© FacebookPOR LUSA 11/05/23
O coordenador do Madem-G15, Braima Camará, considera que a Guiné-Bissau é um país rico e viável porque tem recursos, salientando que a pobreza reside nas lideranças governativas.
"O nosso problema não são os recursos, o nosso problema são as lideranças governativas. Eu já provei no setor privado que o nosso país é um país viável, é um país rico, rico em minas, nas suas pessoas, no clima, nas oportunidades existentes", disse o líder do Movimento para Alternância Democrática (Madem-G15).
Em entrevista à agência Lusa em Lisboa, Braima Camará apresenta-se às legislativas de 04 de junho como a solução para resolver os problemas da Guiné-Bissau, com base "nas provas" que diz já ter dado no setor privado como empresário.
"O recurso está no país, debaixo da terra, é para servir o país, não para ficar lá, essa foi a razão da luta dos combatentes da liberdade da pátria, explorar essas riquezas, o povo não pode estar na miséria, temos bauxite, fosfatos debaixo da terra", disse, assegurando que se o seu partido vencer as eleições haverá uma "política pública clara" para colocar esses recursos à disposição do país.
Questionado sobre as oportunidades de investimento estrangeiro, nomeadamente para empresários portugueses, Braima Camará apontou a construção civil, indústria, saúde, infraestruturas, turismo ou transformação de produtos agrícolas.
"Portugal é a nossa segunda pátria", disse, defendendo que é preciso "potenciar, traduzir em ganhos reais para ambos os países essas relações, esse clima de confiança, amizade e irmandade".
"A Guiné-Bissau tem muitas potencialidades que Portugal deve agarrar", através de parcerias público-privadas ou entre os empresários privados para "gerar mais rendimento para ambos os países", reforçou.
Sobre a crise no setor do caju, do qual depende 80% da população guineense, o líder do Madem-G15 remete para "a dinâmica do mercado".
O presidente da Confederação Nacional dos Agricultores da Guiné-Bissau, Jaime Boles Gomes, alertou em 14 de abril que os produtores de castanha de caju estão a vender o produto a uma média de 250 francos cfa (0,38 euros), um preço inferior ao estipulado pelo Governo, de 375 francos cfa (0,57 euros) por quilograma.
Recordando que detém o recorde de "maior exportador de castanha de caju de todos os tempos" na Guiné-Bissau, o que lhe valeu uma medalha de ouro atribuída pela Associação Industrial Portuguesa, Braima Camará argumentou que este é o seu mundo e que tem "uma solução" para o setor.
Questionado sobre qual é essa solução, respondeu que "o segredo é a alma do negócio".
"Não vou dizer a minha solução, mas o povo da Guiné-Bissau conhece-me como um homem de palavra, um homem que quando promete cumpre. Quero só que o povo da Guiné-Bissau me dê a confiança, me dê a oportunidade, porque a hora é agora, chegou a hora, "hora Tchiga", disse, usando o 'slogan' da sua campanha para as legislativas.
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POR LUSA 11/05/23
O líder do partido guineense Madem-G15, Braima Camará, apontou a paz e estabilidade como prioridades na Guiné-Bissau, defendendo a aproximação dos governantes ao povo para ultrapassar o atual "clima de défice de confiança".
"A minha prioridade das prioridades, claramente, é estabilizar o país para haver paz, [...] promover o diálogo interno, estabelecer um clima de confiança entre atores políticos, entre os governantes e o povo porque o país vive um clima de défice de confiança", disse o candidato pelo Movimento para Alternância Democrática (Madem-G15) às eleições legislativas de 04 de junho, em entrevista à agência Lusa em Lisboa.
Questionado sobre o motivo para se candidatar a primeiro-ministro, Braima Camará disse que tem uma "proposta de solução para os problemas da Guiné-Bissau", argumentando que já deu provas enquanto empresário.
Entre as qualidades que disse ter para exercer o cargo, destacou ainda que é conhecido na Guiné-Bissau como "um homem do consenso" e que "consegue estabelecer pontes de diálogo na base da confiança entre todos os atores políticos e não políticos", considerando que o facto de ter sido conselheiro especial de vários Presidentes "é uma mais-valia".
Sobre se está confiante numa maioria absoluta, disse que "seria uma surpresa" se isso não acontecesse.
"Tenho toda a absoluta confiança, se Deus quiser, de que estão reunidas as condições para que o nosso partido possa ganhar no mínimo dos mínimos com maioria absoluta", disse, considerando que isso será possível graças ao "desempenho do partido" e ao trabalho dos membros do Madem-G15 no Governo, integrado ainda pela Assembleia do Povo Unido -- Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB) e pelo Partido da Renovação Social (PRS).
Questionado sobre eventuais coligações caso não consiga a maioria absoluta, disse que não quer "particularizar nem partidarizar", mas manifestou disponibilidade "para governar o país com todas as competências da Guiné-Bissau", mesmo "ganhando com maioria qualificada".
Em relação à resposta que vai dar quando for confrontado durante a campanha eleitoral, que começa no sábado, com as necessidades do povo, Braima Camará disse que vai antes "pedir a confiança" e a oportunidade para "poder ganhar as eleições".
"A minha preocupação, a razão da minha luta, a razão que me fez decidir criar essa terceira via é exatamente a pensar no meu povo, no meu país, e o povo sabe disso", acrescentou.
Empresário na área do turismo e no comércio de castanha de caju, Braima Camará, conhecido no país como "Ba di povo", fundou o Madem-G15 juntamente com um grupo de dissidentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e nas primeiras legislativas em que participou, em 2019, conseguiu eleger 27 dos 102 lugares da Assembleia Nacional Popular.
Questionado sobre o facto de aparecer nos materiais de campanha em fotos ao lado do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, o coordenador do Madem-G15 alegou que "nenhum articulado da Constituição" o impede.
A Constituição guineense estipula no artigo 65 que "as funções de Presidente da República são incompatíveis com quaisquer outras de natureza pública ou privada". Braima Camará argumentou que "uma foto é uma imagem, não é função", defendendo que todos os outros partidos podem fazer o mesmo.
Sissoco Embaló foi eleito em 2019 com o apoio do Madem-G15, partido que ajudou a fundar, mas entregou o cartão de militante quando tomou posse.
Em declarações aos jornalistas na terça-feira, à margem de um encontro do Governo guineense com o FMI, o Presidente disse que "todos os partidos estão autorizados" a usar a sua imagem, considerando que "isso não é inconstitucional".
Embaló salientou, contudo, que, por ser chefe de Estado, não pode exercer funções partidárias.
Braima Camará reiterou que vai apoiar a candidatura do chefe de Estado a um novo mandato, elogiando-o por ter conseguido "conquistar a confiança da comunidade Internacional" e "resgatar a soberania" da Guiné-Bissau.
Sobre as divergências com o Presidente, em declarações públicas em julho de 2021, o líder do Madem-G15 recusa agora qualquer crispação, afirmando que não se estava a referir a Sissoco Embaló quando disse que não se pode promover a ditadura e que se recusava a pertencer a regimes que não respeitam as regras do Estado de Direito.
Na altura, o Presidente respondeu a estas declarações, afirmando que não é um ditador e que o país é um Estado de Direito.
Instado a comentar os ataques a ativistas e opositores políticos denunciados por organizações da sociedade civil, Braima Camará escusou-se a falar de casos particulares, mas definiu-se como "um homem de princípios democráticos" que gosta "de viver e conviver respeitando as leis da República dentro e fora do país".
"Sou um homem de paz, sou um homem de diálogo, primo pela paz, pela respeitabilidade da vida humana, pelas leis da República, é o que me move na política", concluiu.
