O Ministério da Saúde da Gâmbia colocou centenas de jovens nas ruas para recolher porta-a-porta xarope, associado à morte de 66 crianças. A Organização Mundial de Saúde emitiu um alerta em resposta às mortes.
Os gambianos estão a exigir justiça para as 66 crianças que morreram de lesões renais agudas associadas à toma de xaropes para tosse fabricados na Índia.
A Nova Delhi diz que suspendeu as licenças dos fabricantes de medicamentos e está a investigar a tragédia. Na semana passada a Organização Mundial de Saúde (OMS)alertou que o fármaco poderia ser responsável pelas mortes de dezenas de crianças na Gâmbia.
As autoridades gambianas informam que mais de 81 crianças continuam sob observação médica.
"Acho que isso não deveria acontecer na Gâmbia", disse à DW Alasan Kamaso, que perdeu seu filho Musa, de dois anos.
Os pais temem agora que os filhos fiquem doentes, conforme explica Ebrima Jabbi, da Cruz Vermelha da Gâmbia.
"É um pouco decepcionante para muitos deles ver os funcionários da saúde dizer-lhes que os medicamentos que demos não estão bons. Mas, apesar disso, não querem arriscar a vida dos seus filhos e vão aceitar o que estamos a dizer … Eles vão devolver os medicamentos", afrimou Jabbi.
Protesto na Gâmbia
A OMS emitiu um alerta para uma série de xaropes para tosse e resfriado feitos na Índia
O órgão regulador médico da Índia, a Central Drugs Standard Control Organization (CDSCO) diz que estão a analisar as amostras enviadas às autoridades.
Quando as investigações começaram na Índia, muitos gambianos se reuniram em uma praça em SereKunda, nos arredores da capital Banjul, para lamentar a morte das crianças e orar por aqueles que ainda estão em estado crítico.
"Estamos a fazer a vigília à luz de velas e um culto de oração para exigir a resposta das autoridades pelas 66 crianças que morreram como resultado de negligência", disse a ativista de direitos humanos Madi Jobarteh.
Jobarteh atribuiu a tragédia ao fracasso do Governo em garantir que os sistemas funcionassem de forma a não permitir que drogas nocivas entrassem no país e matassem crianças.
As autoridades da Gâmbia levaram quatro dias para informar sobre as mortes na sequência de lesão renal aguda associada à toma destes fármacos. A Gâmbia não possui equipamentos de teste disponíveis para detectar esses casos, por isso, as amostras foram enviadas para o país vizinho Senegal.
OMS faz alerta
Na semana passada, a OMS emitiu um alerta contra quatro xaropes para tosse e resfriado – Promethazine Oral Solution, Kofexmalin Baby Cough Syrup, Makoff Baby Cough Syrup e Magrip N Cold Syrup – que podem ser responsáveis pela morte das crianças.
"A OMS emitiu um alerta para produto médico sobre quatro medicamentos contaminados identificados na Gâmbia que foram potencialmente associados a lesões renais agudas e a 66 mortes entre crianças", disse o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Como resultado, as autoridades da Gâmbia conseguiram confiscar mais de 16.000 doses de medicamentos recolhidos – incluindo paracetamol e xarope para tosse fabricados pelo fabricante indiano Maiden.
Gambianos exigem justiça pela morte das crianças
De acordo com Kamaso, Governo agiu muito tarde. "Após a morte das primeiras crianças, o Governo deveria ter tomado medidas para descobrir a causa. Em vez disso, permitiu que [ficasse] fora de controle".
O relatório da OMS diz que as crianças desenvolveram lesões renais agudas devido ao envenenamento por dietilenoglicol descoberto nos quatro xaropes. "Os quatro xaropes foram enviados para testes em um laboratório regional de testes de drogas em Chandigarh", disse um funcionário do Ministério da Saúde indiano à DW.
Presidente Barrow criticado por comentário 'irresponsável'
Alguns gambianos criticaram o Presidente Adama Barrow por "minimizar" a morte das crianças. Falando na televisão nacional, Barrow disse que as mortes das crianças não foram tão diferentes da taxa de mortalidade infantil do país no ano passado. No entanto, seu gabinete foi rápido em controlar os danos, dizendo que o Presidente estava a explicar os padrões das doenças e não era insensível à perda de vidas.
Presidente da Gâmbia alvo de críticas
Apesar da declaração oficial do Presidente, alguns gambianos continuaram a criticar Barrow. Por exemplo, a Child Protection Alliance (CPA), um órgão não governamental de bem-estar infantil, descreveu os comentários do Presidente Barrow como "decepcionantes" e "irresponsáveis".
O presidente da Gâmbia, Adama Barrow, prometeu uma investigação, sem falhas, a este caso que está a chocar este país de 2,4 milhões de pessoas.
Os quatro medicamentos suspeitos pela morte destas crianças são xaropes para tosse e constipação produzidos por um laboratório da Índia.
Embora ainda só tenham sido detetados na Gâmbia, os xaropes contaminados poderão ter sido distribuídos noutros países, alertou a organização, que está a investigar a empresa e as autoridades regulatórias na Índia.