Os detalhes dos ataques foram apresentados em conferência de imprensa no domingo pelo presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA
Como ocorreram os ataques
O ataque dos EUA às instalações nucleares do Irão envolveu mais de 125 aeronaves, de acordo com autoridades americanas. Bombardeiros furtivos B-2 lançaram mais de uma dúzia de gigantescas "bunker buster" (bombas antibunker) nas instalações de Fordow e Natanz, no Irão, enquanto mísseis Tomahawk atingiram um local na cidade de Isfahan.
Eis um um guia com o que sabemos até agora sobre o ataque:
Como se desenrolou a Operação Martelo da Meia-Noite:
Nota: os horários e locais são aproximados.. Fonte: Departamento de Defesa dos EUA. Grafismo: Henrik Pettersson e Renée Rigdon, CNN. Tradução e adaptação CNN Portugal
Os detalhes dos ataques foram apresentados em conferência de imprensa no domingo pelo presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Dan Caine, que mostrou apresentou uma cronologia:
MEIA-NOITE (horário da costa leste dos EUA, 5 da manhã em Lisboa): a operação começou na madrugada de sexta-feira para sábado, disse Caine na conferência de imprensa no Pentágono. Quando os bombardeiros B-2 descolaram dos EUA, alguns seguiram para oeste como "isco", enquanto os restantes “prosseguiram silenciosamente para leste com comunicações mínimas durante todo o voo de 18 horas”.
POR VOLTA DAS 17H00 (horário da costa leste dos EUA, 22h00 em Lisboa): segundo Caine, um submarino norte-americano "lançou mais de duas dúzias de mísseis de cruzeiro Tomahawk contra alvos-chave da infraestrutura de superfície" na instalação nuclear de Isfahan, no Irão.
Quando os B-2 entraram no espaço aéreo iraniano, os EUA "empregaram várias táticas de dissimulação, incluindo iscos, enquanto as aeronaves de quarta e quinta geração avançavam à frente em alta altitude e alta velocidade, varrendo a frente do bloco em busca de caças inimigos e ameaças de mísseis terra-ar”, disse Caine.
O responsável acrescentou que, ao aproximarem-se das instalações de Natanz e Fordow, os EUA empregaram "armas de supressão de alta velocidade" com caças para "garantir a passagem segura" dos bombardeiros B-2.
CERCA DAS 18h40 (hora da costa leste dos EUA, 23H40 em Lisboa): o bombardeiro B-2 líder lançou duas enormes bombas "bunker-buster" no local nuclear de Fordow, disse Caine, e "os bombardeiros restantes atingiram então os seus alvos".
Esses alvos adicionais foram atingidos, disse Caine, “entre as 18h40 e as 19h05, hora da costa leste dos EUA”.
Isso coloca o horário desses ataques por volta das 2h10, hora local no Irão, já no domingo.
No total, disse Caine, foram lançadas 14 bombas GBU-57, "Massive Ordnance Penetrators".
VOO DE REGRESSO AOS EUA: as forças dos EUA “iniciaram o seu regresso a casa”, disse Caine, salientando que o Irão não disparou contra as aeronaves dos EUA durante a entrada ou saída.
Esta é a bomba "destruidora de bunkers" que os norte-americanos usaram
Nesta foto divulgada pela Força Aérea dos Estados Unidos a 2 de maio de 2023, pilotos observam uma GBU-57, conhecida como "Massive Ordnance Penetrator", na Base Aérea de Whiteman, no Missouri. Crédito:Força Aérea dos Estados Unidos/AP via CNN Newsource
Os Estados Unidos usaram a bomba GBU-57A/B Massive Ordnance Penetrator (MOP), conhecida como “bunker buster”, nos seus ataques a instalações nucleares iranianas, disseram duas fontes familiarizadas com a operação.
É a primeira vez que se tem conhecimento do uso operacional da bomba. Não é ainda claro quantas MOP foram lançadas.
Antes dos ataques de sábado, alguns funcionários norte-americanos levantaram questões pertinentes sobre se a MOP seria capaz de destruir completamente a arquitetura nuclear do Irão, especialmente onde as instalações de enriquecimento estão enterradas a grandes profundidades.
