quarta-feira, 13 de agosto de 2025

HRW alerta para manipulação de relatório pela Administração Trump... A organização Human Rights Watch (HRW) advertiu que a omissão de certas secções no relatório anual de direitos humanos do Departamento de Estado norte-americano "e a manipulação" de abusos em certos países "rebaixam e politizam o relatório".

© Lusa   13/08/2025 

O documento, divulgado na terça-feira, omitiu várias categorias de violações que eram comuns nas edições anteriores, incluindo as das mulheres, da comunidade LGBTI, de portadores de deficiências, corrupção governamental e liberdade de reunião pacífica, afirmou a HRW num comunicado.

Ao minar a credibilidade do relatório, continuou a organização, o Governo do Presidente dos EUA, Donald Trump, põe em risco os defensores dos direitos humanos, debilita as proteções para os requerentes de asilo e prejudica a luta global contra o autoritarismo.

"O novo relatório do Departamento de Estado é, em muitos aspetos, um exercício de branqueamento e engano", reagiu a diretora da HRW em Washington, Sarah Yager.

No relatório correspondente ao ano de 2024, a Administração Trump eliminou as críticas a El Salvador, Israel e Rússia, enquanto intensificou a censura ao Brasil e à África do Sul, países considerados rivais do novo Governo.

A HRW lembrou que o Departamento de Estado é obrigado a enviar ao Congresso um relatório anual sobre as "condições dos direitos humanos" de países e territórios em todo o mundo.

Mas, reiterou, o relatório deste ano "pode estar em conformidade estritamente com os requisitos legais mínimos, mas não reconhece a realidade das violações generalizadas dos direitos humanos contra grupos inteiros de pessoas em muitos lugares".

Como resultado, advertiu, o Congresso carece agora de um instrumento "abrangente e amplamente fiável" do próprio Governo, para monitorizar adequadamente a política externa dos EUA e afetar recursos.

No comunicado, salienta-se ainda que muitas das secções e violações dos direitos humanos omitidas no relatório são "extremamente importantes" para compreender as tendências e a evolução dos direitos humanos a nível mundial.

Em relação a Israel, o relatório não inclui as deslocações forçadas maciças de palestinianos em Gaza, a utilização da fome como arma de guerra e a privação deliberada de água, eletricidade e cuidados médicos, "ações que constituem crimes de guerra, crimes contra a humanidade e atos de genocídio", sublinhou ainda a HRW no comunicado.

Relativamente a El Salvador, para onde os EUA estão a enviar migrantes para a prisão de segurança máxima de Cecot - criticada por violações dos direitos humanos - não foram encontrados "relatos credíveis de abusos significativos".

O relatório refere ainda que a situação dos direitos humanos no Haiti e na Venezuela é significativamente pior do que no ano passado. Nestes países, bem como nas Honduras, no Nepal, na Nicarágua e no Afeganistão, existem relatos credíveis de numerosas violações dos direitos humanos, incluindo prisões e detenções arbitrárias, tortura e outros maus-tratos, execuções extrajudiciais e desaparecimentos forçados, entre outras violações, afirmou.

No entanto, apesar de a Administração Trump reconhecer que estes lugares são perigosos, cancelou o Estatuto de Proteção Temporária para afegãos, venezuelanos, nicaraguenses, hondurenhos, nepaleses e haitianos, argumentou a HRW, recordando como este documento tem sido de grande benefício de várias formas, incluindo a nível académico.

"O relatório de direitos humanos do Departamento de Estado há muito tempo que fornece uma base sólida, embora muitas vezes ignorada, para o apoio dos EUA ao movimento global de direitos humanos", observou Yager.

No entanto, considerou que o Governo Trump transformou grande parte do relatório "numa arma que faz com que os autocratas pareçam mais aceitáveis e minimiza os abusos dos direitos humanos que ocorrem nesses lugares".


Líder norte-coreano dá "apoio total" a Putin e quer reforçar cooperação... O líder da Coreia do Norte manifestou "apoio total" ao Presidente russo e ambos concordaram reforçar a cooperação bilateral, disse a agência de notícias oficial KCNA numa inédita divulgação sobre discussões de Kim Jong-un.

© Lusa  13/08/2025

A poucos dias da cimeira dos Presidentes russo e norte-americano sobre o conflito na Ucrânia, os aliados Kim e Vladimir Putin mantiveram na terça-feira conversações por telefone, como já tinha dado conta o Kremlin.

A Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA) adiantou que Kim "expressou a firme convicção de que a República Popular Democrática da Coreia [nome oficial da Coreia do Norte] permanecerá sempre fiel ao espírito do tratado com a Rússia e apoiará totalmente todas as medidas a tomar pela liderança russa no futuro".

O despacho da KCNA foi, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap, o primeiro em que o regime comunista divulgou detalhes sobre conversações telefónicas de Kim Jong-un com um líder estrangeiro.

Tal como o Kremlin já havia referido,a KCNA salientou que Putin elogiou o apoio prestado pela Coreia do Norte às forças russas no conflito com a Ucrânia.

Em particular, disse a KCNA, o Presidente russo mencionou "a bravura, o heroísmo e o espírito de sacrifício demonstrados" pelas tropas norte-coreanas "na libertação de Kursk", província russa que tinha sido parcialmente ocupada pela Ucrânia.

Saudando a parceria estratégica "em todas as áreas" assinada em 2024, incluindo um pacto de defesa mútua, os dois líderes "confirmaram a sua disponibilidade para reforçar a cooperação no futuro", avançou a KCNA.

De acordo com uma nota da presidência russa, Putin "partilhou informações com [o líder norte-coreano] Kim Jong-un no contexto das próximas negociações com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump".

Antes do encontro com Putin, na sexta-feira, no Alasca, Trump já indicou que em cima da mesa deverá constar uma proposta de troca de territórios, numa tentativa de colocar fim ao conflito iniciado em fevereiro de 2022.

A Coreia do Norte tem fornecido efetivos militares, armamento e munições para o esforço de guerra russo na Ucrânia, desencadeado com a invasão de há três anos e meio.

Além de milhares de soldados envolvidos em operações de combate, particularmente na região russa de Kursk, Pyongyang forneceu grandes quantidades de projéteis de artilharia, foguetes e mísseis balísticos, segundo o centro de investigação norte-americano Atlantic Council.

Em troca deste apoio, a Coreia do Norte está a receber de Moscovo apoio alimentar, energia e tecnologia militar, o que poderá ajudar a modernizar as forças armadas, incluindo os programas nuclear e de mísseis, adiantou a mesma fonte.


Ucrânia criou tática inovadora para proteger os seus F-16 dos mísseis russos e o Ocidente está a tirar notas

Complexo móvel de apoio às aeronaves F-16 da Força Aérea da Ucrânia (Fundação Come Back Alive)  Por  cnnportugal.iol.pt

A Força Aérea ucraniana criou uma solução que está a mudar o jogo na guerra aérea e a contrariar as táticas do Kremlin

A distância não importa. Os mísseis balísticos e os drones de grandes dimensões russos colocam qualquer alvo no interior da Ucrânia ao alcance dos ataques de Moscovo. A lista de alvos é numerosa, mas poucos chamam tanta à atenção das Forças Armadas russas como os caças F-16 enviados para a Ucrânia por vários países ocidentais. Esta realidade torna os aeródromos ucranianos um alvo demasiado perigoso para manter as aeronaves a salvo. Por isso, a Ucrânia criou uma solução inovadora, que está a deixar o Kremlin às cegas, e que pode servir de inspiração para os países da NATO, cujas forças aéreas têm "modelos ultrapassados" para a guerra moderna.

Constantemente na mira das Forças Armadas russas, a frota de caças F-16 ucraniana encontrou um método inovador para escapar aos ataques de mísseis balísticos russos. A Força Aérea ucraniana deitou fora a ideia de utilizar os seus aeródromos como o centro de operações, por onde passa toda a logística e onde pilotos e aeronaves aguardam e operam novas missões. Em vez disso, os militares ucranianos decidiram "dispersar" e criar um "complexo móvel" que permite descentralizar operações e operar praticamente em qualquer lado, o que dificulta significativamente a vida a quem tem como função "caçar" os aviões ocidentais.

Cada F-16 ucraniano é agora acompanhado por uma frota de vários veículos criados para dar todo o apoio necessário a estas aeronaves e às pessoas que as operam, em qualquer lugar, mesmo em caso de aterragem de emergência num local remoto. Criado pela fundação Come Back Alive, a maior associação de voluntários ucranianos, o complexo inclui um camião com uma oficina para preparação e para o teste do armamento, duas carrinhas equipadas com uma grua, capazes de equipar as munições no avião, bem como carrinhas pickup, para cada uma das equipas de mecânicos. 

