sexta-feira, 10 de maio de 2024
São Tomé diz que é soberano e ninguém dita como se relacionar com Rússia
© Lusa
Por Lusa 10/05/24
O primeiro-ministro são-tomense disse hoje que o seu país é independente e soberano e que ninguém vai ditar como deve relacionar-se com a Rússia, assegurando que o acordo militar assinado está em vigor e vai ser efetivado.
"Nós somos independentes, soberanos, ninguém vai nos ditar como devemos nos relacionar com a Rússia", declarou Patrice Trovoada, a propósito da polémica gerada à volta de um acordo técnico-militar assinado com a Rússia, e que não tinha sido divulgado pelo executivo.
A assinatura do acordo "por tempo indeterminado" foi noticiada pela agência de notícias oficial russa Sputnik, que revelou que o acordo foi assinado em São Petersburgo em 24 de abril e começou a ser implementado em 5 de maio.
Segundo a imprensa russa, as duas partes acordaram cooperar nos domínios da formação conjunta de tropas, recrutamento de forças armadas, utilização de armas e equipamento militar, logística, intercâmbio de experiências e informações no quadro da luta contra a ideologia do extremismo e do terrorismo internacional, educação e formação de pessoal e prevê a participação em exercícios militares.
Na quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, disse que Portugal manifestou a São Tomé e Príncipe "estranheza" e "apreensão" pelo acordo de cooperação técnico-militar assinado com a Rússia.
"Acho que não há razões nenhumas para preocupações. É um acordo normal, habitual, que existe com vários países e sobretudo Portugal não tem razões para estar preocupado", reagiu hoje o primeiro-ministro são-tomense, sublinhando que o arquipélago tem uma "cooperação antiga" e "profunda" com Portugal.
Patrice Trovoada afirmou que, relativamente à guerra da Rússia com a Ucrânia, São Tomé e Príncipe "foi bastante claro" quanto ao seu posicionamento e lembrou que, numa das Assembleias das Nações Unidas, ele próprio deu "procuração a Portugal para votar em nome de São Tomé e Príncipe contra a Rússia".
"Entre Portugal e São Tomé e Príncipe as coisas vão bem e, como se diz, no amor não é só dizer eu te amo, mas nós já demos provas suficientes de amor", referiu o chefe do Governo são-tomense.
Patrice Trovoada assegurou que o acordo está em vigor, tal como anunciado pela imprensa russa, desde 05 de maio, mas vai seguir os procedimentos internos para a sua efetivação.
"Do nosso lado as coisas estão claras, estão tranquilas e não é um acordo que merece tanta polémica. Assina-se um acordo, ele está em vigor, o acordo depois irá passar por todo uma série de trâmites para entrar em efetivação, por isso a polémica não está aí", disse Patrice Trovoada.
Na quarta-feira, o presidente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), líder da oposição são-tomense, criticou "o secretismo" com que o Governo assinou o acordo militar com a Rússia, vaticinando consequências na relação com a União Europeia e os Estados Unidos.
"Trata-se de um acordo que em momento nenhum ouvimos qualquer comunicado do Conselho de Ministros a fazer alusão. Um acordo desta envergadura, numa área bastante sensível e atendendo ao contexto mundial neste momento, penso que exige interação entre os vários órgãos de soberania, portanto Governo, Presidência da República e conhecimento da Assembleia Nacional, para a aprovação e a sua ratificação pelo Presidente da República", defendeu o líder da oposição são-tomense, Jorge Bom Jesus.
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Embaixador da EU: “VAMOS APOIOR A GUINÉ-BISSAU NA OBTENÇÃO DE CERTIFICADO DE EXPORTAÇÃO DE PEIXE PARA EUROPA”
O DEMOCRATA 10/05/2024
O Embaixador da União Europeia (EU) na Guiné-Bissau, Artis Bertulis, reafirmou o compromisso “inabalável da UE em apoiar o país na obtenção da certificação de produtos haliêuticos para a exportação para o mercado da União Europeia.
