Por e-global.pt Fevereiro 5, 2022
Um relatório preliminar produzido pelos serviços de Segurança da Guiné-Bissau, sobre o assalto ao Palácio do Governo a 1 de Fevereiro, citou dois colaboradores directos do ex-Chefe de Estado-Maior da Armada, Bubo Na Tchuto, como indivíduos identificados em fuga.
Os dois fugitivos foram militares que em 2013, durante o período de transição, foram capturados juntamente com o Contra-Almirante Bubo Natchuto e transferidos para os Estado Unidos da América, acusados de narcotráfico.
O relatório cita ainda na origem da identificação dos suspeitos, as forças de defesa e segurança que apareceram no Palácio do Governo para socorrerem o Presidente da República e os membros do Governos encurralados pelos insurrectos. Até momento, nenhuma figura política foi citada como eventual mentor, mas alguns oficiais do Ministério do Interior, próximos aos maiores partidos políticos, estão a ser cogitados.
O relatório, assinado pelo Comandante da Guarda Nacional, Sadjo Cissé, refere que na sequência da investigação do caso está em curso a detenção de militares e polícias implicados, os quais foram denunciados pelos colegas. Porém, os dois nomes que se destacam, são os colaboradores de Bubo Na Tchuto, Tchami Ialá e Papis Djemé, considerados no relatório como suspeitos fugitivos.
A 3 de Fevereiro, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló visitou o Palácio do Governo, para constatar os danos provocados por aqueles que queriam “decapitar o Estado da Guiné-Bissau”. A ocasião serviu para o chefe de Estado comentar a divergência de opiniões reinante sobre a autenticidade do acontecimento. Umaro Sissoco Embaló disse não pretender proferir qualquer reacção a fim de não perturbar a investigação, no entanto lembrou que em 2009, quando Nino Vieira denunciou um atentado contra a sua integridade, vários consideraram que se tratava de uma “inventona”.
Nova versão da ECOMIB pode regressar à Guiné-Bissau
Entretanto há um volte-face na posição da CEDEAO sobre a Guiné-Bissau. Há cerca de dois anos, e após a tomada de posse do actual Presidente da República, a força da CEDEAO foi acantonada e meses depois retirada do país, porque, Umaro Sissoco Embaló vincara ter total confiança nos militares guineenses e que seriam estes a garantir a sua segurança.
Dois dias depois dos tiroteios no Palácio do Governo, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) reuniu no Gana e colocou a Guiné-Bissau no primeiro ponto da decisão. Consta no comunicado final que, a organização deverá enviar uma força de interposição e de estabilização para o país, e consequentemente uma nova versão da ECOMIB.
Apesar de a data não ter sido precisa, sobre a eventual chegada dos militares da CEDEAO, o assunto está a provocar divergências de opiniões e alimentar as suspeitas sobre a possibilidade de uma manipulação do episodio letal de 1 de Fevereiro. Críticos do Presidente da República consideram que caso foi tido apenas como um fundamento para o regresso da ECOMIB, porque o chefe de Estado começara a entrar em colisão com alguns sectores das Forças Armadas e quer protecção externa.
Outros críticos questionam ao Presidente sobre a reviravolta face às forças da CEDEAO tendo em conta que foi o chefe de Estado que acantonara as forças da ECOMIB e dissera que não haviam Estados pequenos. Os mesmos críticos avançam com o cenário de Senegal poder estar a interferir no sentido de facilitar a execução do polémico Acordo de gestão da zona conjunta e Exploração de petróleo e hidrocarbonetos assinado por Umaro Sissoco Embaló e Macky Sall. O aludido acordo sido alvo de forte resistência pela oposição política. O Presidente já reagiu por diversas vezes sobre o assunto insistindo que o controverso Acordo ser uma matéria da sua competência.