© Lassana Bary/TwitterPor LUSA 01/10/22
O presidente da Comissão da União Africana (UA) condenou hoje "de forma inequívoca" o golpe de Estado no Burkina Faso, cometido na sexta-feira por um grupo de soldados, tratando-se da segunda insurreição militar em oito meses.
Em comunicado emitido da sede da UA na capital etíope de Adis Abeba, o presidente da Comissão, Moussa Faki Mahamat, expressou "profunda preocupação com o ressurgimento de mudanças inconstitucionais de Governo no Burkina Faso e noutros lugares do continente africano".
Mahamat pediu às Forças Armadas do Burkina Faso que se abstenham "imediata e completamente de qualquer ato de violência ou ameaça" à população, às liberdades civis e aos direitos humanos.
O político chadiano também instou o exército a "garantir o cumprimento estrito dos prazos eleitorais para a restauração da ordem constitucional até 01 de julho de 2024".
No comunicado, publicado pela UA na sua conta na rede social Twitter, o presidente reafirmou o "apoio contínuo da União Africana ao povo do Burkina Faso, para garantir a paz, a estabilidade e o desenvolvimento do país".
Mahamat também transmitiu o seu apoio à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que esta manhã também condenou o golpe.
Um grupo de soldados liderados pelo capitão do Exército burquinense Ibrahim Traoré levou a cabo um golpe, na sexta-feira, que derrubou o líder da junta militar que governava o país, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba.
Em mensagem dirigida à nação na noite de sexta-feira, os perpetradores do golpe acusaram Damiba de se desviar do ideal do Movimento Patriótico de Salvaguarda e Restauração (MPSR), nome da junta que tomou o poder no golpe de 24 de janeiro, e de não acabar com a insegurança causada pelo terrorismo 'jihadista'.
Após um dia de confusão marcado por uma insurreição militar e tiros disparados em zonas estratégicas da capital, Ouagadougou, os autores do golpe anunciaram a suspensão da Constituição e da Carta de Transição.
Da mesma forma, os militares liderados por Traoré, o novo homem forte do país, decretaram a dissolução do Governo e da Assembleia Legislativa de Transição e instituíram um recolher obrigatório entre as 21:00 e as 05:00.
Os autores do golpe também ordenaram o encerramento das fronteiras nacionais e a suspensão de todas as atividades políticas e da sociedade civil.
O Burkina Faso tem sofrido frequentes ataques 'jihadistas' desde abril de 2015, cometidos por grupos ligados tanto à Al Qaeda quanto ao Estado Islâmico, cujas ações afetam particularmente o norte do país.
Em novembro de 2021, um ataque a um posto militar causou 53 mortes (49 militares e quatro civis), o que gerou grande descontentamento social que levou a fortes protestos, exigindo a renúncia do presidente burquinense, Roch Marc Christian Kaboré.
Meses depois, em 24 de janeiro, os militares liderados por Damiba tomaram o poder através de um golpe, o quarto na África Ocidental desde agosto de 2020, e depuseram o presidente.
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Por LUSA 01/10/22
Algumas das principais ruas e estradas de Ouagadougou, capital de Burkina-Faso, voltaram hoje a ser bloqueadas por soldados, um dia depois do golpe de Estado que depôs o líder da Junta Militar.
O regresso de tensões à capital ocorre no dia seguinte ao golpe de Estado em que militares depuseram das funções de chefe da Junta Militar o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, ele próprio chegado ao poder por um outro golpe, em janeiro.
Várias testemunhas relataram ter ouvido uma rajada de tiros perto da rotunda das Nações Unidas, no centro da cidade, no final da manhã de hoje.
Tal como aconteceu na sexta-feira, os soldados bloquearam as principais vias da cidade, em particular no bairro de Ouaga 2000, onde se encontra o edifício da presidência, enquanto helicópteros sobrevoavam a capital e os comerciantes voltavam a fechar as suas lojas.
Na noite de sexta-feira, depois de um dia de tiroteios no distrito da presidência em Ouagadougou, cerca de 15 soldados fardados e alguns encapuzados tomaram conta das instalações da Rádio e da TV nacional, anunciando a destituição de Damiba -- cujo destino ainda permanece desconhecido -- e o encerramento de fronteiras terrestres e aéreas, bem como a suspensão da Constituição e a dissolução do Governo e da Assembleia Legislativa de Transição.
Para justificar a iniciativa, os militares invocaram "a contínua deterioração da situação de segurança" no país.
O novo chefe da Junta Militar, capitão Ibrahim Traoré, era até agora o comandante do corpo do Regimento de Artilharia Kaya, no norte do país, recentemente atingido por ataques 'jihadistas'.
A União Europeia (UE) já condenou o golpe de Estado de sexta-feira, através do Alto Representante para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, que em comunicado denunciou a ameaça aos esforços de transição de poder no Burkina-Faso.
"A União Europeia apela ao cumprimento dos compromissos assumidos, que constituíram a base do acordo alcançado com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), em 03 de julho, com o objetivo de apoiar o Burkina-Faso no regresso à ordem constitucional até, o mais tardar, 01 de julho de 2024", disse Borrell no comunicado.
O chefe da diplomacia europeia também lamentou a deterioração da situação humanitária e de segurança no país e assegurou que a UE está "ao lado do povo do Burkina-Faso nestes tempos difíceis".
Desde abril de 2015 que o país tem sofrido frequentes ataques 'jihadistas', cometidos por grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico (EI), sobretudo no norte do país.
Em 24 de janeiro deste ano, um grupo de militares liderados por Damiba tinha tomado o poder num golpe de Estado, depondo o Presidente em funções.