© LusaPOR LUSA 26/11/23
Todos os dias, milhares de pessoas compram uma senha para vender no maior e mais emblemático espaço de comércio da Guiné-Bissau, o mercado de Bandim, sem saber quantas vezes e quanto vão ter que pagar.
Ninguém sabe ao certo quanto dinheiro passa por aquele que é reconhecido como o centro da economia informal, em Bissau, mas quem lá vende garante que paga e que o dinheiro está "nos bolsos" de alguém.
Teresa Cá vende mandioca, batata-doce, inhame, entre outros produtos, num passeio e contou à Lusa que ela, e os outros
vendedores, "muitas vezes" pagam a senha do dia, no valor de 150 francos cfa (0,23 euros) e os fiscais da Câmara voltam, apreendem os produtos e obrigam a pagar novamente para os recuperar.
Segundo diz, às vezes dão-lhes também e senha com um preço superior ao habitual e tudo o que os vendedores pedem é que o Governo os ajude "a mudar isto que está a acontecer.
"Todos os dias apreendem as coisas e metem no carro e levam. No momento da apreensão, pedem-nos para pagar mil (1,5 euroa) ou cinco mil francos (7,5 euros) para poder libertar as tuas coisas. As coisas nem chegam à Câmara, é só para nos tirar dinheiro", continuou.
Teresa garantiu à Lusa que os vendedores sabem "que aquele dinheiro não vai para os cofres do Estado, vai para os bolsos deles (de quem cobra)".
Do mesmo se queixa, Aladje Djalo, vendedor ambulante, que sublinha à Lusa que todos os dias está ali no passeio a vender galinhas, panos, roupa, porque "nem toda a gente consegue emprego no Estado".
Diz que faz disto vida para se sustentar e à família e "para poder evitar outros caminhos", como roubar.
"O que nos acontece é que depois de pagar, vêm as mesmas pessoas e roubam-nos (porque) levam o que estamos a vender e temos que pagar multa, o que significa que pagamos duas vezes por dia", contou.
"Quando estamos a vender, aparecem as mesmas pessoas da Câmara, prendem-te e roubam o que tu tens e levam-te para pagar a multa superior aos 150 que já tinhas pagado", insistiu.
No mesmo passeio está diariamente Mariatu Si, a vender castanha, que compra sem lhe passarem recibo, algo que escasseia por ali, assim como faturas.
É assim que ganham "pão", que ganham "para os filhos irem à escola, para transporte e material".
"Mas nós não estamos seguros aqui, porque a Câmara não nos dá tempo, mal tu chegas e estás a montar o banco, a Câmara já chega e pega (nos produtos) e leva e quando levam, não consegues recuperar tudo", indicou.
Esta vendedora ouve dizer que "Bissau vai melhorar", mas considera que "cada dia está mais complicado".
"Quando votamos pensamos que ia haver um resultado positivo, não é só pôr lá o dedo e depois não vês nada. Toda a vez que nós votamos, o resultado é zero. Será que vamos ficar sempre assim?", pergunta-se esta mulher.