domingo, 27 de novembro de 2016

Estudiosos criticam a ausência do tema escravatura nos debates na Guiné-Bissau

A antropóloga guineense Margarida Moreira criticou a ausência do tema escravatura nos currículos escolares e nos debates que se realizam pelo país, considerando tratar-se de um tema «atual e pertinente».

A antropóloga teceu estas críticas durante uma conferência sobre a história da escravatura e do tráfico negreiro, realizada no sábado, na cidade de Cacheu, a 100 quilómetros a norte da capital guineense, onde se situava um dos antigos portos de partida de navios com escravos para outras paragens do mundo.

A iniciativa foi da Ação para o Desenvolvimento (AD), uma organização não-governamental guineense que visa transformar Cacheu num centro de turismo na Guiné-Bissau a partir das valências deixadas pela escravatura, disse à Lusa, Jorge Handem, da organização.

A antropóloga Margarida Moreira, formada em Portugal e que se assume interessada pelo tema escravatura, considera que na Guiné-Bissau atual «não se fala da escravatura», ou seja, é como se não existisse na história do país.

Margarida Moreia entende que, em certa medida, «os guineenses acabam por ser omissos perante a escravatura» o que representa «um branquear do passado e de parte importante da história» do país.

No entanto, é uma parte que deve ser explicada às novas gerações, sublinhou.

A escravatura existiu e foi alimentada em grande parte através de lutas entre as etnias que existem no país, reforçou a antropóloga, que vê nesse facto «um bom motivo» para «afastar certos fantasmas que existiam e ainda existem» na comunidade guineense.

Embora tenha sido um acontecimento «atroz, penoso e muito mau», a escravatura serviu também para o povo guineense «ajudar na construção de outras nações do mundo», nomeadamente Cabo Verde, Brasil e outros países, defendeu Margarida Moreira.

A estudiosa lamenta igualmente que a escravatura tenha sido um marco que permitiu a supremacia de umas etnias sobre outras, mas quer que esse facto seja utilizado agora pelos políticos para impulsionarem o fim da opressão do povo guineense, que disse ainda persistir.

Isabel Levy, professora e também estudiosa do tema, estranha a «ausência do assunto em todos os níveis do ensino» no país, tratando-se de um «acontecimento vergonhoso» que merecia ser tratado.

A professora entende que escravatura continua a persistir na sociedade guineense através das crianças forçadas ao trabalho e de mulheres «que são compradas ou vendidas como escravas sexuais» ainda que ninguém aborde o tema de forma aberta.

Esta antiga diretora da Escola Portuguesa de Bissau, compilou, num livro, alguns artigos existentes no país sobre o tema e espera ver o livro distribuído nas escolas públicas.

Abola.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário