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POR LUSA 03/05/23
O ambiente do jornalismo é mau em sete em cada 10 países, revela a 21.ª edição do Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, hoje divulgado pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
No Dia Mundial da Liberdade, que hoje se celebra, o relatório da RSF - que analisa a situação em 180 países ou territórios - diz que a situação é "muito má" em 31 países, "má" em 42 países, "problemática" em 55 e "boa" ou "razoavelmente boa" em 52 países.
Pelo sétimo ano consecutivo, a Noruega aparece como o país com melhor ambiente para o jornalismo, mas o segundo lugar não é ocupado por um país nórdico (o que é invulgar em relação às recentes edições do inquérito), surgindo aí a Irlanda, que subiu quatro posições, ficando à frente da Dinamarca.
Portugal aparece em nono lugar, a primeira posição no patamar dos países com a classificação de ambiente "razoavelmente bom", a uma posição do patamar de "bom", atrás da Estónia e à frente de Timor-Leste, Liechtenstein e Suíça.
Nos três últimos lugares do 'ranking' da RSF aparecem apenas países asiáticos: Vietname (um país acusado de ter expulsado todos os jornalistas independentes), China (que caiu quatro posições no último ano) e Coreia do Norte (que é considerado um dos maiores exportadores de propaganda).
O relatório revela ainda que o cenário de desinformação global tem sido favorável para o aumento de propaganda na Rússia, que aparece no lugar 164 da lista, depois de cair nove lugares no último ano.
Os Estados Unidos também caíram três posições nos últimos 12 meses, com registo de um ambiente mais problemático para os jornalistas a nível da imprensa regional, nomeadamente por causa de situações de violência sobre repórteres.
"O Índice Mundial de Liberdade de Imprensa mostra uma enorme volatilidade, com grandes subidas e quedas e mudanças inéditas, como a ascensão do Brasil à 18ª posição e a queda de 31 lugares do Senegal. Essa instabilidade é resultado do aumento agressividade por parte das autoridades em muitos países e da crescente animosidade contra jornalistas nas redes sociais e no mundo físico", comentou Christophe Deloire, secretário-geral da RSF.
A edição deste ano do Índice sublinha ainda os efeitos dramáticos provocados pelo impacto do ecossistema digital, nomeadamente as redes sociais digitais, no fluxo informativo.
Em 118 países, a maioria dos inquiridos por este inquérito relataram situações em que os atores políticos nos seus países foram sistematicamente envolvidos em campanhas massivas de desinformação nas redes sociais.
Por outro lado, este documento da RSF destaca que a fronteira entre o que é verdadeiro e o que é falso, entre o real e o fictício é cada vez mais ténue e difícil de aferir.
A organização antecipa que esta situação pode agravar-se nos próximos anos, com a emergência de mecanismos de Inteligência Artificial (IA) no terreno da produção de conteúdos informativos, alavancada pelas recentes evoluções.
"A IA está a digerir conteúdo e a regurgitá-lo de forma sintética com regras que desrespeitam os princípios de rigor e fiabilidade", concluem os analistas do Índice hoje divulgado.