Por Jorge Herbert
POLÍTICOS E ATIVISTAS “DJUGUDÉS”
Como médico, resisti em escrever especificamente sobre a morte prematura do jovem ativista guineense, para não ferir suscetibilidades de familiares e amigos. Mas as atitudes e comportamentos dos que pretendem colher dividendos dessa desgraça familiar e essa subtração ao ativismo político guineense, força-me a expressar e vou tentar fazê-lo de forma clara para esclarecer alguns confusos e um pouco superficial, para não ferir suscetibilidades familiares.
Genericamente, é importante esclarecer que a sábia mãe natureza oferece-nos oxigénio no ar ambiente que respiramos naturalmente, numa fração ~ 21%.
O oxigénio industrial tem várias aplicações, entre os quais – o que está em causa neste texto - é a sua utilização para fins medicinais. Isso para dizer que o Oxigénio utilizado para fins medicinais é um meio de fornecimento de oxigénio suplementar a aquilo que o ar ambiente nos proporciona e pode ir até os 100%, de acordo com o dispositivo utilizado para o seu fornecimento. Por isso, o oxigénio é utilizado essencialmente como forma de suporte de vida, enquanto resolvemos o problema que causou a sua escassez no organismo, através da simples inspiração do ar ambiente e deve ser reduzido até a sua retirada, quando a situação aguda de base for resolvida. Também é utilizada cronicamente em casa ou na rua, naqueles doentes que não conseguem sobreviver sem oferta suplementar de oxigénio… São raros os casos em que o oxigénio é usado para fim estritamente terapêutico e na sua maioria associado a aumento da pressão atmosférica com o dispositivo chamado câmara hiperbárica.
A utilização do oxigénio medicinal a nível hospitalar implica ter uma estrutura de produção/fornecimento, gestão de dispositivos de armazenamento, conservação com segurança e distribuição, idealmente através da instalação de rede canalização e sistema de pressurização de ar e de oxigénio.
Esclarecido que espero estar essa primeira parte, importa afirmar que a falta de oxigénio suplementar num hospital constitui a falta de um recurso essencial para o suporte de vida dos doentes, enquanto se resolve o problema agudo que lhe levou ao hospital. Faltando esse recurso, enquanto se resolve o problema do doente, é alta a probabilidade de que vai morrer, porque a hipoxemia (oxigénio no sangue abaixo dos valores normais) mata.
O que não existe e aquilo que os políticos e ativistas Djugudés da nossa Guiné-Bissau querem vender a sociedade, é que a causa da morte do jovem ativista foi falta de oxigénio no Hospital Nacional Simão Mendes! Não conheço com pormenor o caso clínico, mas decerto que o jovem ativista tinha algum problema de saúde agudo ou agudização de um problema crónico, que lhe fez recorrer ao hospital e que, aparentemente, lhe causava baixa de oxigénio no sangue. Uma pneumonia, uma embolia pulmonar, uma disfunção cardiopulmonar por algum problema infeccioso ou mecânico cardíaco? Tão importante como fornecer-lhe o oxigénio suplementar seria fazer o diagnóstico correto e fornecer-lhe o tratamento adequado ,até se conseguir baixar e retirar o oxigénio. Será que o diagnóstico correto foi feito?!
Tão ou mais importante que o oxigénio suplementar, são os recursos humanos e complementares necessários à realização adequada dos diagnósticos. Ora, todos sabemos que esse é um problema crónico de que o país sofre e que tem ceifado a vida de milhares de guineenses. Também sabemos que nenhum país do mundo resolve esses crónicos problemas que vêm arrastando há décadas, em meses ou poucos anos, muito menos na contingência pandémica atual, em que mesmos os hospitais de países desenvolvidos estão a baixar o nível de cuidados prestados aos seus doentes, por motivos evidentes…
O problema da organização dos recursos humanos e sua valorização técnica através da formação regular, não é um problema restrito à saúde guineense, mas sim transversal às várias áreas da nossa administração pública. O problema da escassez dos recursos técnicos idem aspas!
Pessoalmente, tenho contribuído com pareceres técnicos sobre a reorganização da formação e da carreira médica na Guiné-Bissau, mas tem caído sistematicamente no “saco roto”. Não me peçam para pertencer a alguma sensibilidade política para poder fazer vincar as minhas opiniões técnicas. Não me peçam para fazer negócio com a saúde na Guiné-Bissau. Não esperem de mim fazer aquilo que querem que eu participe, da forma que quiserem, quando não vai ao encontro a aquilo que é o Estado da Arte da prática médica. Não sou político porque não sei fazer política. Sei fazer e continuo a aprender a fazer medicina e é isso que quero continuar a fazer...
Ser político ou ativista e tentar instigar a juventude para uma revolta contra o poder instalado, associando a falta de oxigénio à morte de um jovem, é fechar os olhos a tudo o que envolveu a essa perda prematura de uma vida e tentar tirar dividendos políticos da revolta instigada.
Um político sério pediria para que o Ministro da Saúde fosse ouvido na ANP para esclarecer a causa dessa morte.
Um político sério faria uso da comunicação social para exigir ao governo uma explicação pública sobre o ocorrido.
Lembro que há pouco tempo houve a morte provocada por meios violentos, de um ativista político durante uma manifestação e, o partido que hoje faz tanto alarido com esta morte por alegada falta de oxigénio no hospital e os seus aliados, têm responsabilidade política direta nessa morte, uma vez que foram eles que decidiram colocar nas ruas uma força policial desproporcional à gravidade da manifestação, mas a culpa sobre essa morte está a morrer solteira, enquanto aguardamos por um suposto inquérito que nunca mais é concluído, ou pelo menos não foi tornado público! Agora são os mesmos que fecham os olhos à um aparente assassinato infringido, a reclamar de uma morte por falta crónica de recursos no hospital!
Fazer proveito da morte alheia para se alimentar politicamente é típico de políticos e ativistas que denomino de Djugudés.