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POR LUSA 27/02/24
O primeiro-ministro eslovaco deu como certa a presença de tropas dos países da NATO e UE na Ucrânia, e Macron deixou em aberto a possibilidade, mas Stoltenberg, Scholz e até Costa colocaram de lado uma escalada do conflito.
Ao início da tarde de segunda-feira, o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, anunciou, depois de uma reunião do conselho de segurança do país, que países da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) estavam a preparar-se para enviar tropas para a Ucrânia, para tentar colmatar os problemas de recrutamento ucranianos que já estão a sentir-se no campo de batalha.
"Vários Estados-membros da NATO e da UE estão a ponderar enviar soldados para o território da Ucrânia bilateralmente", referiu, deixando logo de parte o cenário de ser uma coordenação da Aliança Atlântica.
Considerado um eurocético e crítico ávido do apoio prestado à Ucrânia nos últimos dois anos, Robert Fico acrescentou que Bratislava não iria participar no alegado esforço de dar uma vantagem militar à Ucrânia.
O primeiro-ministro eslovaco disse ainda saber o que é os militares dos países da UE e da NATO iam fazer para a Ucrânia, mas recusou revelar, admitindo que o encontro convocado pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, para segunda-feira ao final do dia, em Paris, era uma "reunião de combate", sem qualquer discussão de um efetivo plano de paz proposto pelo Governo de Volodymyr Zelensky.
A questão acabou por chegar a Emmanuel Macron, que em conferência de imprensa deixou não abriu a porta às certezas que Fico tinha, mas também não a fechou.
"Não há consenso nesta altura sobre enviar tropas para o terreno", disse o Presidente francês depois de uma reunião com os representantes de 20 países que apoiam a NATO.
No entanto, "nada deve ser excluído", apontou, acrescentando que "tudo tem de ser feito para impedir a Rússia de vencer" o conflito que exacerbou há dois anos com a invasão do território ucraniano -- depois da invasão da Crimeia em 2014.
A Lusa contactou as missões diplomáticas de vários Estados-membros da NATO, que não se mostraram disponíveis para prestar esclarecimentos sobre esta proposta de momento.
A única palavra da NATO veio hoje de manhã, através do secretário-geral, Jens Stoltenberg, que foi taxativo em declarações à Associated Press: "Não há planos de enviar tropas de combate da NATO para o terreno na Ucrânia".
Já na segunda-feira à noite, no final da reunião, o primeiro-ministro português demissionário, António Costa, tinha deixado claro que Portugal não tinha equacionado esse tipo de ajuda suplementar à Ucrânia.
"Não há nenhum cenário em que essa questão se tenha colocado", admitiu em declarações à Lusa e RTP.
Hoje foi o chanceler alemão, Olaf Scholz, a deixar claro que não há consenso no eixo franco-germânico sobre esta decisão e que bilateralmente também não houve promessas feitas a Zelensky sobre um reforço do efetivo: "Não haverá tropas no terreno, nem soldados enviados por Estados europeus ou pela NATO para solo ucraniano".
A contundência da NATO, Alemanha e Portugal sobre esta hipótese foi reforçada com as posições da República Checa e Polónia, que também descartaram enviar tropas para a Ucrânia.
O envio de militares, ainda que de maneira bilateral, para a Ucrânia de países da UE ou da NATO levaria inevitavelmente a uma escalada do conflito.
Ainda que as tropas fossem enviadas sem envolvimento da NATO, Moscovo poderia considerar os países que tomaram a decisão como participantes no conflito e poderia optar por atacar os seus territórios.
Nesta circunstância iria impor-se a ativação do Artigo 5.º da NATO, que consagra o princípio de defesa mútua, ou seja, se um Estado-membro é atacado, os outros 31 -- já contabilizando a Suécia cuja adesão formal está por dias -- teriam de defende-lo, o que levaria a uma entrada na guerra da NATO inteira, incluindo os Estados Unidos da América, algo que tem sido liminarmente descartado desde 24 de fevereiro de 2022.
Numa altura em que o apoio da parte de Washington está estagnado e foi secundarizado em detrimento do conflito no Médio Oriente e uma pré-campanha eleitoral para as presidenciais que poderão afetar diretamente a NATO -- já que Donald Trump, o potencial candidato republicano, tem posições públicas de ceticismo sobre a Aliança Atlântica e o contributo financeiro dos restantes Estados-membros -- os países da UE tentam reforçar o seu apoio.
Mas as opções têm sido sempre um leque mais abrangente de sanções e o envio, o quanto antes, de munições de artilharia -- depois de um prazo falhado até março deste ano, os 27 da UE querem enviar um milhão de munições de grande calibre até ao final de 2024.
Mas só no 732º dia depois do início da invasão russa foi ponderado, por parte de um líder ocidental, o envio de tropas, para que a participação indireta no conflito tenha outro fôlego para Kiev, o que poderá significar uma escalada sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial.