Prejuízos de um confronto direto na península coreana poderiam ser evitados se Kim Jong-un perdesse força dentro do país
Um confronto direto entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul teria um alto custo financeiro para ambos os lados e poderia matar milhares de militares e civis. Mas uma guerra como essa pode ser evitada, de acordo com especialistas entrevistados pelo R7, se o foco das ações da Coreia do Sul e de seus aliados fosse "atacar" a principal arma nas mãos do líder Kim Jong-un: o sistema de comunicação do país e a propaganda do governo.
Para o especialista em relações internacionais Diogo Costa, professor do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), se a população norte-coreana fosse alertada sobre como a propaganda do governo molda e censura a realidade no país, essa massa poderia se tornar uma aliada para pressionar o regime comunista a parar com as ameaças contra o Sul e os Estados Unidos.
— Eu apostaria que existe gente dentro do Pentágono que tem essa compreensão, que, se eles não lutarem uma guerra de informação, eles vão multiplicar os custos da guerra.
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Para o professor Costa, a propaganda é o pilar de sustentação do governo na Coreia do Norte. Sendo assim, o principal alvo a ser atingido seria o sistema de comunicação do país, formado pela agência de notícias KCNA e pela KCTV. Os Estados Unidos deveriam “capturar a transmissão da TV norte-coreana e passar uma mensagem para que as pessoas saibam qualquer coisa, porque elas não sabem nada”, disse Costa ao R7.
— Você tem gerações [de norte-coreanos] que estão vivendo uma mentira. Quando eles entrarem em contato com as maravilhas do mundo moderno, será uma transformação cultural sem precedentes.
Dessa forma, os Estados Unidos estariam “atacando” internamente a ideologia dos norte-coreanos, que idolatram os três governantes da família do atual líder Kim Jong-un, que sucede seu pai e avô no poder.
— A revelação do que é a vida fora da Coreia do Norte seria inicialmente um Armagedon bíblico [para os norte-coreanos]. Uma concretização da profecia de Kim Jong-il, de que os Estados Unidos e o Japão queriam matá-lo. Mas depois disso, eles entenderiam que estavam vivendo em uma realidade criada pelo governo.
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Marcelo Suano, diretor do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais, acredita que Kim Jong-un precisa manter o discurso forte para sustentar seu poder diante dos norte-coreanos e “garantir o controle das forças armadas e das lideranças militares [do país], que são muito mais velhas e questionam a autoridade de um indivíduo, que é um garoto”.
Suano também acredita que uma forma de evitar o confronto direto seria “os Estados Unidos usarem o serviço de inteligência do Estado para disseminar informação” aos norte-coreanos. Mas o especialista lembra que, muito além de tomar as transmissões da KCNA, os americanos teriam que manter esse controle até que o regime de Kim Jong-un fosse desestabilizado.
— Se o governo retomasse [rapidamente] as transmissões, iriam passar a ideia de que há mesmo uma intervenção estrangeira querendo se meter na Coreia do Norte.
A tensão na península coreana foi originada, em fevereiro deste ano, pela realização de um teste nuclear no Norte, condenado por muitos países e pela Organização das Nações Unidas (ONU). Após o teste, a ONU impôs uma série de sanções ao Norte, que, por sua vez, subiu o tom de ameaças, levantou o armistício de 1953 e declarou “Estado de Guerra” ao Sul. A consequência foi uma escalada militar na Àsia, com demonstrações militares do Sul e a implantação de sistemas de defesa por Japão e EUA. Os aliados da Coreia do Sul esperam para os próximos dias que o Norte realize mais um teste de míssil, o que agravaria ainda mais as tensões.