© Dima Korotayev/Epsilon/Getty ImagesPOR LUSA 22/02/24
O embaixador da Rússia em Lisboa, Mikhail Kamynin, negou hoje que Moscovo pretenda destruir a União Europeia (UE) e acusou os líderes europeus de "desperdiçar mil milhões de euros" para militarizar Kiev.
Mikhail Kamynin respondeu hoje, num comentário publicado no 'site' da embaixada russa em Portugal, a uma entrevista na terça-feira, à agência Lusa, do ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, que acusou o Presidente russo Vladimir Putin de "não quer apenas um pedaço de território ucraniano", mas sim "destruir" a UE.
Para o representante da diplomacia russa em Portugal, a Rússia "nunca procurou 'destruir o projeto europeu', do que se convenceram erradamente funcionários na UE".
"A história das nossas relações com Bruxelas, as iniciativas russas dedicadas à construção de um espaço único da cooperação e segurança de Lisboa a Vladivostok [maior cidade portuária da Rússia no oceano Pacífico], bem como o cumprimento consciente por Moscovo de compromissos de parceria no âmbito tanto político como económico, são provas ilustrativas disto", frisou.
Kamynin acusou os países ocidentais de estarem "envolvidos diretamente no atual conflito na Ucrânia".
"Não escondem que desejam uma 'derrota estratégica' da Rússia no campo de batalha ao não conseguir abafar Moscovo pelas sanções económicas ilegais e isolá-lo no palco internacional. Esta aspiração é tão forte que estão prontos para desperdiçar mil milhões de euros dos contribuintes a fim de militarizar Kiev, ao ignorar ao mesmo tempo os seus numerosos problemas internos", destacou o diplomata russo.
Na mesma publicação em resposta a Cravinho, o embaixador russo em Lisboa recuou aos protestos entre 2013 e 2014, acusando o Ocidente de provocar a "situação atual na Ucrânia".
"É óbvio que o golpe de Estado de 22 de fevereiro de 2014, que exatamente hoje faz 10 anos, não teria sido possível sem participação direta dos Estados Unidos e dalguns membros da União Europeia", realçou.
Há dez anos, os protestos que tinham irrompido em 2013 acabaram por ser reprimidos pela polícias na principal praça da capital da Ucrânia, a Praça da Independência que ficou conhecida como a "Euromaidan" (junção entre os termos euro e maidan, nome ucraniano para praça), uma onda de agitação civil que levou à renúncia do então Presidente pró-russo Viktor Yanukovych e do seu governo.
Para Mikhail Kamynin, Washington e Bruxelas apoiaram "o empenho determinado de neonazis, que chegaram ao poder, na rutura dos laços historicamente estreitos com Moscovo".
O embaixador russo salientou ainda que "a política das novas autoridades ucranianas tem sido acompanhada por assassinatos de líderes de opinião pró-russos, discriminação linguística e opressões religiosas".
"Por fim, em 2014, o regime de Kiev desencadeou um genocídio da população do Donbass (leste) chamado "operação antiterrorista", cujas vítimas mortais foram mais de 13 mil pessoas, inclusive crianças", vincou ainda.
No sábado assinalam-se dois anos sobre a ofensiva militar russa no território ucraniano que mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022 e declarou como anexadas à Federação Russa as regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia.
Moscovo já tinha anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014.
Kiev e a generalidade da comunidade internacional não reconhecem as anexações.
A Ucrânia exige a retirada total das tropas russas do seu território, incluindo da Crimeia, como condição prévia para eventuais conversações de paz.