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POR LUSA 17/03/24
A Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) defendeu hoje um mercado comum de créditos de carbono em que África tenha uma posição forte e consiga preços mais vantajosos face aos praticados noutros continentes.
"É preciso um enquadramento comum relativamente aos acordos sobre créditos de carbono com as empresas privadas", disse o secretário executivo adjunto, António Pedro, defendendo que as nações têm de ser mais assertivas nas negociações com as multinacionais.
No conjunto de recomendações apresentadas no seguimento da conferência dos ministros das Finanças africanos, que decorreu este mês em Victoria Falls, no Zimbabué, a UNECA defende que as nações africanas devem ter um posicionamento comum sobre créditos de carbono, com os países a terem uma palavra mais forte na definição do preço, que ronda os 10 dólares por tonelada, quando na Europa é dez vezes mais.
África é um continente que tem potencial para gerar cerca de 30% dos créditos de carbono a nível mundial, mas continua no fundo da escala de compensação, recebendo apenas 10% do que o valor praticado na Europa, lamentou o responsável.
Cada crédito de carbono representa uma tonelada de emissões de dióxido de carbono, prejudiciais ao ambiente, que deixa de ser emitida ou é compensada por investimentos verdes, que são comprados por países ou empresas emitentes para compensar a poluição criada pelas suas atividades económicas.
De acordo com a UNECA, o comércio global deste setor deverá chegar perto de um bilião de euros nos próximos 15 anos, segundo as previsões dos analistas.
A defesa de uma posição comum africana nestes créditos foi um dos tópicos abordados pelos ministros das Finanças que se reuniram no Zimbabué no princípio do mês, numa reunião em que reconheceram que também é preciso uma voz unificada na definição das metas da reforma da arquitetura do sistema financeiro global.
"Nós, ministros africanos das Finanças, Planeamento e Desenvolvimento Económico, defendemos que os países devem desenvolver instrumentos e instituições que possam ultrapassar o défice de mecanismos de financiamento do desenvolvimento e da tecnologia e advogamos pela reforma da arquitetura financeira global, para que seja eficaz e sirva as prioridades de desenvolvimento de África", lê-se no comunicado final da reunião.
Reconhecendo que boa parte das metas da Agenda 2063 não foram cumpridas na primeira década, os ministros salientam que África precisa de mais 1,6 biliões de dólares, cerca de 1,4 biliões de euros, até 2030 para alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
"Construir economias verdes inclusivas em África não é simplesmente uma anedota, mas um imperativo urgente que exige a nossa ação concertada", disse o secretário executivo e sub-secretário-geral da UNECA, Claver Gatete, salientando também que a criação de mercados de créditos de carbono mais estruturados e um novo modelo de funcionamento dos mercados financeiros será fundamental para resolver o problema da dívida excessiva.
A média do rácio da dívida pública sobre o PIB nos países da região subiu de menos de 40%, entre 2010 e 2014, para 56,4% entre 2015 e 2019, tendo chegado a praticamente 70,5% em 2020, de acordo com os dados apresentados na reunião da UNECA, cujo próximo encontro será em março de 2025, em Adis Abeba.