Forças de segurança dos Camarões reprimiram este fim-de-semana protestos pela independência das regiões anglófonas do país, maioritariamente francófono. Separatistas declararam simbolicamente a independência.
Forças de segurança camaronesas patrulham rua em Buea
Os separatistas escolheram este domingo, 1 de outubro, aniversário da criação da República Federal dos Camarões, para proclamar simbolicamente a independência.
Pelo menos oito pessoas morreram e várias ficaram feridas durante a repressão dos protestos pelos soldados camaroneses e pela polícia, que usou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes.
Segundo a agência de notícias Reuters, Buea e Bamenda, as principais cidades anglófonas do país, estavam praticamente desertas ao final do dia, com a polícia a patrulhar as ruas, detendo qualquer residente que contrariasse as ordens para ficar em casa. Já no sábado, em Kumba, no sudoeste anglófono, as forças de segurança abateram um jovem.
Este domingo, na sua página oficial no Facebook, o Presidente Paul Biya condenou os protestos, afirmando que embora não seja proibido "expressar preocupações na República, nada de bom pode ser alcançado com excessos verbais, violência nas ruas e desafiando as autoridades."
Contra a "discriminação"
As manifestações inserem-se num movimento que, desde novembro de 2016, denuncia a discriminação do Governo contra a minoria de língua inglesa - cerca de 20% dos 22 milhões de camaroneses. Os protestos tornaram-se um estandarte da oposição ao Presidente Paul Biya, há 35 anos no poder.
Nas vésperas da proclamação simbólica da independência, cerca de 700 pessoas atacaram estações de polícia e infraestruturas estatais em Ekok, no sudoeste do país. Segundo os manifestantes, preparava-se já a implementação do novo Estado, a Ambazónia.
Tambe Elias, que se apresenta como líder das manifestações em Ekok, garante que os separatistas já não reconhecem o Paul Biya como chefe de Estado: "Ele não é ninguém e nunca significará nada para as pessoas de Ambazónia. Biya tem de partir", disse.
Antecedendo os protestos, o Governo camaronês proibiu reuniões com mais de quatro pessoas, mandou encerrar estações de autocarros, lojas e restaurantes, e proibiu as deslocações entre as diferentes regiões anglófonas. As autoridades ordenaram ainda o encerramento da fronteira com a Nigéria durante o fim-de-semana.
Debn Ignatius, residente de Ekok, critica o comportamento das forças de segurança: "Pediram a retirada da bandeira ambazoniana. Não creio que seja tarefa da polícia".
Protesto contra a independência das regiões anglófonas
"Falsas esperanças"
Na capital, Yaoundé, ministros e altos funcionários anglófonos receberam ordens de Paul Biya para convencer a população a não apoiar os separatistas. O secretário de Estado do Ministério das Minas, Fuh Calistus Gentry, promete alertar os camaroneses para o perigo das "falsas esperanças".
"Isto é uma guerra psicológica e as pessoas estão assustadas, porque alguns grupos fizeram as suas mentes reféns e deram falsas esperanças", afirma Gentry. "O Estado vai fazer tudo para assegurar os direitos fundamentais de todos e desintoxicar as mentes das pessoas convencidas por falsa esperança."
Entretanto, na cidade portuária de Douala, milhares de apoiantes do Governo marcharam contra os apelos à independência das regiões anglófonas.
O Presidente Paul Biya já afirmou que não está disponível para quaisquer negociações com os separatistas, sublinhando que o país é uno e indivisível.
Dw.com/pt