Por CNN,Os ataques militares dos EUA a três instalações nucleares do Irão no passado fim de semana não destruíram os componentes centrais do programa nuclear do país e provavelmente apenas o atrasaram por alguns meses, de acordo com uma avaliação preliminar dos serviços de informações dos EUA, descrita por sete pessoas com conhecimento do assunto.
A avaliação, que não tinha sido anteriormente divulgada, foi produzida pela Agência de Informações da Defesa (DIA), o braço de informações do Pentágono. Baseia-se numa avaliação de danos de combate conduzida pelo Comando Central dos EUA após os ataques, disse uma das fontes.
A análise dos danos causados nos locais e do impacto dos ataques nas ambições nucleares do Irão continua em curso e poderá mudar à medida que mais informações se tornem disponíveis. No entanto, as conclusões iniciais contradizem as afirmações repetidas do Presidente Donald Trump de que os ataques “destruíram total e completamente” as instalações de enriquecimento nuclear do Irão. O Secretário da Defesa, Pete Hegseth, também afirmou no domingo que as ambições nucleares do Irão “foram obliteradas”.
Duas das pessoas familiarizadas com a avaliação disseram que o arsenal de urânio enriquecido do Irão não foi destruído. Uma dessas pessoas indicou que as centrifugadoras estão, em grande parte, “intactas”. Outra fonte afirmou que as informações recolhidas indicam que o urânio enriquecido foi retirado das instalações antes dos ataques dos EUA.
“Portanto, a avaliação da DIA é que os EUA os atrasaram talvez por alguns meses, no máximo”, acrescentou esta pessoa.
A Casa Branca reconheceu a existência da avaliação, mas disse discordar da mesma.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou à CNN, num comunicado em que sublinha que “essa suposta avaliação está completamente errada e foi classificada como ‘top secret’". "Mas ainda assim foi divulgada à CNN por um anónimo, um falhado de baixo escalão da comunidade de informações". "A divulgação desta avaliação é uma tentativa clara de diminuir o Presidente Trump e desacreditar os corajosos pilotos de combate que executaram perfeitamente a missão para obliterar o programa nuclear do Irão. Toda a gente sabe o que acontece quando se lançam catorze bombas de 30.000 libras com precisão: destruição total.”
Trump, que se encontra nos Países Baixos a participar na cimeira da NATO desta semana, respondeu à reportagem da CNN com uma publicação na Truth Social: “Um dos ataques militares mais bem-sucedidos da história,” escreveu, em maiúsculas, acrescentando: “As instalações nucleares do Irão estão completamente destruídas!”
O exército dos EUA afirmou que a operação decorreu conforme planeado e que foi um “sucesso esmagador”.
É ainda demasiado cedo para os EUA terem um retrato completo do impacto dos ataques, e nenhuma das fontes descreveu como a avaliação da DIA se compara à de outras agências de informações. Os EUA continuam a recolher informações, inclusive a partir do interior do Irão, enquanto avaliam os danos.
Israel realizou ataques contra instalações nucleares iranianas durante vários dias antes da operação dos EUA, mas afirmou necessitar das bombas penetrantes de 30.000 libras dos EUA para concluir a missão. Embora bombardeiros B-2 norte-americanos tenham lançado mais de uma dúzia dessas bombas sobre duas das instalações — a unidade de enriquecimento de combustível de Fordow e o complexo de enriquecimento de Natanz —, as bombas não eliminaram totalmente as centrifugadoras nem o urânio altamente enriquecido, segundo as fontes.
Em vez disso, o impacto nos três locais — Fordow, Natanz e Isfahan — ficou maioritariamente limitado às estruturas à superfície, que foram severamente danificadas, disseram as fontes. Isso inclui infraestruturas energéticas e algumas instalações utilizadas para transformar urânio em metal para fins bélicos.
A avaliação israelita do impacto dos ataques dos EUA também apontou para menos danos em Fordow do que o esperado. No entanto, responsáveis israelitas acreditam que a combinação das ações militares dos EUA e de Israel atrasou o programa nuclear iraniano em dois anos, assumindo que o Irão conseguiria reconstruí-lo sem impedimentos — o que Israel não permitirá. Porém, Israel já havia declarado publicamente, antes da operação dos EUA, que o programa iraniano tinha sido atrasado em dois anos.
