Por Fernando Casimiro
Continuamos, infelizmente, enquanto Guineenses, possuídos pelo espírito do recalcamento, do ódio e da vingança, com base em conjunturas históricas, culturais, sociais e políticas de um passado horroroso, sem dúvida, mas que deveria ser, nos dias de hoje, todo ele, de aprendizagem e de reflexão para a projecção, promoção e construção de espaços e pontes, de convivência, suportados pelo realismo da nossa própria emancipação cidadã.
Não consigo compreender porque achamos que os racistas são os outros, quando também temos ódio aos outros, pela cor da pele com que os caracterizamos, para um julgamento secular, que nos dias de hoje não deveria ser uma continuidade, por via de uma suposta herança comportamental dos povos cujos antepassados tiveram comportamentos desumanos para com os nossos antepassados, nos nossos espaços geográficos.
Quem pode aspirar a um Mundo Melhor, continuando a querer fazer da História a sua própria história, para daí, igualmente, vestir-se de colonizador ou invasor, em jeito de revanchismo, pondo em causa as transformações pelas dinâmicas políticas, sociais e culturais, Globais, que possibilitaram o fim da Escravatura; o Direito à Autodeterminação e Independência dos Povos colonizados, e uma série de Direitos Humanos sem discriminação da cor, do sexo, da religião?
Afinal estamos a "lutar" contra o quê ou a favor do quê?
Queremos reavivar o passado por não conseguirmos curar ou cicatrizar as feridas de um passado secular, quiçá, de gerações, que nos continua a atormentar;
Ou o que realmente queremos é a reavaliação dos nossos Direitos, entre Humanos e Fundamentais, onde quer que seja, face às oportunidades que se tornaram cada vez mais escassas fora do nosso Continente Africano?
Será que África não precisa da presença física de todos quantos reclamam discriminação na Europa, por exemplo?
Creio que todas as portas estão abertas em África para todos os Africanos e seus descendentes.
A questão que se coloca é: porque queremos, enquanto Africanos, emigrar para a Europa e para as Américas, ignorando a nossa própria África?
Se a Europa é alegadamente racista, porque continuamos por lá, querendo mudar essa alegada mentalidade racista da Europa e dos europeus?
Se argumentamos que no nosso Continente não há respeito pelos Direitos Humanos e pelos Direitos Fundamentais, como justificação para a emigração ou para a solicitação de estatuto de refugiado ou asilado político, porque é que não temos a iniciativa e a coragem para lutar contra os políticos e governantes dos Países do nosso Continente, mas temos a iniciativa e a coragem para nos sentirmos no direito de "lutar" contra a forma como Países e povos europeus que nos acolheram, vivem e convivem, e onde os Direitos, as Liberdades e Garantias, são uma realidade, independentemente das excepções ou de casos fora do contexto institucional e legal do Estado?
Positiva e construtivamente.
Didinho 25.02.2021
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