“Saliento o desmedido trabalho que temos vindo a fazer para reforçar a nossa parceria no domínio das pescas, que, estou seguro, trará resultados positivos e visíveis muito em breve”, disse.
“Reafirmo o compromisso inabalável da UE em apoiar a Guiné-Bissau na obtenção da certificação dos seus produtos haliêuticos para a exportação para o mercado da União Europeia. Sabemos da importância estratégica desta medida para a Guiné-Bissau e é por isso que nada nos deterá nesta missão comum”, afirmou Artis Bertulis.
Bertulis discursava no ato da celebração do “Dia da Europa”, que foi assinalado esta quinta-feira, 09 de maio de 2024, nas instalações da delegação da UE em Bissau, na qual saudou assinatura do Acordo de Samoa entre a UE e a Guiné-Bissau, em fevereiro último, para as relações da União Europeia com os países de África, Caraíbas e Pacífico.
“Este acordo, que conecta mais de metade dos membros da ONU em torno de prioridades e interesses comuns, será a base da cooperação externa da UE no futuro. Estou seguro de que, ao abrigo deste novo instrumento, poderemos reforçar a nossa já histórica e forte parceria bilateral em várias áreas, incluindo infraestruturas, pescas, governação, alterações climáticas e, também, saúde, aeducação e segurança”, acrescentou.
Falando na presença de vários embaixadores acreditados na Guiné-Bissau, do primeiro-ministro, Rui Barros e de alguns membros do governo, Bertulis assegurou que a UE continuará focado em alguns dos mesmos objetivos, em particular em apoiar o governo na diversificação da sua economia, em melhorar as condições de acesso a mercados de alto rendimento e à infraestruturação do país.
Em reação, o chefe do governo, Rui Barros lembrou que a UE tem mantido ao longo dos últimos 48 anos, uma parceria sólida com a Guiné-Bissau, que se tem traduzido num abrangente programa de cooperação baseado nomeadamente: no desenvolvimento humano, crescimento verde dos setores produtivos, a estabilidade e a boa governação.
Segundo explicações de Barros, os setores das infraestruturas e das pescas têm merecido destaque nas ações da cooperação entre a Guiné-Bissau e a UE.
“Contamos visitar brevemente alguns projetos financiados pela UE e prestes a serem concluídos, contribuindo de forma clara e substancial no processo de desenvolvimento do nosso país. O executivo da Guiné-Bissau considera a UE uma parceira privilegiada e tem acarinhado esta cooperação que ao longo dos últimos anos tem conhecido um significativo avanço com o alargamento dos seus horizontes”, disse.
Na sua curta intervenção, o primeiro-ministro reafirmou a firme determinação da Guiné-Bissau em estreitar os laços de cooperação entre a Guiné-Bissau e a UE.
Durante a celebração do Dia da Europa, a cantora guineense, Eneida Marta interpretou os hinos da Guiné-Bissau e da UE. O pintor guineense, Sidney Cerqueira fez uma pintura ao vivo, na qual simboliza o vínculo entre a UE e a Guiné-Bissau.
De salientar que a Guiné-Bissau tem mantido ao longo dos anos uma boa cooperação bilateral com a UE, particularmente no domínio das pescas, em que o país recebe uma compensação anual de 15,6 milhões de euros, e a formação de quadros.
Por: Alison Cabral
Senado aprova pena de morte por tráfico ou consumo de droga na Nigéria
© iStock
Por Lusa 10/05/24
O Senado nigeriano aprovou um projeto de lei que contempla a aplicação da pena de morte a condenados por tráfico ou consumo de drogas, até agora punidas com prisão perpétua.
O projeto de lei - que aguarda agora a ratificação do Presidente, Bola Tinubu - denominado "National Drug Law Enforcement Act 2024", recebeu o apoio dos senadores em terceira leitura e prevê a pena capital para quem importar, fabricar, produzir, processar ou vender drogas duras, como cocaína ou heroína.
