INTRODUÇÃO
Desde que comecei á escrever que vivo tentando contar a história sobre tudo que sei do sofrimento de cada uma daquelas tantas mulheres que passaram pela cadeia de S.Paulo , e vi com os meus próprios olhos passar umas poucas vezes pelo pátio da cadeia , quando não com lágrimas no rosto era com o sangue lhes correndo pelas pernas.Houve vezes que por falta de força e coragem para controlar as minhas emoções e não chorar , me senti derrubado e sem palavras para meter no papel toda aquela história sobre Luísa Fontes que antes de ser morta ainda lutou quando os carcereiros lhe tentaram violar sexualmente ou da Maria Bartolomeu do bairro Sambizanga que para a satisfação das suas bizarras paranoia ate o cano da pistola o Bonifácio deu-se ao luxo de enfiar - lhe pela vagina á baixo.
Mas agora que acredito que Deus finalmente não tinha abandonado todas aquelas mulheres e ainda bem , pois a prova está ai , o facto de algumas estarem ainda vivas muito embora condenadas á terem que carregar ate ao fim das suas vidas o peso dos traumas psicológicos , especialmente aquelas que depois da cadeia não fizeram um tratamento adequado.
MANOS ( AS ) VOCÊS NÃO IMAGINAM O QUE ELAS PASSARAM , E É PENA QUE AINDA NENHUMA DAS KAMBAS QUER SER ELA PRÓPRIA Á CONTAR !
Conheço mulheres que vivem ate hoje se sentindo culpadas pelo facto do esconderijo onde estavão seus maridos só terem sido descobertos , por elas não terem resistido a tortura que sofriam e acabaram por dar com os dentes á língua , e assim seus maridos acabaram mortos logo depois..
Eles entraram de madrugada pontapeando portas e janelas vasculharam á casa toda á procura do comissário político ( Santos ) este uma grande referencia para mim dos tempos de Cabinda , bateram na mulher obrigando á descobrir onde ele estava mas ela sempre disse que não sabia do seu paradeiro.
Por azar dos diabos um dos homens abriu um guarda fatos e deu com o nosso saudoso , querido e inesquecível amigo Santos , levaram - o , e mataram-o , e sua mulher foi detida passando pela CR ( Casa da reclusão ) e campo de concentração do Tari / Kibala.
Não sei se ela ainda vive , sinto saudades dela , pois foi a primeira mulher na vida á quem ofereci um poema de minha autoria no dia do seu aniversário nas masmorras da DISA.
" Fui levada á casa mortuária para ser fuzilada confundiram-me com uma mulata de Benguela e o que me salvou foi o facto de um dos militares ter dado conta que eu não tinha á tatuagem que eles sabiam ela tinha , me confessou uma senhora que de agente secreta ao serviço da DISA , foi transformada em implicada e não perdeu a vida por um triz "
Nunca tinha visto tantos cadáveres amontoado repleto de moscas e ainda assim deu para reconhecer alguns jovens do Sambizanga que tinham sido seus colegas alguns dos quais foram meus chefes operativos concluiu ela.
Falar do sofrimento destas mulheres é muito mais do que isto , pois para alem das chicotadas e todo tipo de humilhações que passavam consoante o torturador que cada uma delas tivesse pela frente mas também do sexismo e da violação sexual á que foram vitimas.
Quanto estou informado ,foram poucas as mulheres que não foram interrogadas nuas , diante dos olhos cobiçoso daqueles mais velhos e jovens oficiais e carcereiros da DISA muitos ate conhecidos delas que já sabiam algumas depois seriam mortas.
( ANY ) ANA DIAS LOURENÇO
Simplesmente ( Any ) assim ela era conhecida , quer no liceu feminino onde estudou com algumas miúdas do bairro , assim como na cadeia de S.Paulo por onde passou.
Recordo-me dela ainda tão bem com se fosse hoje , assim como de outras tantas , algumas das quais da minha relação amistosa caso concreto a Ricarda ( Ricardina ) irmã do famoso José Carrasquinha que estava gravida no dia em que foi detida , assim com a Luísa Fontes minha colega de farda em Cabinda , a Branquinha do Sambizanga que era militar e andava com o Juka que era repórter da Angop na altura entre outras.
( Any ) Das vezes que a vi passar pelo pátio acompanhada por carcereiros quando ia á enfermaria facilmente se lia no seu rosto a tristeza , o desespero e o medo de ser morta tão jovem que era e com muita vontade para viver.
Felizmente ela sobreviveu e ainda bem , pois quem sabe ela própria e outras qualquer dia nos contam com as suas próprias vozes , tudo quanto passaram e como foi essa história de algumas delas depois se terem tornado esposas de figuras ligadas já na altura ao regime, pois conheço outros casos.
DUMILDE RANGEL ( NAMBY ) MATETA , LOPO LOUREIRO & AS PRESAS NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO TARI
Este é o titulo reservado para a próxima cronica ainda sobre o sofrimentos das mulheres no campo de concentração do Tari / Kibala.
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Fernando Vumby