© Shutter StockPOR LUSA 31/01/23
A associação Transparência Internacional considera que o mundo é um lugar cada vez menos seguro e liga a origem do problema ao aumento da corrupção, na edição 2023 do Índice de Perceção de Corrupção (IPC) hoje divulgado,
Os dados deste índice, em conjugação com os dados do Índice de Paz Global, também organizado pela Transparência Internacional, pretendem demonstrar que a paz mundial está em declínio consistente e que existe uma clara conexão entre violência e corrupção.
Para a organização, os valores do IPC hoje divulgados comprovam que a corrupção está a prejudicar os governos e a impedir a sua capacidade de proteger os cidadãos, ao mesmo tempo que alimenta o descontentamento público e provoca o aumento da violência.
A presidente da Transparência Internacional, Delia Ferreira Rubio, defende que a solução para este problema passa por os governos trabalharem em conjunção de esforços para erradicar a corrupção em todos os níveis da sociedade, bem como por evitar discriminações.
"Os governos falharam coletivamente ao não conseguirem fazer progressos contra esta situação, alimentando o aumento da violência e do conflito e colocando pessoas em perigo em todos os lugares", argumenta Rubio no comentário à edição de 2023 do IPC.
O Índice, lançado em 1995, tornou-se a principal referência global da corrupção no setor público, avaliando 180 países e territórios com base nos seus níveis de corrupção, usando dados de 13 fontes diferentes, como o Banco Mundial, o Fórum Económico Mundial, empresas privadas de avaliação de risco, 'think tanks' e outros.
O IPC classifica os países com base nos níveis percebidos de corrupção no setor público, numa escala de zero (altamente corrupto) a 100 (muito limpo).
A edição deste ano do relatório revela que a pontuação média global permaneceu inalterada em 43 países e territórios pelo décimo primeiro ano consecutivo, e mais de dois terços dos países têm sérios problemas com corrupção, com pontuação abaixo de 50.
A Dinamarca lidera a lista dos países menos corruptos com 90 pontos, seguida pela Finlândia e Nova Zelândia, ambos com 87 pontos.
Estes países apresentam-se com fortes instituições democráticas e com elevado respeito pelos direitos humanos, o que os torna também os países mais pacíficos do mundo, de acordo com o Índice de Paz Global.
Por contraste, e a encabeçar a lista dos países mais corruptos do mundo, aparecem o Sudão do Sul (13 pontos), a Síria (12 pontos) e a Somália (12 pontos), todos envolvidos em conflitos armados prolongados.
Oito países melhoraram as suas pontuações no mesmo período, incluindo Irlanda, Coreia do Sul e Maldivas, com dados que sugerem que a luta contra a corrupção é eficaz com a aplicação de medidas corretas e equilibradas, segundo a Transparência Internacional.
Este ano, 26 países, incluindo o Qatar, Guatemala e Reino Unido atingiram os valores mais baixos de sempre no Índice.
O Reino Unido (73 pontos) caiu cinco pontos para sua pontuação mais baixa de sempre, depois de ter estado envolvido em vários escândalos políticos, incluindo revelações sobre má conduta ministerial.
Sobre Portugal (62 pontos), a Transparência Internacional considera que os factos de a "nova estratégia anticorrupção" ter sido lançada sem grandes orientações e o programa de Vistos Gold se manter aumentou os riscos de corrupção.
Para a Transparência Internacional, o relatório prova ainda que os países da União Europeia que negligenciaram ou reverteram medidas anticorrupção continuaram a cair no IPC, como foram os casos da Hungria e da Polónia.
A Transparência Internacional acredita que a relação entre violência e corrupção é um ciclo vicioso, alegando que os governos corruptos não têm capacidade de proteger os cidadãos e que o descontentamento público tem maior probabilidade de se transformar em violência.
Para a Transparência Internacional, a invasão russa da Ucrânia serve como um lembrete dos perigos representados pela corrupção e pela falta de responsabilidade dos governos, recordando que os cleptocratas russos acumularam grandes fortunas ao serviço do Presidente Vladimir Putin, o que resultou em contratos lucrativos com o Estado, na proteção dos seus interesses económicos.
Um outro exemplo é o do Sudão do Sul, onde décadas de conflito e corrupção conduziram a uma profunda crise humanitária, com mais da metade da população a enfrentar insegurança alimentar, sabendo-se que um relatório recente revelou um esquema de fraude por parte de uma rede de políticos corruptos que desviaram ajuda destinada a alimentos, combustível e remédios.
Também a combinação de corrupção, autoritarismo e crise económica no Brasil provou ser uma mistura volátil, levando o mandato do ex-Presidente Jair Bolsonaro a ficar marcado pelo desmantelamento de estruturas anticorrupção e ao uso de esquemas corruptos para favorecer aliados políticos, concluiu a Transparência Internacional.