O presidente do Sindicato Nacional dos Enfermeiros e Técnicos de Saúde e Afins (SINETSA), Yoio João Correia, insurgiu-se contra o governo e a sociedade civil acusando-os de não reconhecerem os trabalhos que os enfermeiros desenvolvem para a Saúde pública.
As lamentações do sindicalista foram registadas pelo O Democrata esta quinta-feira, 12 de maio de 2022, no âmbito da celebração do dia internacional de enfermeiros, em homenagem à Florence Nightinhale, considerada fundadora da enfermagem moderna.
Yoio João Correia defendeu que os enfermeiros e os técnicos de saúde não devem ficar de braços cruzados à espera que aconteçam milagres, mas sim, promover ações para que a sociedade sinta a presença dos enfermeiros para garantir uma relação efetiva.
“Não existe nenhuma equipa médica nacional que não tenha um técnico de enfermagem, porque a sua vocação é prestar cuidados diretos aos pacientes”, sublinhou, para de seguida realçar que devido ao seu papel nos hospitais, um número considerável de enfermeiros foi vítima da pandemia da Covid-19.
“Este fato por si só revela que sempre estamos na linha de frente, mas somos sistematicamente menosprezados”, ironizou.
Segundo o ativista, o lema escolhido este ano para a comemoração da data “enfermeiros, uma voz única para liderar”, revela que é chegada a altura de reclamar lugares de destaque.
O também docente universitário lembrou que na enfermagem têm diferentes categorias, nomeadamente ajudantes de enfermagem e especialistas, mas ” a primeira categoria está a desaparecer devido à desvalorização da classe”.
Para Yoyo Correia, se o governo investisse mais em equipar centros hospitalares e criar melhores condições de trabalho, teria menos gastos em campanhas de prevenção, sensibilização e vacinas.
Relativamente ao cumprimento da ética e a deontológico profissional, referiu que é uma obrigação de cada profissional.
Neste particular, Correia reconheceu, contudo, que a situação tem estado a mudar paulatinamente, porque também a sociedade está a ser mais exigente e ousada em fazer denúncias, mas disse que há necessidade de a inspeção trabalhar rigorosamente para punir os técnicos que, às vezes, promovem más práticas nos hospitais e nos centros de saúde.
Apelou às faculdades de enfermagem e à Ordem dos Enfermeiros a trabalhar em sinergia para estancar tais comportamentos, sugerindo uma regulamentação séria, como também formação e capacitação de enfermeiros.
De acordo com o Presidente da SINETSA, apesar dos esforços do governo em efetuar pagamento aos recém-colocados, ainda há um número considerável que não recebeu ainda 17 meses de salários.
Disse também que para além dos recém-colocados, o governo tem dívidas salariais, desde 2015, subsídios de vela e do isolamento, desde 2018.
Yoio Correia revelou que o salário de um técnico de enfermagem varia de 70 a 140 mil francos CFA.
ENFERMEIROS RECOMENDAM MAIOR EFICÁCIA NOS CUIDADOS PRESTADOS À POPULAÇÃO
No quadro do dia internacional da enfermagem, O Democrata ouviu também enfermeiras que estavam de plantão no Hospital Nacional Simão Mendes, nos serviços de urgência e da Pediatria, que pediram maior atenção do executivo.
Para a enfermeira Francisca Mussante da Silva é um dia importante para todos, especialmente para os enfermeiros que trabalham para salvar vidas.
Francisca Mussante chamou atenção dos colegas relativamente ao comprimento da ética profissional, ser mais tolerantes com os pacientes, que às vezes “perdem paciência com enfermeiros quando se encontram em estado de aflição”.
“Ao governo queremos apenas que tenha atenção especial para o setor de saúde. É preciso um investimento sério nos hospitais”, exortou.
Por sua vez, a enfermeira Nadi Sambu, uma das recém-colocadas, disse que 12 de maio deveria servir para repensar a classe “tão nobre” e a situação dos seus técnicos, movidos pela paixão de cuidar dos outros.
“Infelizmente, é uma profissão que não é respeitada na Guiné-Bissau. Só nós podemos testemunhar sacrifícios que passamos e riscos de vida que corremos quando cuidamos dos doentes”, realçou.
Relativamente às condições de trabalho, disse que tentam adaptar-se aos materiais disponíveis, tendo em conta a situação de precariedade geral de saúde no país.
Contou que desde a sua colocação, em 2020, nunca recebeu nem sequer um mês. Porém, disse estar esperançosa que em breve poderá superar esse “calvário” de vários anos de jejum, tendo realçado a dinâmica do governo em relação à situação dos técnicos de saúde recém-colocadas.
Por. Epifânia Mendonça
Foto: E.M