Camião de transporte de munições equipado com uma grua, capaz de rearmar um caça F-16. (Fundação Come Back Alive)

Este sistema inclui um módulo de comando com estação de trabalho com capacidade até sete operadores, que apoiam a missão de voo dos F-16. Este veículo permite que os briefings pré-voo sejam feitos no seu interior. Outro dos veículos é composto por um módulo residencial, onde os membros da equipa podem descansar durante longas deslocações. Isto permite às aeronaves levantar voo e aterrar em localizações que não estão a ser vigiadas pelas forças russas.

"Aqui resolvemos duas tarefas: a primeira é um posto de comando móvel para planeamento de missões; a segunda é a preparação para o uso de armas de aviação. As aeronaves recebidas pela Ucrânia surgiram e existiram num ecossistema fechado. Não foram utilizadas da forma como as utilizamos. As nossas operam em condições de guerra total — com missões constantes e caça contínua por parte da Rússia às aeronaves", explica Taras Chmut, diretor da fundação. 

Estes novos sistemas estão a permitir afastar os F-16 dos poucos aeródromos preparados para inspecionar e fazer a manutenção destas aeronaves, que requerem um maior cuidado que as aeronaves de fabrico soviético herdadas pela força aérea ucraniana, que conseguem operar de forma contínua em ambientes mais hostis. Além disso, este complexo permite poupar recursos. O número de pessoas necessárias para manter a aeronave com este sistema desceu para três, quando numa base aérea são necessárias 12. 

Sala de comando de operações no interior do módulo móvel de planeamento. (Fundação Come Back Alive)
Com esta nova forma de operar, os militares ucranianos estão a conseguir dispersar a sua frota de forma a evitar perder um número elevado de ativos em caso de ataque. Mesmo se as Forças Armadas russas descobrirem a localização de uma aeronave e a atacarem, a Ucrânia não corre o risco de perder vários caças. Para as forças ucranianas, que operam um número limitado de aeronaves ocidentais, a capacidade de preservar forças é fundamental para continuar a resistir às ofensivas russas.

Os aviões F-16, enviados para a Ucrânia no verão de 2024, têm sido fundamentais para a defesa aérea do país contra mísseis de cruzeiro russos e drones, ao disparar mísseis AIM-120 e AIM-9 Sidewinder. A importância da frota, que ainda é reduzida em número de aeronaves, tem vindo a crescer recentemente com aumento acentuado dos bombardeamentos russos contra a Ucrânia, atingindo alvos militares, mas também um número cada vez maior de civis. No mês de julho, a Rússia bateu o recorde do número de drones disparados contra o país, lançando mais de seis mil unidades, tirando a vida a dezenas de civis e ferindo um número ainda superior. 

Esta tática contrasta com a forma de operar das forças aéreas dos países ocidentais, que baseiam grandes partes das suas frotas e da estrutura de manutenção num número reduzido de bases aéreas. Isto significa que, num conflito com um adversário com capacidade de disparar mísseis balísticos, uma parte significativa destas frotas pode ser perdida antes mesmo de levantar voo. 

Camiões que transportam o módulo de planeamento e residencial do complexo móvel. (Fundação Come Back Alive)
Portugal é um dos países que opera a sua frota de aviões de combate de forma centralizada. Apesar de ter várias bases espalhadas um pouco por todo o território nacional, como a Base Aérea n.º 1, em Sintra, a Base Aérea n.º 4, nas Lajes, a Base Aérea n.º 6, no Montijo, e a Base Aérea n.º 11, em Beja, os esquadrões de F-16 estão sediados em exclusivo na Base Aérea n. 5, em Monte Real. Isto faz com que, em teoria, a frota de combate portuguesa esteja mais vulnerável em caso de ataque com mísseis de longo alcance. 

E a invasão russa da Ucrânia demonstra precisamente isso. Só que ao contrário do que se esperava, foi a própria Rússia quem mais sofreu com a exposição da sua frota em aeródromos nas proximidades da Ucrânia. E a Ucrânia conseguiu demonstrar também que não é preciso ter impressionantes mísseis balísticos para o fazer, quando no primeiro dia de junho conseguiu destruir mais de dez aeronaves e danificar outras dez, quase todos bombardeiros estratégicos, de acordo com informações do Pentágono.

No entanto, existem sinais de que a doutrina militar ocidental está a mudar, devido às lições que surgem do campo de batalha na Ucrânia e dos receios de um conflito no sudeste asiático, com a China a ameaçar invadir Taiwan. Num discurso em março deste ano, o general Kevin Schneider, comandante da força aérea americana no Pacífico afirmou que "os dias de operar a partir de bases fixas e seguras acabaram" e que as novas ameaças requerem "uma força flexível e resiliente que possa operar em vários locais dispersos e condições adversas".