sábado, 12 de setembro de 2020

RESILIÊNCIA DA BANCA GUINEENSE FACE À PANDEMIA DO NOVO CORANAVÍRUS

Por: Aliu Soares Cassama 

O setor bancário tem um papel importante na economia guineense. No entanto, o peso dos seus ativos no Produto Interno Bruto do país situa-se abaixo da média da União Económica e Monetária Oeste Africana (UEMOA). 

Os bancos guineenses estão mais fortes para responder à atual crise, mas tudo dependerá da sua duração e da recuperação da economia.

A qualidade dos ativos e a liquidez são duas áreas em que a banca deverá sentir, de forma mais significativa, o impacto da pandemia da Covid 19.

A pandemia tem estado a ter um impacto significativo a nível global e obviamente que a Guiné-Bissau não está imune a estes impactos. A qualidade dos ativos é colocada em causa, desde a dívida pública às próprias aplicações. Podemos ter um aumento do risco dos devedores e isso terá um reflexo no crédito concedido. Quando a economia real sofre, os bancos sofrem também.

Nas situações de pandemia, as populações têm uma apetência natural para ter mas liquidez consigo, têm tendência a querer que as suas poupanças sejam mais líquidas e isso impacta os balanços dos bancos de uma forma directa.

A pandemia veio trazer aos cinco bancos (BAO, ORABANK, ECOBANK, BDU e BANCO ATLANTIQUE) uma alteração profunda no paradigma de fazer negócios, obrigando a fortes investimentos na arquitetura dos sistemas de informação e cibersegurança, bem como na criação de condições técnicas e tecnológicas para o regime de teletrabalho.

Apesar dos bancos disporem de planos de contingência e continuidade de negócios para situações de crise, a magnitude dos impactos dependerá de desenvolvimentos futuros, os quais não podem ser previstos com fiabilidade.

Os bancos estão confrontados a um risco acrescido sobre os ativos o que os torna vulneráveis aos riscos de contrapartida e consequentemente a uma diminuição da atividade.

Segue-se abaixo uma lista de alguns impactos imediatos da Pandemia da COVID 19 na actividade bancária guineense:

Redução do volume de atividade com a clientela em matéria de crédito, dos depósitos, das transferências e uma queda no Produto Líquido Bancário;

Aumento dos custos de exploração induzido pelas medidas de prevenção da pandemia;

Aumento dos riscos de crédito, operacional, de mercado e de liquidez e, consequentemente, diminuição significativa do resultado final do exercício; 

Incumprimento, reescalonamento e reestruturação de dívidas, o que poderá condicionar o risco de provisão;

Despesas não orçadas para fazer face à pandemia.

O Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO) decidiu  baixar, no dia 27 de março de 2020, as taxas de juros aplicadas às adjudicações semanais junto ao guichet marginal na ordem dos 2,5% com um volume suficiente de liquidez, no intuito de facilitar o acesso dos bancos comerciais às moedas centrais com um custo reduzido. O BCEAO, por conseguinte, instou os bancos da praça a apoiar o sector privado através da concessão de crédito e de moratórias no pagamento das dívidas. O setor bancário da zona UEMOA consegue aguentar o stress induzido pela pandemia devido ao fortalecimento da posição de capital próprio ocorrido nos últimos anos, como resultado das reformas regulatórias BASILEIA I e II. Mas não é suficiente. Falta fazer teste de stress aos 118 bancos que estão a operar na zona UEMOA para verificar como lidaram com o choque económico causado pela pandemia da Covid 19, direcionado à identificação de potenciais vulnerabilidades. Só assim é que podemos saber se os bancos guineenses estão resilientes ao stress induzido pela pandemia.

CONCLUSÕES:

Os bancos podem esperar um aumento do crédito malparado, apesar de ser ainda impossível fazer estimativas sobre a dimensão do agravamento no médio prazo;

Espera-se uma potencial desvalorização das carteiras de dívida pública, em particular para os segmentos bancários mais expostos a estes ativos, tendo em consideração o aumento das necessidades de financiamento das administrações públicas;

Apesar dos riscos decorrentes desta crise terem tido uma resposta rápida da parte do BCEAO, é preciso estar atento às vulnerabilidades que advêm sobretudo da recuperação económica.

Portanto, deixo aqui um aviso às autoridades competentes (BCEAO e governos dos Estados membros da UEMOA): Se a situação piorar em linha com as previsões mais pessimistas, as autoridades têm de se preparar para mais medidas de prevenção, nomeadamente a desalavancagem rápida e significativa da banca, o que poderá aprofundar a recessão e atingir severamente a qualidade dos ativos e da posição de capital do sistema financeiro.

Apenas uma contribuição enquanto bancário e guineense!

Por: Mestre Aliu Soares Cassama

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