O coronel Assimi Goita, presidente da transição do Mali, em junho de 2021. © REUTERS - AMADOU KEITATexto por: RFI 10/01/2022
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) anunciou este domingo, 9 de Janeiro, que vai impor novas sanções contra o Mali, uma vez que a Junta Militar que lidera o país recusou realizar eleições a 27 de Fevereiro deste ano e, consequentemente, devolver o poder aos civis.
Assim sendo e como forma de represália, a CEDEAO decidiu adoptar duras sanções contra este país africano.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental ordenou a retirada de todos os embaixadores das 15 nações africanas de Bamako, capital maliana e o congelamento das contas dos membros da Junta Militar.
Para além disso, vai existir ainda a suspensão de todas as transacções comerciais com o Mali, à excepção de produtos básicos e medicamentos e também o fecho de fronteiras terrestres e aéreas com o país, conforme deu conta o presidente da Comissão da Comunidade económica dos Estados da África ocidental, Jean-Claude Kassi Brou.
"Estas sanções dizem respeito ao encerramento das fronteiras terrestres e aéreas entre todos os países da CEDEAO e o Mali. Trata-se também da suspensão de todas as transacções comerciais e financeiras entre os países membros da CEDEAO e o Mali, com excepção dos produtos alimentares de consumo em larga escala, de medicamentos, de equipamentos e materiais de luta contra a Covid-19, de produtos petrolíferos e da electricidade", começou por referir o Presidente da CEDEAO.
Jean-Claude Kassi Brou falou ainda das restantes sanções adoptadas pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.
"Trata-se também do congelamento dos valores da República do Mali em todos os bancos centrais dos países membros da CEDEAO, do congelamento dos bens do Estado maliano e das empresas do Estado e a ele afiliadas em todos os bancos comerciais da CEDEAO. Os chefes de Estado decidiriam retirar todos os embaixadores dos países membros da CEDEAO do Mali", acrescentou.
Estas decisões foram tomadas numa reunião extraordinária da CEDEAO que decorreu em Acra, capital do Gana, após o governo interino do Mali ter apresentado um cronograma com datas muito longínquas ( de 6 meses a 5 anos) para a realização de eleições.
Os golpistas utilizaram como argumento a insegurança que se vive no país, nomeadamente, em matéria de terrorismo, com a presença de vários grupos "jihadistas" em terreno maliano.
A CEDEAO considerou esta data completamente desproporcional e alegou que este prazo temporal é “inaceitável”.
Estas sanções começaram a ser aplicadas ontem, "com efeito imediato" e só "serão suspensas após a finalização de um cronograma satisfatório", disse a CEDEAO, em comunicado.
Autoridades do Mali reagem às sanções
As autoridades do Mali já reagiram às sanções impostas pela CEDEAO e condenaram "veementemente" estas medidas, que consideram "ilegais" e "desumanas".
"O governo do Mali deplora o carácter desumano destas medidas que vêm afectar as populações já severamente atingidas pela crise sanitária, nomeadamente a da Covid-19. O governo do Mali convida a população à calma e à contenção face a qualquer eventualidade da mobilização de forças estrangeiras contra o nosso país", começou por dizer Abdoulaye Maiga, porta-voz do governo maliano.
Depois, o representante dos golpistas deixou um apelo às forças de segurança e também à população: "O governo do Mali apela às forças de defesa e segurança, bem como à população a redobrar de vigilância e a manterem-se mobilizadas".
"O governo do Mali apela à solidariedade e ao acompanhamento de países e instituições amigos. Doravante, na base da reciprocidade, o Mali decide retirar os seus embaixadores acreditados junto dos Estados membros da CEDEAO e decide encerrar as suas fronteiras terrestres e aéreas com os países em causa", acrescentou ainda.
Para além disso, a Junta Militar tentou tranquilizar a população, garantindo que o abastecimento normal dos bens de primeira necessidade será garantido.
"O governo do Mali faz questão em tranquilizar a opinião nacional que foram tomadas medidas visando garantir o normal abastecimento do país por todos os meios apropriados", reiterou ainda Abdoulaye Maiga.
De salientar que no final do mês de Maio, a CEDEAO já tinha avançado com algumas sanções, nomeadamente, a suspensão do Mali de todas as instituições comunitárias. Em causa, o duplo golpe de Estado perpetrado pelos militares em Agosto de 2020 e em 24 de Maio de 2021.