O líder do Senado, Ali Ndume, disse que a prisão perpétua para estes crimes deveria ser "endurecida" e "alterada para a pena de morte", de acordo com o diário nigeriano Punch.
"Esta é a norma mundial. Temos de o fazer para resolver o problema da droga, que tem afetado gravemente os nossos jovens", afirmou, defendendo: "Tem de ser mais dura do que a prisão perpétua. Deveria ser a pena de morte, por enforcamento ou por outros métodos", defendeu.
No entanto, os senadores que se opõem à alteração da legislação manifestaram preocupação com o caráter irreversível deste tipo de sentença e com a possibilidade de pessoas inocentes serem condenadas.
Fontes policiais citadas pelo Punch afirmaram que a alteração "enviaria uma mensagem forte aos traficantes e consumidores de droga".
O projeto de lei foi agora enviado ao gabinete de Tinubu, que ainda não deu o seu consentimento para que a lei seja promulgada.
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O ataque de um 'drone' ucraniano registado hoje de manhã provocou um incêndio numa refinaria na região de Kaluga, a cerca de 200 quilómetros de Moscovo, garantiu o governador da região, Vladislav Shapsha.
© YASUYOSHI CHIBA/AFP via Getty Images
Por Lusa 10/05/24
'Drone' ucraniano provoca incêndio em refinaria russa
O ataque de um 'drone' ucraniano registado hoje de manhã provocou um incêndio numa refinaria na região de Kaluga, a cerca de 200 quilómetros de Moscovo, garantiu o governador da região, Vladislav Shapsha.
O incêndio já foi apagado e as equipas de emergência estão a avaliar os danos causados às infraestruturas, mas não foi há feridos já que os trabalhadores foram retirados do local, adiantou o governador numa mensagem publicada na rede Telegram.
As autoridades da região de Bashkiria relataram na quinta-feira um ataque semelhante de 'drones' (aeronaves não tripuladas) contra a fábrica petroquímica da empresa estatal Gazprom na cidade de Salavat.
A Ucrânia causou, nos últimos meses, grandes danos a refinarias de toda a Rússia europeia, numa tentativa de impedir o fornecimento de combustível às tropas que lutam no país vizinho.
Com maior ou menor sucesso, Kiev já atacou as refinarias em Nizhny Novgorod -- uma das maiores da Rússia -, de Rostov, de Samara e de Krasnodar.
O Ministério da Defesa também informou esta manhã ter intercetado, nas últimas horas, sete 'drones' inimigos na região de Moscovo e nas áreas fronteiriças, em Belgorod e Bryansk.
O presidente da câmara de Moscovo, Sergei Sobyanin, confirmou a interceção de um 'drone' através do sistema antiaéreo localizado na cidade de Podolsk, a pouco mais de 20 quilómetros da capital.
Segundo as autoridades locais, duas mulheres foram mortas na quinta-feira à noite nas regiões fronteiriças de Kursk e Belgorod em ataques de artilharia ucraniana.
O Presidente russo, Vladimir Putin, prometeu esta semana aos comandantes dos batalhões que lutam na Ucrânia que o Kremlin pretende fabricar grandes quantidades de 'drones' aéreos, aquáticos e subaquáticos, uma área em que Kiev tem uma clara vantagem.
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Indonésia: Um jovem conheceu a sua cara metade através das redes sociais, casou-se e só depois percebeu que a mulher era, afinal, um homem
© Sederet Kelakuan Aneh Adinda Kanza Usai Menikah Bikin Mertua Curiga
Por Notícias ao Minuto 10/05/24
Homem casa com mulher que conheceu online e descobre 'segredo'
Família do vítima foi quem descobriu a verdade.
Um jovem conheceu a sua cara metade através das redes sociais, casou-se e só depois percebeu que a mulher era, afinal, um homem.
O
caso aconteceu na indonésia e é contada pelo próprio protagonista sob o
nome de AK. Este conta, citado pelo 20 minutos, que conheceu a sua
companheira através da internet, local onde criaram as bases para a sua
relação.
