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Notícias ao Minuto 23/12/22
Depois de o presidente russo, Vladimir Putin, ter usado o termo “guerra” para se referir à ‘operação militar especial’ da Rússia na Ucrânia, na quinta-feira, um político de São Petersburgo apelou junto das autoridades daquele país para que o chefe de Estado seja investigado, considerando que este infringiu a sua própria lei.
O conflito na Ucrânia é, desde a sua origem, designado pelo líder russo como uma ‘operação militar especial’. Putin decretou, inclusivamente, leis que determinam a aplicação de multas e até de penas de prisão para quem desacreditar ou propagar “informações deliberadamente falsas” sobre o propósito da presença das forças de Moscovo na Ucrânia, impedindo a população de utilizar o termo “guerra”.
Contudo, tudo mudou na quinta-feira quando, pela primeira vez, o chefe de Estado proferiu essa mesma palavra, ao ser questionado sobre o decorrer da ofensiva.
“O nosso objetivo não é fazer girar o volante do conflito militar, mas, pelo contrário, pôr fim a esta guerra”, disse Putin aos jornalistas, citado pela agência de notícias Reuters. “Esforçar-nos-emos por pôr fim a isto e, quanto mais cedo, melhor, é claro”, complementou.
Ainda que saiba que a sua denúncia não terá frutos, o político da oposição Nikita Yuferev avançou com um pedido para que o líder russo seja investigado, de modo a expor a “falsidade” do sistema.
“É importante para mim fazer isto, para chamar à atenção para a contradição e injustiça das leis que [Putin] adota e assina, mas que ele mesmo não cumpre", acusou, em declarações à Reuters.
"Acho que, quanto mais falarmos sobre isto, mais as pessoas duvidarão da sua honestidade, da sua infalibilidade, e menos apoio terá", acrescentou.
Assim, numa carta aberta endereçada ao procurador-geral da Rússia e ao ministro do Interior, Yuferev apelou para que Putin “seja responsabilizado ao abrigo da lei da propagação de informações falsas sobre as ações do exército russo”, recordando que vários críticos das ações daquele país na Ucrânia foram severamente punidos.
Entre eles está o membro da oposição Ilya Yashin, que foi, este mês, detido por divulgar “informações falsas” sobre as forças de Moscovo. Já em julho, o político Alexei Gorinov foi condenado a sete anos de prisão, por criticar o conflito.
No entanto, Yuferev terá, também, denunciado o uso do termo por parte de figuras como o diretor-adjunto da administração presidencial russa, Sergei Kirienko, e pelo deputado e líder do partido Rússia Justa, Sergei Mironov. No primeiro caso, as autoridades disseram-lhe que o responsável não fez nada de errado, recusando-se, depois, a avaliar o segundo pedido.
As declarações do chefe de Estado russo surgiram depois de o homólogo ucraniano ter visitado os Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente norte-americano, Joe Biden, e discursou perante o Congresso. De notar ainda que o país anunciou novos apoios à Ucrânia, particularmente no que toca ao envio de sistemas de defesa antiaérea Patriot.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 14 milhões de pessoas, segundo dados os mais recentes da Organização as Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A entidade confirmou ainda que já morreram 6.755 civis desde o início da guerra e 10.607 ficaram feridos, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.