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O coordenador do Madem-G15, Braima Camará, defendeu que o tráfico de droga "não existe" na Guiné-Bissau e é "uma falsa questão" porque se trata de um "problema global" que o país deve ajudar a combater a nível internacional.
"O problema do tráfico de droga na Guiné-Bissau não existe. Para mim, é uma falsa questão", disse em entrevista à agência Lusa, em Lisboa, o líder do Movimento para Alternância Democrática (Madem-G15), justificando que "não é um país produtor de droga" nem "um país consumidor de droga".
No entanto, reconheceu as fragilidades da Guiné-Bissau para combater este tipo de flagelo. "Por isso mesmo é que nós nos colocámos à disposição da comunidade internacional para abrirmos as nossas portas, juntarmo-nos para todos juntos combatermos aquilo que consideramos um flagelo global, um problema global e os problemas globais exigem soluções globais e nós, enquanto autoridade, estamos disponíveis para colaborar, para que possamos combater este mal que não é da Guiné-Bissau, é de todo o mundo", disse.
O candidato às eleições legislativas de 04 de junho pelo partido atualmente no poder referiu que, em comparação, há mais apreensões de droga em Portugal do que na Guiné-Bissau.
"Se o próprio Portugal é confrontado noite e dia com a situação da apreensão de droga, com toda a tecnologia existente, com todos os meios existentes, quem somos nós para dizer que não podemos ser confrontados com este problema", questionou.
Num relatório divulgado em 16 de março deste ano, o Escritório das Nações Unidas para as Drogas e o Crime (UNODC) referiu que a Guiné-Bissau continua com "potencial contínuo" para ser usada para o tráfico de cocaína.
"Nos últimos anos, a Gâmbia, o Senegal e Portugal classificaram a Guiné-Bissau entre os principais países de proveniência de carregamentos de cocaína apreendidos", refere o UNODC, acrescentando que a cocaína da Guiné-Bissau chega ao Mali via Senegal ou Guiné-Conacri, utilizando a cidade senegalesa de Tambacounda.
A Polícia Judiciária da Guiné-Bissau apreendeu, em setembro de 2019, 1.869 quilogramas de cocaína, a maior apreensão feita no país, e deteve 12 pessoas, entre nacionais e estrangeiros, que foram condenadas pelo Tribunal Regional de Bissau em 2020, incluindo Braima Seidi Bá e Ricardo Ariza Monges, alegados cabecilhas, que acabaram mais tarde absolvidos pela Câmara Criminal do Supremo Tribunal de Justiça.
Uma outra operação, realizada em março de 2019, levou à apreensão de 800 quilogramas de cocaína e à detenção de vários homens e um painel de peritos do Conselho de Segurança da ONU ligou aquela droga a um cidadão maliano sancionado por utilizar o tráfico de droga para financiar o terrorismo, nomeadamente a Al-Mourabitoun, filiada da Al-Qaida.
Questionado sobre a vulnerabilidade da Guiné-Bissau, que sempre foi conhecida pela boa convivência inter-religiosa, ao extremismo, Braima Camará considerou que "problema é inexistente".
"É um problema completamente ausente, temos um país espetacular, um povo ímpar, um povo único, eu próprio sou muçulmano, a minha mulher é católica, a minha avó é animista", exemplificou, referindo que a isso se chama "a guineendade", pautada pela "tolerância, humildade, boa convivência".
No último relatório do Departamento de Estado sobre liberdade religiosa no mundo, lançado em junho de 2022, os Estados Unidos alertaram para as preocupações manifestadas por líderes religiosos guineenses sobre o "alastrar do extremismo religioso" no país.
"Alguns desses líderes acusaram o Governo de não fazer o suficiente para combater a ameaça do extremismo e um deles alertou que uma percentagem pequena, mas crescente, de mesquitas e escolas islâmicas no país, financiadas por islamitas sediados no estrangeiro, eram potenciais incubadoras de radicalismo, promovendo ideias que conflituam com as tradições mais moderadas das restantes mesquitas do país", lê-se no relatório.