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POR LUSA 21/08/23
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) considerou hoje "inaceitável" um período de transição máximo de "três anos" apontado pelo líder da junta militar do Níger, general Abdourahamane Tiani, que tomou o poder em 26 de julho.
"Um período de transição de três anos é inaceitável", disse Abdel-Fatau Musah, comissário para a segurança e política da CEDEAO, numa entrevista à Al Jazeera, reagindo ao anúncio que fez no sábado o líder da junta militar que derrubou o Presidente eleito, Mohamed Bazoum.
"Queremos que a ordem constitucional seja restaurada o mais rápido possível", disse Musah.
No sábado, uma delegação da CEDEAO liderada pelo ex-presidente nigeriano Abdulsalami Abubakar deslocou-se ao Níger para negociar uma saída para a crise.
Ao contrário de uma mediação anterior da África Ocidental, no início de agosto, desta vez os emissários puderam trocar impressões com o general Tiani, e também contactar com Mohamed Bazoum, mantido prisioneiro desde o golpe.
A reunião, na qual participou o líder da junta, foi marcada pela diferença de tom que os militares adotaram, sendo inflexíveis na manutenção do poder, mas pedindo desculpa por qualquer eventual desrespeito relativamente ao bloco regional.
Durante as conversações, Tiani defendeu o fim das sanções económicas e da proibição de viagens, impostas pela CEDEAO na sequência do golpe de Estado de 26 de julho, argumentando com o sofrimento da população.
Pouco depois da reunião, o general foi à televisão garantir que a transição para o poder político pode durar até três anos e ameaçou as forças estrangeiras sobre um eventual ataque.
"Se um ataque for preparado contra nós, não será o 'passeio no parque' que alguns parecem acreditar", alertou.
A saída da crise ainda está longe de ser alcançada porque a CEDEAO exige a reintegração de Bazoum e a sua libertação imediata.
A organização da África Ocidental, que impõe pesadas sanções económicas contra o Níger desde 30 de julho, ameaça usar a força se não obtiver resposta às suas solicitações, mas não especifica o calendário ou os detalhes de tal operação.
Neste contexto de instabilidade, o ex-líder rebelde tuaregue Rhissa Ag Boula anunciou que pode voltar a pegar em armas para retirar do poder a junta militar, depois de considerar que a mediação da CEDEAO falhou.
Num comunicado do grupo que lidera, divulgado no domingo, manifestou o seu apoio à CEDEAO no objetivo de retirar a junta militar do poder, mas considera necessário iniciar "hostilidades" contra "os inimigos da paz e da tranquilidade social" para o conseguir.
Boula está determinado a iniciar uma "ação militar" para garantir que a estabilidade política regresse ao Níger e indicou que os militares serão "os únicos responsáveis" pelas consequências que o golpe pode trazer.
O Níger é o quarto país da África Ocidental a ser liderado por uma junta militar, depois do Mali, da Guiné-Conacri e do Burkina Faso, que também tiveram golpes de Estado entre 2020 e 2022.
Desde o derrube do regime do Presidente Bazoum, a comunidade internacional teme ainda mais instabilidade na região do Sahel, que enfrenta crescentes insurgências de grupos fundamentalistas islâmicos ligados aos grupos extremistas Estado Islâmico e Al-Qaida.