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| @Abel Djassi Primeiro 21/12/2025 |
No Estado de Direito, a democracia não se constrói por proclamações apressadas nem por narrativas de conveniência. Constrói-se por normas, competências e procedimentos. Sob essa premissa elementar, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) é, por força constitucional e legal, a única entidade competente para conduzir o processo eleitoral até ao seu encerramento formal. Não há atalhos. Não há substitutos. Não há exceções oportunistas.
Quando emergem conflitos, irregularidades ou anomalias, o ordenamento jurídico é taxativo: o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) detém competência exclusiva para dirimir litígios eleitorais. Qualquer tentativa de atores externos - políticos, institucionais ou individuais - de anunciar vencedores, declarar derrotados ou, no extremo da irresponsabilidade institucional, autoproclamar resultados sem base factual validada, configura infração grave à lei eleitoral. Não se trata de opinião; trata-se de tipicidade jurídica.
A decisão da CNE ao afirmar a inexistência de atos válidos para a continuidade do processo não é um gesto político: é uma constatação jurídica fundada em fatos materiais. Em 26 de novembro, a sede nacional da CNE foi integralmente desmantelada em decorrência de uma ação do Alto Comando Militar, com destruição de equipamentos e servidores e confisco das atas das Comissões Regionais de Eleições (CREs). O impacto é devastador e definitivo: rompeu-se a cadeia de custódia, comprometeu-se a integridade documental e aniquilou-se a existência material do processo eleitoral.
Diante desse quadro, não há margem para manobra interpretativa. Sustentar a continuidade do processo ou validar resultados é negar o direito e substituir a legalidade por voluntarismo político. Democracia sem procedimento é retórica; eleição sem CNE operante é ficção. A lei não negocia com a força - a força é que deve submeter-se à lei.
Que a Guiné-Bissau encontre, na sobriedade institucional, o caminho da reconciliação. Que a legalidade prevaleça sobre a pressa, e o Estado de Direito sobre a arbitrariedade. A democracia agradece.




