sábado, 14 de maio de 2016

CS da ONU diz pronto para tomar decisões sobre Guiné-Bissau


PAIGC critica secretário-executivo da CPLP
 

Os 15 Estados-membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas estão prontos para tomar medidas para ultrapassar a crise na Guiné-Bissau.

A informação foi revelada pelo embaixador do Egipto junto das Nações Unidas numa nota que, no entanto, não dá detalhes sobre eventuais medidas, destacando apenas a preocupação com a tensão política e institucional no país.

Abdellatif Aboulatta, que preside o Conselho de Segurança neste mês, emitiu a nota depois de o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, ter demitido no dia 12 o segundo Governo do PAIGC em nove meses, o terceiro desde que em Agosto exonerou Domingos Simões Pereira.

Na sexta-feira, 13, Vaz começou a ouvir os partidos políticos com vista à formação de um novo Governo.

A demissão

O PAIGC criticou a decisão e voltou a defender a realização de eleições legislativas, enquanto o Presidente da República considerou que eleições antecipadas não resolvem o problema e são muito custosas para o país.

​O PRS, principal partido na oposição, congratulou-se com a decisão de José Mário Vaz e, segundo o seu porta-voz Hélder Pereira, em declarações à VOA, o PAIGC tem a terceira oportunidade de formar um Governo com base alargada e sem excluir ninguém.

PAIGC critica secretário-geral da CPLP

A nível internacional, os Governos de Cabo Verde e Portugal dizem acompanhar com atenção a situação na Guiné-Bissau, enquanto o secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) Murade Murargy admitiu na sexta-feira que o país possa ter um novo Executivo sem o PAIGC, se tal trouxer estabilidade, até porque a organização não tem dinheiro para patrocinar novas eleições.

Em resposta, o partido vencedor das eleições em 2014 emitiu um comunicado em que acusa Murargy de "perder de vista a construção democrática", como "pressuposto fundamental para a paz e a estabilidade".

O PAIGC refere que os valores democráticos "não têm preço e se têm só o povo guineense pode fixar os respetivos valores".

O partido classifica a hipótese colocada por Murargy como "inconstitucional" e questiona: "como é que ousa fazer esta afirmação, nem que fosse simplesmente por respeito ao povo guineense, que merece todo a consideração dos seus irmãos e pares de língua portuguesa".

Para o PAIGC, o secretário-executivo da CPLP ficou cansado dos muitos problemas que a Guiné-Bissau lhe tem causado ao ponto de escolher o caminho mais curto e o que lhe parece mais barato", acrescenta o comunicado, que diz esperar que a actual presidência de Timor Leste da CPLP corrija "esta deriva de princípios e valores que só conseguimos atribuir ao cansaço e à alguma desatenção e fadiga" de Murade Murargy, que, recorde-se, está em fim de mandato.
VOA.

CPLP ACEITA NOVO GOVERNO SEM PAIGC SE TAL SE TRADUZIR EM PAZ E ESTABILIDADE - SECRETÁRIO-EXECUTIVO

O secretário-executivo da CPLP afirmou hoje que aceitaria um novo Governo sem o partido vencedor das legislativas (PAIGC) se tal permitir formar uma maioria estável e trazer paz e estabilidade, depois de o Presidente guineense ter demitido o Governo.
 
Em declarações à agência Lusa, Murade Murargy salientou que a exoneração decretada quinta-feira por José Mário Vaz ao executivo liderado por Carlos Correia, empossado em setembro de 2015, poderá levar a que a oposição do Partido da Renovação Social (PRS) e os 15 deputados do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) - que se incompatibilizaram com a força política vencedora das eleições legislativas de 2013 -, possam formar uma nova maioria no Parlamento.
 
 Murargy salientou que tudo está em aberto, apesar de não se prever a realização de novas eleições gerais no país (presidenciais e legislativas).
 
"Aparentemente, há duas saídas: ou convida o PAIGC a formar novo Governo, e aí terá dificuldades, ou então forma um Governo com uma nova maioria a constituir no Parlamento, com base nos 15 deputados (do PAIGC) que foram reintegrados e o PRS. Assim o Presidente teria base para formar novo Governo", disse.
 
Murargy excluiu a possibilidade de o país ir novamente para eleições gerais (as últimas foram a 13 de abril de 2014 e deram a maioria absoluta ao PAIGC, liderado por Domingos Simões Pereira), uma vez que quer os Estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) quer os parceiros internacionais "não estão disponíveis" para as financiar.
 
"O Presidente (José Mário Vaz) quer evitar eleições. Quer formar um novo Governo, porque sabe perfeitamente que, para novas eleições, agora, ninguém está disponível para financiar. Pelo menos a nível da CPLP não há nenhum país que esteja disposto a financiar eleições porque não temos capacidade para o fazer", defendeu.
 
Questionado pela Lusa sobre se, a haver eleições, ser grande a probabilidade de o PAIGC voltar a ganhar as legislativas e de José Mário Vaz perder a presidência, Murargy insistiu na "indisponibilidade" da comunidade internacional as financiar.
 
"Isso não sei. Os guineenses são quem tem de dizer isso. Eu não sei se (José Mário Vaz) perderia ou ganharia, não sei, mas são os guineenses que têm de decidir. Mas (a impossibilidade de realização das eleições) é do ponto de vista financeiro. Não há condições. Os países da CPLP estão com imensas dificuldades para poder dar um passo desses. Vamos aguardar, mais uma vez, o que vai acontecer", respondeu.
 
Salientando que segue "com muito interesse" o desenvolvimento político na Guiné-Bissau - "cada dia nos surpreende com recuos" -, o secretário-executivo da CPLP manifestou esperança de que a crise política não descambe para a violência.
 
"Desde que não haja escaramuças armadas, isso para nós é importante. Que haja diálogo político, que se consigam entender e encontrar uma solução para o país", realçou, admitindo que o representante especial da CPLP em Bissau, o diplomata brasileiro Carlos Moura, "está muito apreensivo".
 
"(A Guiné-Bissau) tem altos e baixos e esperemos que encontre uma saída, uma vez que a comunidade internacional pode ficar cansada com esta situação, que não conduz a que os guineenses tenham estado de espírito para desenvolver o país", alertou.
Lusa-sapo-pt