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POR LUSA 02/05/23
O partido no poder na Costa do Marfim e um partido da oposição assinaram hoje, em Abidjan, um "acordo de parceria" para a "reconciliação nacional, coesão social e democracia" num país com um historial recente de violência política.
"Todos nós constatamos que as feridas não estão todas saradas, porque não conseguimos levar a cabo um processo de reconciliação sincero", afirmou Pascal Affi N'Guessan, antigo amigo do ex-presidente Laurent Gbagbo e líder da formação da oposição Frente Popular da Costa do Marfim (FPI, na sigla em francês).
"É claro que a Costa do Marfim não está a arder, mas as brasas não estão extintas. E enquanto houver uma brasa, toda a gente sabe, o fogo pode recomeçar se alguém soprar com habilidade", acrescentou Affi N'Guessan, para justificar a assinatura do acordo com o União dos Houphouëtistes pela Democracia e a Paz (RHDP), do Presidente, Alassane Ouattara.
Segundo este dirigente político, "a reconciliação exige o perdão para ultrapassar as lágrimas e as tragédias do passado".
"Seja o que for que tenha acontecido no passado, a exigência de um futuro comum deve prevalecer sobre o desejo de vingança", acrescentou.
Porta-voz de uma parte da oposição que não reconheceu a reeleição do Presidente Alassane Ouattara para um terceiro mandato controverso nas eleições presidenciais de 31 de outubro de 2020, Pascal Affi N'Guessan chegou a participar na proclamação de um Conselho Nacional de Transição, que visava substituir o regime.
Detido em novembro de 2020, permaneceu na cadeia durante quase dois meses e foi acusado com outros opositores por "conspiração contra a autoridade do Estado", "movimento insurrecional", "assassínio" e "atos de terrorismo".
Dez anos após a violência ligada à primeira vitória de Ouattara numa eleição presidencial contestada por Laurent Gbagbo em 2010-2011 -- de que resultaram cerca de 3.000 mortos -, a violência marcou também a eleição presidencial de 2020, tendo nessa ocasião sido registados 85 mortos e meio milhar de feridos no período de agosto a novembro.
Ibrahim Cissé Bacongo, secretário-executivo do RHDP, elogiou o "espírito elevado" de Pascal Affi N'Guessan e o "sentido de Estado" de Alassane Ouattara.
"Foram capazes de pôr de lado muitas coisas que os opunham, de falar um com o outro, de se encontrarem, de trocarem impressões", o que permitiu que os seus dois partidos fizessem o mesmo para chegar a este acordo, acrescentou.
A poucos meses de eleições regionais e municipais marcadas para 02 de setembro, Affi N'Guessan afirmou que "a parceria" assinada hoje não era "um acordo eleitoral".
"Mas esta parceria não nos impede de nos reunirmos de novo, se acharmos que é necessário" nessa altura, afirmou.