Acredita-se que a MOP seja o único armamento capaz de atingir instalações profundamente enterradas, embora haja dúvidas de que uma única munição seja capaz de penetrar profundamente o suficiente para alcançá-las. Os bombardeiros B-2 Spirit dos EUA são as únicas aeronaves capazes de transportar as bombas. A CNN informou no sábado que os B-2 foram usados na operação.
A bomba "destruidora de bunkers" (“bunker buster”) dos EUA é a única arma capaz de destruir a Fábrica de Enriquecimento de Combustível de Fordow, uma instalação considerada fundamental para o programa nuclear de Teerão, que foi construída dentro de uma montanha e se estende profundamente no subsolo.
A munição perfurante de grande calibre GBU-57A/B (MOP - Massive Ordnance Penetrator) foi concebida para "atingir e destruir as armas de destruição maciça dos nossos adversários localizadas em instalações bem protegidas", de acordo com uma ficha informativa da Força Aérea dos EUA.
Trata-se de uma bomba de 13,6 toneladas, com 2,7 toneladas de "explosivos de alta potência", explicou Masao Dahlgren, membro do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais do Projeto de Defesa Antimísseis.
A bomba tem "um invólucro espesso e duro", explicava Dahlgren, para que os explosivos resistam ao impacto do solo e penetrem nas profundezas que se pretende atingir. “Há a estrutura e há o explosivo no detonador – o explosivo precisa ser robusto o suficiente para não detonar sem ser acionado, a estrutura precisa ser forte o suficiente para descer tão fundo e atingir com tanta força e transmitir energia suficiente para chegar tão fundo. E então o detonador precisa de ser resistente o suficiente para sobreviver a tudo isso e inteligente o suficiente para saber quando explodir”, disse Dahlgren.
Os testes com a bomba começaram em 2004, entre uma crescente preocupação com armas de destruição em massa, contou Dahlgren. Um dos fatores que levaram ao seu desenvolvimento, acrescentou, foram estudos que mostraram que bombardear a entrada de uma instalação “não geraria pressão de explosão suficiente para destruir toda a instalação”.
Em 2009, a Boeing ganhou o contrato para integrar o sistema de armas nas aeronaves dos EUA. O B-2 Spirit da Força Aérea – um bombardeiro pesado multifuncional – é a única aeronave capaz de desacarregar a bomba operacionalmente.
O B-2, fabricado pela Northrop Grumman, é a “espinha dorsal da tecnologia furtiva”, de acordo com a empresa. A aeronave voa a partir da Base Aérea de Whiteman, no Missouri, EUA, e foi exibida publicamente pela primeira vez em novembro de 1988. Os EUA utilizaram bombardeiros B-2 em 2024 para atacar os houthis apoiados pelo Irão no Iémen, visando instalações subterrâneas de armazenamento de armas.
O bombardeiro – pilotado por uma tripulação de dois homens – pode voar aproximadamente 11 mil quilómetros sem reabastecimento, de acordo com a Força Aérea dos EUA. As suas capacidades de “furtividade” permitem-lhe “penetrar nas defesas mais sofisticadas do inimigo e ameaçar os seus alvos mais valiosos e fortemente defendidos”, detalha a Força Aérea.
Não é claro quantas munições os EUA têm em inventário; em 2009, a Boeing entregou 20 à Força Aérea, que estavam em vigor em 2015. Dahlgren estima que há cerca de 30 munições no arsenal dos EUA.
Qual a gravidade dos danos causados pelos ataques dos EUA às instalações nucleares do Irão?
Imagem de satélite mostra pelo menos seis crateras de impacto na instalação nuclear de Fordow, no Irão, no domingo, após os ataques dos EUA. Maxar Technologies/CNN
Aeronaves de guerra. Submarinos. Mísseis de cruzeiro. Bombas que pesam quase 14 toneladas. Depois de inicialmente favorecer a diplomacia, Donald Trump recorreu a um uso extraordinário da força contra o Irão na noite de sábado, atacando três das principais instalações nucleares do regime.
