"A comunicação social tem culpa, porque dá visibilidade a protagonistas de atos de terrorismo, dá-lhes fama instantânea", defendeu o vice-presidente e diretor do Centro Africano do Conselho do Atlântico, J. Peter Pham.
Para o analista político, "a imprensa é importante se for livre, mas não tem sido livre, e tem tido uma grande responsabilidade, porque transforma terroristas em celebridades".
Ao longo de mais de uma hora, a discussão entre os quatro convidados do debate e a plateia tornou-se acesa, tendo um dos espectadores sustentado que "como atualmente existe uma multiplicidade de plataformas de comunicação, os 'media' convencionais têm apenas uma pequena parte da responsabilidade".
Por sua vez, o diretor do Instituto Francês de Assuntos Internacionais e Estratégicos, Pascal Boniface, expressou a opinião de que "não se deve sobrestimar a ameaça da radicalização", porque "não há mais riscos de segurança do que no passado -- por exemplo, do que durante a Guerra Fria -, o que há é mais informação".
"A situação não é boa, claro, mas é melhor que há 30 anos, porque havendo mais informação, há mais meios para combater o problema", observou.
J. Peter Pham discordou da avaliação otimista do papel dos 'media' feita pelo analista político francês, afirmando: "Temos mais informação, mas a sua importância depende do uso que lhe é dado".
"Ela pode ser usada para combater a radicalização e o terrorismo, ou pode ser usada como veículo para lavagem cerebral e recrutamento de terroristas, ou ainda como meio de tornar mais visível a dimensão da ameaça, por exemplo filmando e divulgando na internet vídeos de decapitações e fuzilamentos", argumentou.
Boniface contrapôs que a comunidade internacional "deve concentrar-se no que está na raiz da radicalização, e não nos seus canais, porque se se debruçar apenas sobre o que se passa nos 'media' e nas redes sociais, escapam-lhe as verdadeiras causas da radicalização".
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros senegalês Cheikh Gadio, atual presidente do Instituto Pan-Africano de Estratégia, indicou que, neste momento, "há 22 países africanos que se confrontam com grupos extremistas rebeldes", pelo que considera que, "de alguma forma, África perdeu a guerra contra o terrorismo".
Quanto às causas da radicalização no continente africano, rejeitou que a pobreza seja uma delas.
"Se a pobreza fosse a principal causa do terrorismo, então, todos os cidadãos africanos seriam terroristas -- e, felizmente, não é esse o caso", comentou.
O antigo governante do Senegal fez questão de chamar a atenção dos presentes para um aspeto a alterar, em matéria de abordagens inovadoras no combate à radicalização.
"Mesmo nas questões que diretamente a envolvem, África é marginalizada", frisou, dando como exemplo que "o primeiro atentado da Al-Qaida foi contra as embaixadas da Tanzânia e do Quénia, e não teve grande impacto", a comunidade internacional não despertou então para a necessidade de combater o terrorismo.
Depois, prosseguiu, "a Al-Qaida tornou-se o epicentro do terrorismo, mas, em África, o Boko Haram já existia e já tinha feito 34.000 mortos -- isto, muito antes de o Daesh (acrónimo árabe do grupo extremista Estado Islâmico) aparecer.
O que Cheikh Gadio defende é o imperativo de "colocar África no centro da luta contra o terrorismo" e que, por sua vez, "a primeira coisa que África tem de fazer é admitir que nenhum país africano consegue resolver o problema sozinho -- a Nigéria é um país forte, mas foi ali que surgiu o Boko Haram".
"África tem de adotar o conceito de 'mutualização': juntar a informação recolhida pelos serviços secretos, juntar os recursos e juntar os meios militares para combater a ameaça", sustentou.
Para Pham, a única forma de combater a radicalização é que "os países pensem estrategicamente, em vez de taticamente ou reativamente".
"A grande questão é: Quem financia o terrorismo?", sublinhou a autora da última pergunta do público, que ficou sem resposta.
NAOM