Hegseth afirmou ainda à CNN: “Com base em tudo o que vimos — e eu vi tudo — a nossa campanha de bombardeamentos obliterou a capacidade do Irão de criar armas nucleares. As nossas bombas atingiram exatamente o local certo em cada alvo e funcionaram na perfeição. O impacto dessas bombas está soterrado debaixo de uma montanha de escombros no Irão; por isso, qualquer um que diga que as bombas não foram devastadoras está apenas a tentar minar o Presidente e a missão bem-sucedida.”
Na manhã de terça-feira, Trump voltou a insistir que os danos causados pelos ataques foram significativos. “Acho que foi completamente demolido,” disse, acrescentando: “Os pilotos atingiram os seus alvos. Os alvos foram obliterados, e os pilotos devem ser creditados por isso.”
Questionado sobre a possibilidade de o Irão reconstruir o seu programa nuclear, Trump respondeu: “Aquilo está debaixo da rocha. Aquilo está demolido.”
Apesar de Trump e Hegseth se mostrarem confiantes quanto ao sucesso dos ataques, o Chefe do Estado-Maior Conjunto, General Dan Caine, afirmou no domingo que, apesar de a avaliação de danos ainda estar em curso, seria “muito cedo” para dizer se o Irão ainda mantém alguma capacidade nuclear.
O congressista republicano Michael McCaul, ex-presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Câmara, recusou corroborar as declarações de Trump de que o programa nuclear iraniano tinha sido “obliterado”, quando questionado pela CNN na terça-feira.
“Fui informado sobre este plano no passado e nunca teve como objetivo destruir completamente as instalações nucleares, mas sim causar danos significativos,” disse McCaul, referindo-se aos planos militares dos EUA. “Mas sempre se soube que seria um revés temporário.”
Jeffrey Lewis, especialista em armamento e professor no Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, que analisou imagens de satélite comerciais dos locais bombardeados, concorda com a avaliação de que os ataques não parecem ter terminado com o programa nuclear iraniano.
“O cessar-fogo ocorreu sem que nem Israel nem os EUA conseguissem destruir várias instalações nucleares subterrâneas essenciais, incluindo perto de Natanz, Isfahan e Parchin,” disse Lewis, referindo-se ao cessar-fogo entre Israel e o Irão anunciado por Trump na segunda-feira. Parchin é um complexo nuclear separado perto de Teerão.
“Estas instalações podem servir de base para uma rápida reconstituição do programa nuclear iraniano.”
Na terça-feira, os briefings classificados para a Câmara dos Representantes e o Senado sobre a operação foram cancelados.
O briefing para todo o Senado foi adiado para quinta-feira, segundo duas fontes familiarizadas com o assunto.
Duas outras fontes disseram à CNN que o briefing para todos os deputados da Câmara também foi adiado. Não ficou imediatamente claro o motivo do adiamento nem quando será remarcado.
O deputado democrata Pat Ryan, de Nova Iorque, escreveu na rede X na terça-feira: “Trump acabou de cancelar um briefing classificado sobre os ataques ao Irão sem dar qualquer explicação. A verdadeira razão? Afirma que destruiu ‘todas as instalações e capacidades nucleares’; a sua equipa sabe que não pode sustentar esse exagero.”
Como a CNN já reportou, há muito que se questiona se as bombas bunker-buster dos EUA, conhecidas como Massive Ordnance Penetrators, seriam capazes de destruir completamente as instalações nucleares altamente fortificadas do Irão, enterradas a grande profundidade — em especial as de Fordow e Isfahan, o maior complexo de investigação nuclear iraniano.
Notavelmente, os EUA atingiram Isfahan com mísseis Tomahawk lançados de um submarino, em vez de bombas penetrantes. Isso porque se compreendia que a bomba provavelmente não penetraria com sucesso nos níveis inferiores de Isfahan, que estão enterrados ainda mais profundamente do que Fordow, disse uma das fontes.
Responsáveis norte-americanos acreditam também que o Irão mantém instalações nucleares secretas que não foram atingidas nos ataques e permanecem operacionais, segundo duas fontes.
O porta-voz do Exército israelita, Effie Defrin, frisou, em conferência de imprensa, que ainda não pode ser efetuado um balanço final sobre os danos provocados pelos bombardeamentos dos últimos dias.