Segundo Trump, as instalações nucleares do Irão foram “destruídas”, mas algumas autoridades iranianas minimizaram o impacto dos ataques — assim como fizeram quando Israel atacou pela primeira vez as instalações do Irão em 13 de junho.
Com as imagens de satélite dos ataques noturnos a começarem a surgir, eis o que sabemos sobre os danos que os EUA infligiram ao programa nuclear do Irão.
Trump anuncia ataques dos EUA a instalações nucleares no Irão
Fordow
Fordow é a instalação de enriquecimento nuclear mais importante do Irão, enterrada nas profundezas de uma montanha para protegê-la de ataques. Acredita-se que as salas principais estejam a cerca de 80 a 90 metros abaixo do solo.
Analistas afirmam há muito que os EUA são o único exército do mundo com o tipo de bomba necessária para atingir uma profundidade tão grande – a enorme GBU-57, de quase 14 toneladas.
Os EUA utilizaram seis bombardeiros B-2 para lançar 12 dessas bombas “destruidoras de bunkers” no local, segundo disse uma autoridade norte-americana à CNN.
Uma análise da CNN a imagens de satélite mostra que os ataques dos EUA deixaram pelo menos seis grandes crateras no local de Fordow, indicando o uso de bombas destruidoras de bunkers.
As imagens, captadas pela Maxar, mostraram seis crateras de impacto separadas em dois locais próximos em Fordow. As crateras são visíveis ao longo de uma crista que atravessa o complexo subterrâneo.
Rafael Grossi, chefe da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), órgão de fiscalização nuclear da ONU, disse à CNN que houve um “impacto cinético direto” em Fordow, mas que era muito cedo para avaliar se isso causou danos internos ao local subterrâneo.
“É claro que não se pode excluir (a possibilidade) de que haja danos significativos lá”, afirmou.
David Albright, presidente do Instituto para a Ciência e a Segurança Internacional (ISIS), disse à CNN que as imagens de satélite sugeriam que “poderia ter havido danos consideráveis na sala de enriquecimento e nas salas adjacentes que dão apoio ao enriquecimento”.
“A destruição total da sala subterrânea é bastante possível”, disse Albright, ao mesmo tempo em que enfatizou que uma avaliação completa dos danos levará tempo.
N.R. Jenzen-Jones, especialista em munições e diretor da empresa de pesquisa Armament Research Services (ARES), concordou que há pelo menos seis pontos de entrada em Fordow após os ataques dos EUA.
"Os buracos de entrada maiores e centrais nos dois grupos têm formas irregulares e sugerem que várias munições atingiram o mesmo local preciso", disse Jenzen-Jones à CNN.
"Isto é consistente com a teoria de um ataque a um alvo tão profundamente enterrado como o local de Fordow, que exigiria várias munições penetrantes, lançadas com precisão e cuidadosamente calibradas, para essencialmente “esmagar” e abrir caminho até às áreas mais profundas e protegidas do local", acrescentou.
Imagens de satélite mostraram também mudanças significativas na cor da encosta da montanha onde a instalação está localizada, indicando que uma vasta área foi coberta por uma camada de cinzas cinzentas após os ataques.
Uma análise da CNN às imagens recolhidas antes dos ataques dos EUA sugeriu que o Irão tinha tomado medidas para reforçar as entradas dos túneis que se acredita conduzirem à instalação subterrânea, provavelmente em antecipação a um ataque iminente. Essas imagens mostravam terra empilhada frente a pelo menos duas das seis entradas.
Embora o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão tenha afirmado que os EUA ultrapassaram uma “linha vermelha muito importante”, outros líderes iranianos minimizaram o impacto dos ataques. Manan Raeisi, um deputado que representa a cidade de Qom, perto de Fordow, disse que os danos causados pelo ataque foram “bastante superficiais”.
Mas Albright, do ISIS, disse à CNN que os relatórios iniciais do Irão “devem ser descartados”. E afirmou que, durante as rondas anteriores de ataques às instalações nucleares do Irão, Teerão minimizou o seu impacto, mas as imagens de satélite mostram uma realidade muito diferente.