Os dois conheceram-se pessoalmente antes de casar e
apesar de AK admitir que a namorada possuía algumas características
peculiares nunca desconfiou que esta estava a esconder alguma coisa. A
mulher, por exemplo, surgia quase sempre de véu no rosto, algo que o
homem assumiu que seria resultado da sua timidez.
Assim, AK
acabou por pedir a companheira em casamento. Esta aceitou mas impôs
algumas regras. Entre elas pedia que o matrimónio não fosse registado,
uma vez que a mãe morrera e não sabia do paradeiro do pai, situação que a
deixava triste porque não tinha quem convidar para a festa. E pediu ao
homem que se afastasse da sua família.
Foi esta ultima condição
que levou a família de AK a desconfiar do que se estava a passar e a
querer investigar o passado do novo membro da família, tendo percebido
que esta, afinal, apresentava-se com uma entidade falsa e era, no final
de contas, um homem.
Este foi detido e perante a justiça admitiu
que o seu objetivo era extorquir dinheiro ao companheiro. O suspeito foi
acusado e pode cumprir uma pena de prisão de quatro anos pelo crime.
José Carlos Macebo Monteiro alto dirigente do MADEM-G15 reage contra a sua suspensão no partido em São Domingos
União Europeia celebra 74 anos d existência.
Na Guiné-Bissau, 9 de maio foi assinalado no quadro da cooperação alicerçada na promoção de valores universais. Foram 48 anos de relações que se mantêm através de parcerias traduzidas em projetos abrangentes, afirmou o PM, Rui Duarte Barros.
Rússia pode contar com Guiné-Bissau como aliado permanente
© Lusa
Por Lusa 09/05/24
O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, garantiu hoje ao seu homólogo russo, Vladimir Putin, que o seu país pode contar com a Guiné-Bissau "como aliado permanente".
Sissoco Embaló encontra-se na Rússia como convidado para assistir às comemorações do Dia da Vitória, hoje celebrado.
As declarações de Embaló, numa conferência de imprensa com Putin, foram disponibilizadas pela presidência guineense.
"A Rússia pode contar com a Guiné-Bissau como um aliado permanente, isso não mudará nunca", afirmou o Presidente guineense.
Umaro Sissoco Embaló agradeceu a Putin "todo o apoio" que a Guiné-Bissau recebeu da antiga União Soviética, durante a luta armada pela independência, e salientou que essa contribuição é mais visível nas Forças Armadas.
"Na Guiné-Bissau mais de 70% dos nossos quadros militares foram formados na antiga URSS para ver qual a ligação que há entre nós e a Rússia", declarou Embaló.
Como exemplo, o Presidente guineense apontou para dois dos elementos que compõem a sua delegação, o seu conselheiro político, Fernando Delfim da Silva, e o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Biague Na Ntan.
Ambos, salientou Embaló, fizeram a sua formação superior nas academias russas.
O Presidente guineense instou Vladimir Putin a visitar a Guiné-Bissau assim que fizer um périplo por África e ainda apelou a que o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov visite Bissau.
"Já recebemos todo o mundo, mas nós na Guiné-Bissau só recebemos o vosso embaixador. Agora estamos à espera de receber alguém ao nível do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei (Lavrov) e outros responsáveis russos", defendeu Embaló.
O Presidente guineense notou que tinha deixado para o encontro à porta fechada com Putin a discussão sobre as necessidades do seu país e as parcerias que poderão ser desenvolvidas entre a Guiné-Bissau e a Rússia.
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quinta-feira, 9 de maio de 2024
Presidente da República, General Umaro Sissoco Embaló, nas celebrações do Dia da Vitória, na Russia.
