitativa da educação guineense, preleccionou Namone.
Se olharmos para o contexto da criação do estado novo, logo apos ao alcance da independência em 1973, questiona-se a escolha do português como a única língua do ensino para o povo guineense, sabendo que o Crioulo é a mais falada e a mais conhecida pelos guineenses. Assim, levantam-se algumas hipóteses que guiam a pesquisa:
Sendo o crioulo a língua mais falada, os alunos tem dificuldades em assimilar conhecimentos transmitidos apenas em português, fato que cria dificuldade no desenvolvimento e na qualidade de aprendizagem dos alunos;
Não é pelo fato de crioulo se de base portuguesa que isso ajuda na compreensão da língua portuguesa;
Observa-se que os professores seguem uma norma-padrão pouco conhecida ou não utilizada por eles no cotidiano. Esta atitude redunda num fracasso, pois os alunos encontram as mesmas dificuldades que os professores carregam;
Veja-se que nem ainda existe dicionário que reflete as realidades socioculturais e linguísticas guineenses. Está claro e, é incontestável que o dicionário elaborado com base nos corpora escritos de Portugal, jamais pode responder as realidades léxico-semânticas vividas pelo povo da Guiné-Bissau. Portanto os consulentes guineenses ficam desiludidos ao consultar um dicionário da variedade do português europeu. Explica Namone.
A pesquisa foi inspirada pela mensagem de Nelson Mandela, grande líder africano, quando proferia um discurso na Universidade de Witwatersrand, em Johannesburg, na Africa do Sul, em 16 de Julho de 2003, afirmando categoricamente que “ a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Imbuído nessa necessidade patriótica, sentimos necessidade de olhar, procurar caminhos que possam melhorar qualitativamente o sistema educativo guineense para que um futuro prospero seja mais risonho, num povo que sofreu (e ainda continua sofrendo) com altos índices de pobreza e, sobretudo, de analfabetismo, 43 anos apos alcance da independência.
Entendemos que apostando na qualidade de ensino, estaríamos fornecendo a melhor “arma” para a luta contra a pobreza, a miséria e contra a colonização moderna no mundo globalizado, explanou Namone
Para avaliar as consequências do ensino do Português como a única língua oficial na Guiné-Bissau é necessário, buscar compreender, alguns dados importantes ilustrados na imagem, que mostra as percentagens de falantes das diversas línguas da Guiné-Bissau.
In. revista científica “Mandinga - Revista de Estudos Linguísticos", 2017
Com IBD
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