Natanz
Natanz é o local do maior centro de enriquecimento nuclear do Irão e foi alvo do ataque inicial de Israel ao Irão em 13 de junho. O local tem seis edifícios acima do solo e três estruturas subterrâneas, que abrigam centrífugas — uma tecnologia fundamental no enriquecimento nuclear, que transforma urânio em combustível nuclear.
As instalações acima do solo foram danificadas no ataque inicial de Israel. A AIEA disse que os ataques danificaram a infraestrutura elétrica da usina.
Embora não esteja claro se os ataques de Israel causaram danos diretos às instalações subterrâneas, a AIEA afirmou que a perda de energia na sala subterrânea em cascata “pode ter danificado as centrífugas que lá se encontravam”.
Imagem de satélite mostra duas crateras acima das salas subterrâneas da instalação nuclear de Natanz após o local ter sido bombardeado pelos Estados Unidos em 22 de junho. Imagem de satélite ©2025 Maxar Technologies/Gráfico: Thomas Bordeaux/CNN
Os EUA também atacaram Natanz na operação de sábado à noite. Um funcionário norte-americano afirmou que um bombardeiro B-2 lançou duas bombas antibunker no local. Submarinos da Marinha dos EUA também dispararam 30 mísseis de cruzeiro TLAM contra Natanz e Isfahan, o terceiro local iraniano alvo dos EUA.
Uma análise da CNN de imagens de satélite mostrou que duas novas crateras surgiram no local, provavelmente causadas pelas bombas antibunker. As crateras — uma com um diâmetro de cerca de 5,5 metros e a outra com cerca de 3,2 metros, de acordo com as imagens da Maxar — ficam diretamente acima de partes do complexo localizado no subsolo.
A extensão dos danos subterrâneos no local ainda não é clara neste momento.
Isfahan
Isfahan, no centro do Irão, abriga o maior complexo de pesquisa nuclear do país.
A instalação foi construída com o apoio da China e inaugurada em 1984, de acordo com a organização sem fins lucrativos Nuclear Threat Initiative (NTI). Cerca de 3.000 cientistas trabalham em Isfahan, diz a NTI, e o local é “suspeito de ser o centro” do programa nuclear do Irão.
Após os ataques dos EUA, pelo menos 18 estruturas destruídas ou parcialmente destruídas puderam ser vistas em imagens de satélite, segundo uma análise da CNN. O local ficou visivelmente enegrecido devido à quantidade de escombros lançados pelos ataques.
Segundo Albright, os relatórios iniciais sugeriam que os EUA também atacaram complexos de túneis perto do local de Isfahan, “onde normalmente armazenam urânio enriquecido”.
Se tal se confirmar, isso mostrará que os EUA estavam a tentar eliminar os stocks de urânio do Irão que haviam sido enriquecidos a 20% e 60%. O urânio para uso militar é enriquecido a 90%.
Uma avaliação publicada no domingo pelo Instituto para a Ciência e a Segurança Internacional afirmou que Isfahan tinha sido "gravemente danificada".
A principal instalação de conversão de urânio do complexo, que converte urânio natural na forma de urânio introduzido em centrifugadoras a gás, ficou "gravemente danificada", afirmou o instituto na sua avaliação.
As entradas dos túneis que conduzem ao complexo subterrâneo também foram observadas como estando danificadas, com pelo menos três das quatro entradas dos túneis a terem desabado.
O instituto afirmou ter visto imagens de satélite de sexta-feira que mostram as entradas dos túneis a ser preenchidas com terra.
"Esta é provavelmente uma medida de precaução para conter uma explosão ou impedir a dispersão de materiais perigosos para fora das instalações", afirmou.
A CNN não conseguiu verificar de forma independente as notícias de que complexos de túneis perto do local de Isfahan foram alvo de ataques. Numa conferência de imprensa no Pentágono no domingo, o general Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, afirmou que um submarino norte-americano tinha «lançado mais de uma dúzia de mísseis de cruzeiro Tomahawk contra alvos-chave de infraestruturas de superfície» no local de Isfahan.
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