Deputado guineense detido com cocaína no aeroporto de Lisboa Lusa
O deputado Manuel Lopes presidiu a Federação de Futebol da Guiné-Bissau durante oito anos, tendo sido destituído em 2020 pela FIFA Foto: DW/B. Darame
DW,COM/PT 09/05/2024
Manuel Lopes foi detido no aeroporto de Lisboa, Portugal, com 13 quilogramas de cocaína. É o segundo caso de suspeita de tráfico de droga por parte de individualidades guineenses detidas em Lisboa nas últimas semanas.
Um deputado guineense foi detido na terça-feira (07.05) no aeroporto de Lisboa com 13 quilogramas de cocaína e deverá ser hoje ouvido em primeiro interrogatório para aplicação de medidas de coação, disse fonte judicial à agência Lusa.
Este é o segundo caso de suspeita de tráfico de droga por parte de individualidades guineenses detidas no Aeroporto de Lisboa nas últimas semanas.
O Procurador Eduardo Mancanha, que se encontrava de licença de serviço para estudar em Portugal, há mais de três anos, foi detido no passado dia 21 de abril “em flagrante delito” na posse de dois quilogramas de um produto que se presume ser droga, segundo um comunicado do Conselho Superior de Magistratura do Ministério Público guineense, emitido dia 25, no qual foi anunciada a sua suspensão de funções.
O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, lamentou a detenção de Mancanha, sublinhando que o caso está a ser tratado entre as magistraturas dos dois países.
O jornal guineense O Democrata refere que o deputado Manuel Irénio Lopes, conhecido como “Manelinho”, é “um empresário que investe no setor da pedreira” e também dirigente político, fazendo parte dos 15 deputados dissidentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que, em 2015, criaram o MADEM-G 15, a segunda maior força política do país.
Manuel Lopes presidiu à Federação de Futebol da Guiné-Bissau durante oito anos, tendo sido destituído em 2020 pela FIFA, após ter sido considerado culpado por ter “falhado na proteção da integridade física e mental de um homem vítima de um ataque em massa”, e ficou impedido de manter ligações à modalidade durante 10 anos, acrescenta o jornal.
Rússia celebra o terceiro Dia da Vitória sem vitórias para Putin
Militares russos realizam ensaio geral para o desfile do Dia da Vitória (EPA/LUSA)
João Guerreiro Rodrigues Cnnportugal.iol.pt 09/05/2024
Rússia prepara-se para celebrar o terceiro Dia da Vitória desde que começou a guerra na Ucrânia e o seu significado está a mudar diante dos nossos olhos
Para a Rússia, o dia 9 de maio é uma data complexa. O Dia da Vitória é uma data que celebra não só os sacrifícios feitos pela União Soviética no combate aos nazis, durante a Segunda Guerra Mundial, mas também serve como uma demonstração de poder militar e da grandeza da Rússia. Só que desde 2022 que os russos têm traçado a conquista de vários territórios ucranianos para coincidirem com esta data, mas Vladimir Putin não tem tido muito para apresentar ao país.
Este ano, a chefia militar russa definiu a conquista da cidade de Chasiv Yar como um dos principais objetivos para a data. Esta cidade ucraniana, vizinha de Bakhmut, está a aguentar há semanas alguns dos mais violentos bombardeamentos que atingem a linha da frente. Em abril, o próprio comandante-chefe da Ucrânia, Oleksandr, Syrskyi, admitia que a situação neste ponto da frente tinha “deteriorado significativamente”, depois de a Rússia ter definido a conquista desta cidade até ao dia 9 de maio.
O motivo era claro. Para a Rússia, esta cidade é vital para os seus objetivos na região do Donbass. Apesar de pequena, Chasiv Yar, que tinha apenas 12 mil habitantes antes da guerra começar, serve de nó logístico para o exército ucraniano na frente de Bakhmut. É a partir desta localidade que é distribuído todo o equipamento para as unidades que se encontram nesta frente.
Se a Rússia a conseguisse conquistar, colocava em causa o apoio logístico de toda a região, o que podia permitir ao exército russo aumentar a pressão nesta área. Se isso acontecer, a Rússia fica com o caminho aberto para Kostiantynivka, Druzhkivka, Kramatorsk e Sloviansk, os últimos grandes bastiões de Donetsk.
