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POR LUSA 04/12/22
O diplomata norte-americano Charles Ray disse hoje à Lusa que o chefe de Estado da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, reeleito com 94,9% dos votos, "deveria ser ostracizado por outros líderes africanos".
Em causa estão as eleições gerais de 20 de novembro, que deram ao Presidente Teodoro Obiang - no poder há mais de 43 anos - uma polémica vitória, validada pelo Tribunal Constitucional do país, que o reelegeu com 94,9% dos votos para um sexto mandato de sete anos.
"Parece haver pouca dúvida de que esta eleição não foi livre, nem justa. O fato de o atual Presidente ter assumido o cargo inicialmente através de um golpe militar e nos seus cinco mandatos - apesar de ter enriquecido a si mesmo e aos seus comparsas -, não ter feito nada para melhorar a vida do cidadão comum país é deprimente e uma farsa. Eu preocupo-me com a estabilidade contínua do país sob o seu Governo de mão pesada", disse Ray.
Em entrevista à Lusa, Charles Ray, que já serviu como embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) no Camboja e no Zimbábue, avaliou haver poucas dúvidas de que "não há apenas fraude sistemática, como também fraude e corrupção desenfreadas".
Para o diplomata, uma mudança no país terá de partir, em primeiro lugar, dos próprios cidadãos da Guiné Equatorial, e poderá ser alavancada por agrupamentos regionais no continente, como pela União Africana.
"Obiang deveria ser condenado ao ostracismo por outros líderes africanos e os Estados Unidos e os países da União Europeia deveriam ter pouco a ver com ele ou com os membros do seu Governo", advogou.
"Se os outros membros da União Africana e outros agrupamentos regionais no continente se recusarem a permanecer firmes contra a fraude e a corrupção, provavelmente pouco poderá ser feito para arrancar as mãos gananciosas da família das alavancas do poder", concluiu o diplomata, que foi também o primeiro cônsul-geral dos EUA na cidade de Ho Chi Minh, no Vietname.
Na terça-feira, o Governo norte-americano manifestou "sérias dúvidas" sobre a credibilidade dos resultados eleitorais na Guiné Equatorial.
"Tendo em conta o peso das irregularidades verificadas e os resultados anunciados que atribuem 94,9% dos votos ao PDGE (Partido Democrático da Guiné Equatorial), temos sérias dúvidas sobre a credibilidade dos resultados anunciados", realçou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, em comunicado.
Price expressou a preocupação de Washington com "práticas irregulares de apuramento" dos votos a favor do PDGE, como a contagem de votos fechados e de outros em que nem todos os partidos políticos estavam representados.
"Estas irregularidades violariam a lei da Guiné Equatorial", sublinhou o porta-voz da diplomacia norte-americana.
Teodoro Obiang, de 80 anos e o Presidente com mais tempo no poder no mundo, desde 1979, recebeu 405.910 dos 411.081 votos válidos como candidato do PDGE, que participou nas eleições em coligação com 14 formações políticas.
Em segundo lugar, de acordo com a contagem oficial, ficou o secretário-geral do Convergência para a Social-Democracia (CPDS, única força política de oposição autorizada), Andrés Esono, principal rival de Obiang na votação, com 9.684 votos.
Na terceira e última posição ficou o líder do Partido da Coligação Social Democrata (PCSD, tradicionalmente ligado ao PDGE), Buenaventura Monsuy Asumu, com 2.855 votos.
Depois de reeleito em 2016 com 93,7% dos votos, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo parecia estar, nos últimos anos, a preparar um sucessor, um dos seus filhos, o vice-presidente Teodoro Nguema Obiang Mangue, também conhecido por 'Teodorin', conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso e condenado em França no caso dos "ganhos ilícitos".
Mas os caciques do poder, bem como a guarda próxima de Teodoro Obiang, pensaram que era demasiado cedo e provocador impulsioná-lo oficialmente como sucessor, numa altura em que a queda nas receitas dos hidrocarbonetos desde 2014 e a pandemia de covid-19 estavam a tornar o país ainda mais dependente da ajuda e do financiamento externo.
O PDGE decidiu então, contra todas as probabilidades, não fazer nenhuma nomeação, apenas dois meses antes das eleições que o chefe de Estado tinha antecipado.
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