visao.sapo.pt 23.09.2020
O Presidente cessante da Guiné-Conacri, Alpha Condé, apelou aos elementos da sua etnia para se unirem em torno da sua candidatura controversa a um terceiro mandato, qualificando a próxima eleição presidencial como uma "guerra" entre Governo e oposição
“Esta eleição não é apenas uma eleição, é como se estivéssemos em guerra”, disse Condé, em língua mandinga, aos seus apoiantes em Siguiri, o seu reduto eleitoral. O discurso foi feito através de uma videoconferência, que foi transmitida na televisão nacional na terça-feira à noite. Por norma, Condé utiliza o francês nos discursos oficiais.
“Os outros candidatos formaram um bloco para me combater”, sublinhou, referindo-se à recente decisão dos seus 11 opositores de constituírem uma formação coletiva para falarem a uma só voz sobre o processo eleitoral, tendo em conta suspeitas sobre a validade das listas eleitorais.
No seu primeiro discurso de campanha em 19 de setembro último, também em mandinga e transmitido pela televisão nacional, Alpha Condé advertiu os eleitores em Kankan (leste do país) contra a tentação de entregarem os votos a outro candidato dessa comunidade.
“Votar num candidato mandinga que não seja do RPG [União do Povo da Guiné (Rassemblement du Peuple de Guinée), partido no poder], é o mesmo que votar em Cellou Dalein Diallo”, afirmou Condé, referindo-se ao seu principal opositor, membro da etnia fula.
“Na região de Fouta, não há outro candidato para além de Cellou”, disse, numa alusão à região de Fouta-Djalon (no centro do país), bastião eleitoral de Diallo, cuja população maioritária é de etnia fula.
Os fula e os mandinga são as duas principais comunidades do país, que, juntas, representam a grande maioria da população.
“Vocês não esqueceram o que aconteceu depois da morte de Sékou Touré”, o primeiro presidente do país, em 1984, acrescentou Condé, numa referência ao saque de bens pertencentes aos mandinga, após a tentativa falhada do então primeiro-ministro, Diarra Traoré, membro daquela comunidade, de tomar o poder no ano seguinte.
Condé, atualmente com 82 anos, foi em 2010 o primeiro Presidente democraticamente eleito da Guiné-Conacri, país vizinho da Guiné-Bissau, depois de décadas de regimes autoritários, tendo sido reeleito em 2015.
Em março deste ano, Condé promoveu a realização de um referendo constitucional, muito contestado, que mantém o limite de dois mandatos presidenciais, sendo que argumenta que a alteração à Lei Fundamental do país coloca o contador a zeros.
Os seus adversários têm denunciado o que chamam um “golpe de Estado constitucional” e os protestos contra a nova candidatura de Condé têm mobilizado, por diversas vezes desde outubro de 2019, muitos milhares de guineenses.
Estes protestos foram duramente reprimidos em várias ocasiões e dezenas de civis foram mortos em confrontos.
APL // VM
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