Nas últimas semanas de abril, a situação parecia mesmo ser uma possibilidade realista, com a Rússia a explorar a falta de munições antiaéreas e de artilharia ucranianas. Mas após a aprovação do pacote de ajuda militar norte-americano, os soldados ucranianos têm conseguido conter os ataques dos mais de 25 mil soldados russos que se encontram na região.
Não é a primeira vez que a Rússia estabelece metas de conquista territorial para o dia 9 de maio. Durante dez meses, Moscovo atirou tudo o que tinha para tentar conquistar a cidade de Bakhmut. Foi no início de 2023, quando o Grupo Wagner intensificou as suas operações na cidade, levando a algumas das mais sangrentas batalhas de toda a guerra, e que seriam decisivas para o desfecho de Yevgeny Prigozhin, icónico líder do grupo paramilitar. Segundo fontes ocidentais, a Rússia chegou a sofrer 60 mil baixas, entre as quais 20 mil mortos. Foi preciso esperar até ao dia 20 de maio para a cidade cair nas mãos russas.
E isso teve repercussões nas celebrações em Moscovo. Todos os anos, centenas de carros de combate desfilam nas ruas da capital. Mas, se na parada de 2022, o T-34, um icónico carro de combate muito utilizado na Segunda Guerra Mundial, foi acompanhado por vários dos mais modernos T-90 e T-14, o mesmo não aconteceu na cerimónia do ano passado. Nenhum destes modelos esteve presente, devido à intensificação do conflito. Em vez disso, o T-34 foi acompanhado por uma coluna de veículos de combate polivalentes, mas muito menos valiosos, o Tigr.
De fora ficou também a habitual passagem aérea sobre a Praça Vermelha, apesar de as previsões meteorológicas apontarem para um céu relativamente limpo sobre Moscovo.
Visíveis estiveram apenas os habituais elementos de propaganda militar russa, os lançadores de mísseis balísticos intercontinentais Yars, que fazem parte do arsenal nuclear de Moscovo, e o sistema de defesa aérea S-400, que a Rússia descreve como sendo o mecanismo mais evoluído do mundo.
Ao invés de demonstrar o seu poderio militar, numa altura difícil no campo de batalha, Vladimir Putin focou-se em apresentar-se como salvador e defensor de uma Rússia em apuros, alvo das “elites globalistas” do Ocidente. “Hoje, a civilização está novamente num ponto de rutura”, disse Putin. “Mais uma vez, foi desencadeada uma verdadeira guerra contra a nossa pátria”.
Em 2022, a expectativa era diferente. Embora não houvesse um objetivo geográfico delineado, uma vez que a Rússia ainda contava manter grande parte do território ucraniano, um medo pairava no ar. Várias fontes ocidentais temiam que o presidente russo declarasse formalmente guerra à Ucrânia a 9 de maio, decisão que permitiria a mobilização total das forças de reserva da Rússia, numa altura em que estas ainda não tinham sido convocadas.
Este ano, a expectativa mantém-se, mas com uma “conta” cada vez mais pesada para apresentar ao povo russo. Segundo o ministro das Forças Armadas do Reino Unido, Leo Docherty, a Rússia conta com mais de 450 mil baixas, entre os quais 150 mil mortos. Mas as perdas materiais também são significativas, com as fontes ocidentais a estimarem que mais de dez mil veículos blindados tenham sido destruídos pela Ucrânia.
A cada ano que passa, assistimos ao regime de Vladimir Putin a moldar um dos principais mitos coletivos russos em algo completamente diferente. “Eles transformaram este mito unificador que a Rússia tinha numa justificação para uma guerra real”, afirma Maxim Trudolyubov, um jornalista russo. “Isto virou subtilmente tudo de cabeça para baixo – transformou um culto à vitória num culto à guerra.”
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