Zelensky na Cimeira da Coligação de Vontade no Palácio do Eliseu Tiago Ferreira Resende cnnportugal.iol.pt
A mensagem que saiu do encontro é clara: este é o momento de aumentar, não diminuir, as sanções à Rússia, para garantir que o Kremlin compreenda a seriedade do isolamento económico
Debaixo de grande atenção e expectativa, a cimeira de líderes mundiais realizada em Paris produziu conclusões que marcam um novo capítulo no apoio à Ucrânia e na pressão sobre a Rússia. Num momento de incerteza e tensão, as decisões tomadas pelos chefes de Estado revelam o compromisso de não abandonar a Ucrânia e manter a pressão sobre Moscovo, enquanto se preparam futuras etapas do conflito no terreno. Entre os principais acordos, destacam-se as sanções à Rússia e o envio de uma delegação militar europeia para a Ucrânia.
Numa das discussões mais aguardadas da cimeira, que teve França como anfitriã, e o vizinho Reino Unido também como protagonista, os líderes da aliança de apoio à Ucrânia chegaram a um consenso claro: não é hora de aliviar as sanções impostas à Rússia.
Emmanuel Macron, presidente francês, afirmou categoricamente que “não pode haver levantamento de sanções antes que a paz seja estabelecida”. A decisão foi respaldada por todos os participantes da reunião, incluindo Volodymyr Zelensky, que sublinharam a necessidade de manter a pressão económica sobre o regime de Vladimir Putin. O objetivo é intensificar as restrições sobre as capacidades industriais e a frota russa, sem abrir mão do compromisso com a diplomacia e a busca por uma solução pacífica.
Apesar dos sinais de alguns países, como os Estados Unidos sob a liderança de Trump, que discutem a possibilidade de flexibilizar certas sanções, o grupo de 31 países que estiveram presentes no Palácio do Eliseu concordaram que a unidade permanece essencial para alcançar um acordo de paz.
A mensagem que saiu do encontro é clara: este é o momento de aumentar, não diminuir, as sanções à Rússia, para garantir que o Kremlin compreenda a seriedade do isolamento económico e político.
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Líderes mundiais de 31 países reunidos esta quinta-feira, no Palácio do Eliseu, em Paris, para decidir o futuro da Ucrânia (EPA/Lusa) |
França e Reino Unido concordam em enviar delegação militar para a Ucrânia "dentro de dias"
Outro ponto abordado na cimeira desta quinta-feira foi o envio de apoio militar direto à Ucrânia. Macron anunciou que, em colaboração com o Reino Unido, França deverá enviar uma delegação militar para a Ucrânia “dentro de dias”. O objetivo é trabalhar de perto com as Forças Armadas ucranianas de forma a definir e a planear o futuro.
A equipa, que reúne os dois países, deverá concentrar-se na preparação do “formato das forças armadas ucranianas”, acrescenta o presidente francês.
Posteriormente, Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, divulgou mais informações sobre o envio das delegações. “O grupo de países pediu-me a mim e ao Emmanuel [Macron] que liderássemos a coordenação dos esforços”, indicou.
“Esta é uma força destinada a dissuadir, a fim de enviar a Putin a mensagem de que este é um acordo que vai ser defendido - essa é a melhor descrição”, disse.
Starmer lembrou, no entanto, que será preciso uma votação no parlamento inglês caso o país decida mesmo enviar tropas para a Ucrânia. “Não estamos nessa fase agora. Estamos na fase de transformar o momento político em planos operacionais”, reiterou, adotando uma posição mais recetiva do que Macron, que aproveitou o final da cimeira para fazer mais anúncios em nome do velho continente.
No caso de uma paz duradoura na Ucrânia, segundo o líder francês, será criada uma força de segurança europeia, composta por “vários países” da União. A missão dessa força será atuar como uma garantia de apoio a longo prazo, funcionando como uma barreira dissuasora contra possíveis agressões russas.
Macron esclareceu ainda que esta força não terá a função de substituir as tropas de manutenção de paz, nem atuará nas linhas de frente do conflito. A ideia é que atue em áreas estratégicas da Ucrânia, reforçando a segurança do país sem interferir diretamente nas operações militares em curso. Embora tenha reconhecido que não houve unanimidade entre os aliados europeus, o presidente francês afirmou que a força será composta por militares de "alguns Estados-membros" da coligação de apoio à Ucrânia.
O presidente de França também destacou que espera contar com o apoio de Trump – com quem falou ao telefone instantes antes da cimeira de Paris ter começado -, mas salientou que está preparado para um cenário em que Washington não esteja diretamente envolvido.
Ainda antes de qualquer conclusão, Macron, Starmer e Zelensky aproveitaram o encontro de Paris para cumprir uma reunião bilateral, à qual o presidente ucraniano descreveu como tendo sido "muito boa" para os ucranianos e para o próprio.
“Tivemos uma reunião bilateral muito boa e foi muito importante para nós, para os ucranianos e para mim pessoalmente”, afirmou, acrescentando que considera os EUA, o Reino Unido e França como “aceleradores” do processo de paz.
Montenegro não quis ficar para trás e anunciou novos milhões para Kiev
Portugal não quis ficar para trás e aproveitou para anunciar um apoio significativo a Kiev. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou que o Governo aprovou uma despesa de até 205 milhões de euros para apoiar a Ucrânia com equipamento militar. Este valor destina-se a fortalecer as capacidades das forças armadas ucranianas, permitindo-lhes não apenas manter a luta, mas também assegurar a dissuasão necessária para proteger a segurança da Ucrânia e da Europa em um cenário pós-guerra.
Em “Portugal, ao mesmo tempo que estávamos a realizar esta reunião, estávamos a decidir no Conselho de Ministros, em Lisboa, a autorização da despesa no valor de 205 milhões de euros, que concretiza o apoio militar em equipamento, em várias áreas que vão dotar as Forças Armadas ucranianas para poderem, não só continuar a fazer o seu combate, como assegurar, num processo de paz, toda a dissuasão para que a segurança da Ucrânia e da Europa esteja salvaguardada”, anunciou o primeiro-ministro à imprensa à saída do Palácio do Eliseu, em Paris.
Montenegro destacou a importância da União Europeia e da Aliança Atlântica no esforço coletivo, enfatizando que a decisão de apoiar a Ucrânia reflete um compromisso com uma paz justa e duradoura, com o envolvimento ativo da Ucrânia e da Europa.
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O primeiro-ministro, Luís Montenegro, é recebido por Emmanuel Macron, presidente de França, esta quinta-feira, no Palácio do Eliseu, em Paris (EPA/Lusa) |
Questionado sobre o possível envio de militares para a Ucrânia no âmbito de um processo de paz, Montenegro disse que abordou este tema na reunião. Para o chefe do executivo português, uma iniciativa nesse sentido deve ter "perspetivas de uma paz justa e duradoura" e deve considerar "medidas e garantias dos parceiros europeus e transatlânticos".
“Portugal não vai estar fora desse esforço para precisamente, no âmbito dessas garantias, podermos ter uma política de dissuasão e de manutenção de segurança. Mas estamos longe ainda, muito longe dessa fase. Nós assumimos o nosso compromisso com os nossos parceiros”, afirmou o primeiro-ministro.
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