© REUTERS/Maksim Levin TPX IMAGES OF THE DAY Lusa 28/03/2025
Mais de 80% dos ucranianos afirmam estar dispostos a continuar a lutar para alcançar "uma paz aceitável", mesmo que Washington cesse o seu apoio militar ao país, indicou hoje uma sondagem do Instituto Internacional de Sociologia de Kyiv (KIIS).
Apesar dos elevados custos da invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022, 82% dos ucranianos declararam-se a favor da continuação da luta contra Moscovo, mesmo sem o apoio dos Estados Unidos (EUA), na condição de que a Europa mantenha o seu auxílio à Ucrânia, indicou a sondagem, citada pelas agências internacionais.
A grande maioria dos inquiridos manifestou-se a favor da continuação dos combates, ao invés de aceitar as condições de paz propostas pela Rússia, que privariam a Ucrânia da sua independência política, de um exército forte e de mais de 20% do seu território.
Apenas 8% dos inquiridos disseram ser a favor da capitulação.
"Os ucranianos querem a paz e estão abertos a compromissos dolorosos", afirmou Anton Grushetski, diretor do KIIS, em declarações à agência noticiosa espanhola EFE.
A Rússia está há várias semanas envolvida em conversações com Washington, com o objetivo de obter uma trégua na Ucrânia a todo o custo.
"Mas [os ucranianos] estão prontos para uma resistência nacional até que sejam garantidas condições de paz aceitáveis e segurança contra futuras agressões russas", sublinhou o diretor da instituição ucraniana.
A Rússia e a Ucrânia concordaram com uma trégua provisória aos ataques às infraestruturas energéticas, mediada pelos Estados Unidos, mas rapidamente se acusaram mutuamente de violações, ilustrando as dificuldades de uma negociação de paz mais alargada.
Oleksandr Kovalenko, analista militar do Grupo de Resistência à Informação, argumentou que a perda do apoio dos Estados Unidos constituiria um choque, mas a mesma não seria catastrófica.
"As forças ucranianas já demonstraram a sua capacidade de se adaptarem a combates sem o apoio dos EUA", afirmou Kovalenko, sublinhando que "uma retirada dos EUA poderia acelerar a produção interna de defesa e levar os parceiros europeus a redobrar a sua".
Ilona Sologoub, editora da plataforma analítica VoxUkraine, adiantou também à EFE que a Europa deveria tentar aproveitar a experiência da Ucrânia no campo de batalha e investir na sua indústria de armamento, algo que a Dinamarca já começou a fazer.
"A rapidez é essencial: a Rússia está a adaptar-se e a copiar as nossas tecnologias", alertou Sologoub.
Sologoub recordou ainda que existem atualmente mais de 200 mil milhões de euros em ativos russos congelados na Europa, que poderiam servir como fonte de financiamento para a guerra.
"Se o confisco parecer demasiado ousado, a Europa poderia trocar estes fundos por certificados da União Europeia a 20 anos", sugeriu a editora.
Num artigo conjunto com os economistas Anastasiya Fedik e Yuri Gorodnichenko, da Universidade de Berkeley, Sologoub delineou outras opções, incluindo o desenvolvimento da iniciativa SkyShield - proposta por 70 políticos europeus e vários peritos militares -, com o intuito de proteger a Ucrânia ocidental e central dos mísseis russos, sem confrontar diretamente as forças de Moscovo.
Segundo os economistas, a capacidade de resistência da Ucrânia, que dispõe de recursos limitados, demonstra que a Rússia pode vir a ser derrotada, possibilitando uma paz duradoura no continente, caso a Europa desbloqueie as suas capacidades.
"A Europa deve deixar de se preocupar com a reação de Moscovo e lembrar-se de que a Rússia só recua perante a força", insistiram os peritos.
A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.
Os aliados de Kyiv também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.
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